Dólar à vista sobe a R$ 5,63 com leilões do BC, risco fiscal e Campos Neto; moeda tem leve queda em agosto
O último pregão de agosto fez jus à agitação do mês com a divulgação de dados econômicos no Brasil e nos Estados Unidos, além de duas intervenções no câmbio pelo Banco Central. O dólar à vista (USDBRL) fechou em alta pela quinta vez consecutiva.
Na comparação com o real, moeda norte-americana encerrou as negociações a R$ 5,6350 (+0,21%). Durante o dia, o dólar teve máxima intradia a R$ 5,6919 (+1,22%).
O desempenho do dólar acompanhou o exterior. O indicador DXY, que compara o dólar a uma cesta de seis divisas globais, fechou com alta de 0,35%.
- Como proteger os seus investimentos: dólar e ouro são ativos “clássicos” para quem quer blindar o patrimônio da volatilidade do mercado. Mas, afinal, qual é a melhor forma de investir em cada um deles? Descubra aqui.
Na semana, o dólar avançou 1,84%, com fechamento em alta em todos os pregões. Mas em agosto, a divisa norte-americana acumulou queda de 0,36%.
O que mexeu com o dólar hoje?
O alta do dólar foi contida por dois leilões do Banco Central, em um dia movimentado.
O primeiro foi realizado pela manhã, no qual o BC vendeu 1,5 bilhão de dólares em leilão no mercado à vista.
Já no início da tarde, o BC vendeu 15.300 contratos de swap cambial tradicional (US$ 765 milhões), de um total de 30.000 contratos (US$ 1,5 bilhão de dólares) ofertados em operação extra realizada no mercado de câmbio.
Essa segunda intervenção tem efeito equivalente à negociação de dólares no mercado futuro — o segmento mais líquido no Brasil e, no limite, o que determina as cotações no mercado à vista.
As intervenções no câmbio aconteceram por, pelo menos, dois motivos. Houve a expectativa de fluxo de saída de capital com o rebalanceamento do índice EWZ (MSCI Brazil ETF), que passará a incluir ações brasileiras listadas no exterior, como XP e Nubank.
O outro fator foi a volatilidade do câmbio para a formação da taxa Ptax de fim de mês, que serve de referência para a liquidação de contratos futuros no início de setembro.
Em evento, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a autoridade monetária pode fazer mais intervenções no câmbio, caso necessário.
“A gente está tendo um movimento de fluxo atípico por um rebalanceamento de um índice. Cabe ao BC mapear qual o tamanho desse desbalanceamento, quanto precisa para suprir esse fluxo que é atípico. A gente também está olhando a diferença do que a gente entende que é um descolamento muito grande dos fundamentos, às vezes por critério de liquidez, às vezes por ruídos de curto prazo”, disse durante a Expert XP.
“A gente está mapeando, se for preciso mais intervenções, assim faremos”, acrescentou Campos Neto ao ressaltar que o BC tem reservas suficientes para intervir no câmbio quando for necessário.
Preocupação com fiscal e dados do mercado de trabalho
Além das intervenções no câmbio, o mercado doméstico reagiu a uma série de dados econômicos divulgados nesta sexta-feira (20).
O setor público consolidado (governo central, Estados, municípios e estatais, excluindo de Petrobras e Eletrobras) registrou déficit primário de R$ 21,3 bilhões em julho, pior que o esperado pelo mercado.
Em 12 meses, o primário consolidado foi de um déficit de 2,4% em junho para um déficit de 2,3% do PIB em julho, sendo uma queda de 2,4% no governo central de acordo com a definição do BC e alta de 0,1% nos estados, municípios e estatais.
Na avaliação do Itaú BBA, a arrecadação tem se mostrado forte, mas os riscos fiscais continuam elevados, considerando o crescimento de gastos obrigatórios acima do limite definido no arcabouço fiscal e a dificuldade em obter uma trajetória de convergência de resultados primários.
“Com os dados preliminares indicando uma nova surpresa altista nos gastos com Previdência em julho e agosto em relação ao esperado pelo governo, será fundamental um novo bloqueio de despesas no relatório bimestral de setembro para garantir o cumprimento do limite de despesas em 2024”, escreve o economista Thales Guimarães, em relatório.
A taxa de desemprego no Brasil ficou em 6,8% nos três meses até julho, em linha com o esperado por economistas e marcando o menor nível para o período desde o início da série do governo, em 2012, evidenciando a força do mercado de trabalho no país em um momento em que o Banco Central tem reiterado surpresa com a força da atividade econômica.
Além disso, o sumário executivo do Projeto de Lei Orçamentária de 2025 esteve no radar do mercado.
Nos bastidores do Congresso, o acordo sobre emendas continua a gerar tensão, enquanto o debate sobre a sucessão na presidência da Câmara ganha força — Elmar Nascimento (União Brasil-BA) é o nome mais cotado, mas atual presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), ainda não anunciou quem apoiará.
O exterior também contribuiu para alta do dólar.
O Índice de Preços de Gasto com Consumo (PCE, na sigla em inglês) avançou 0,2% no mês de julho, em linha com o esperado. Na comparação anual, o PCE foi a 2,5%, levemente abaixo do previsto, mas acima da meta de 2% perseguida pelo Federal Reserve (Fed).
Após o dado, o mercado reforçou a expectativa de que o Fed inicie o ciclo de afrouxamento monetário nos Estados Unidos com um corte de 0,25 pontos-base nos juros em setembro.
Segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group, as chances de corte de menor magnitude, que levaria os juros norte-americanos a faixa de 5,00% a 5,25% ao ano, são de 69,5%. Ontem (29), a probabilidade era de 66%.
Já as apostas de redução de 50 pontos-base, o que traria os juros ao intervalo de 4,75% a 5,00%, caíram de 34% (ontem) para 30,5% hoje após o dado de inflação.
O Fed se reúne entre os dias 17 e 18 de setembro.