Dólar abre acima de R$ 5 pela primeira vez na história
O dólar superou os 5 reais pela primeira vez logo após a abertura desta quinta-feira, subindo mais de 6%, com os mercados tomados pela aversão a risco depois que o presidente norte-americano, Donald Trump, proibiu viagens da Europa para os Estados Unidos, agravando as preocupações sobre o impacto econômico do coronavírus.
A disparada aconteceu apesar do anúncio do Banco Central de leilão de venda à vista de até 2,5 bilhões de dólares para esta quinta-feira, cancelando o anúncio de venda de até 1,5 bilhão feito no dia anterior.
Às 9:22, o dólar avançava 2,90%, a 4,9590 reais na venda. O contrato mais negociado de dólar futuro tinha alta de 3,88%, a 5,0105 reais.
“Hoje, os mercados financeiros dão sequência ao caos instalado em função da expansão do coronavírus pelo mundo”, disse em nota a Correparti Corretora.
“Ontem, a OMS reconheceu a enfermidade como uma pandemia, o que serviu para aprofundar o sentimento de fuga do risco pelos investidores. Além disso, a proibição dada pelo presidente norte-americano (…) serve para aprofundar ainda mais o desmonte dos mercados.”
No exterior, a cautela generalizada impulsionava o dólar contra boa parte das divisas arriscadas, como rand sul-africano, lira turca, peso mexicano, dólar australiano e iuan chinês, que avançavam entre 0,7 e 3,7%. Enquanto isso, iene japonês e franco suíço, ativos considerados seguros, ganhavam contra a moeda norte-americana.
Somado à tensão internacional, o “fato de Congresso e governo domésticos estarem em conflito aumenta pressão” sobre o real, de acordo com Jefferson Laatus, sócio fundador do grupo Laatus.
O Congresso Nacional derrubou na quarta-feira veto presidencial a projeto que amplia o acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), em um momento de acirramento da relação entre o Congresso e o Executivo tendo como pano de fundo a disputa pelo controle de recursos relacionados ao Orçamento Impositivo.
Na semana passada, questionado por jornalistas sobre a possibilidade de a cotação do dólar chegar a 5 reais, o ministro da Economia, Paulo Guedes havia dito que “muita besteira” deveria ser feita para patamar poder ser alcançado.
Nesta quinta-feira, Guedes disse que falou “no sentido de besteira cometida por presidente, ministro, oposição, Congresso, e é exatamente sinal como esse”.
Em meio à disparada da moeda norte-americana, o Banco Central realizou nesta quinta-feira leilão de venda à vista de até 2,5 bilhões de dólares, em que vendeu 1,278 bilhão de dólares depois de cancelar o anúncio de venda de até 1,5 bilhão de dólares feito no dia anterior.
Depois de não conseguir vender o total da oferta, o BC anunciou novo leilão de até 1,25 bilhão de dólares em moeda à vista, vendendo apenas 332 milhões de dólares e, em seguida, outro leilão de até 1 bilhão em que nenhuma proposta foi aceita.
“O Banco Central não conseguiu vender tudo ofertado nos leilões porque não há demanda na ponta à vista. Está tendo demanda no (dólar) futuro, uma medida de proteção”, disse Jefferson Laatus.
“Muita coisa vai acontecer ainda no dia de hoje, e a tendência é ver o BC fazendo vários leilões.”
Na última sessão, a moeda norte-americana fechou em alta de 1,61%, a 4,7207 reais na venda, segunda mais alta cotação de fechamento da história. Esta é o 15° pregão de alta do dólar em 17 sessões.
(Atualizada às 11h10 – horário de Brasília)