Dólar vai abaixo de R$ 5,15 com expectativa por eleições e esperanças de Fed mais brando
O dólar (USDBLR) recuou mais de 1% em relação ao real nesta sexta-feira, abatido por movimento global de procura por risco em meio a esperanças de desaceleração do ritmo de aperto monetário do banco central dos Estados Unidos, enquanto a percepção de acirramento das eleições presidenciais brasileiras forneceu apoio adicional à divisa doméstica.
A moeda norte-americana à vista fechou em baixa de 1,29%, a 5,1496 reais na venda, maior depreciação diária desde o tombo de 4,025% registrado no último dia 3 e menor patamar para encerramento desde 22 de setembro (5,1157 reais).
Na semana, o dólar acumulou queda de 3,27%.
Na B3 (B3SA3), onde os negócios vão além das 17h (horário de Brasília) o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 1,33%, a 5,1550 reais.
Parte da desvalorização do dólar, de acordo com Bruno Mori, economista e planejador financeiro pela Planejar, foi reflexo do aparente acirramento na disputa pelo Palácio do Planalto, depois que pesquisas de intenção de voto recentes mostraram redução na diferença entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL).
“O mercado prefere a continuidade da atual gestão econômica; especialmente na questão de privatizações, prefere a continuidade de um trabalho que já vem sendo feito contra algo que ainda não é claro”, afirmou Mori. “A aceleração dele (Bolsonaro) nas últimas pesquisas tem trazido otimismo ao mercado, então isso reflete não só no dólar, mas na bolsa também.”
O Ibovespa (IBOV) avançou mais de 2% nesta sexta-feira e registrou melhor desempenho semanal desde novembro de 2020.
A agenda econômica do atual presidente é vista como muito mais liberal quando comparada à de Lula.
No entanto, economistas têm alertado que ambos os candidatos ao Planalto podem precisar flexibilizar as regras fiscais do país no ano que vem caso sejam eleitos, de forma a cumprir promessas de gastos feitas durante suas respectivas campanhas.
Enquanto isso, oferecendo apoio adicional à moeda brasileira nesta sessão, o dólar registrava amplas perdas no exterior, com seu índice frente a uma cesta de pares fortes caindo quase 1% nesta tarde, em linha com queda nos rendimentos dos títulos soberanos dos Estados Unidos e disparada dos principais índices de Wall Street.
Investidores encontraram algum conforto em reportagem do Wall Street Journal de que o banco central dos EUA começará a debater planos de desacelerar seu ritmo de aperto monetário em dezembro, depois de um provável quarto aumento consecutivo de 0,75 ponto percentual nos juros em seu encontro de novembro.
Corroborou essa expectativa a fala da presidente do Federal Reserve de San Francisco, Mary Daly, que disse nesta sexta-feira que é hora de o BC norte-americano começar a falar em diminuir o ritmo das altas nos custos dos empréstimos.
Juros mais altos nos EUA tornam o mercado de renda fixa norte-americano mais rentável, o que, de modo geral, atrai recursos estrangeiros e beneficia o dólar globalmente.
Desta forma, explicou disse Mori, da Planejar, uma eventual desaceleração do ritmo de aperto é vista como prejudicial para a moeda norte-americana, especialmente em relação a pares de países emergentes, que oferecem retornos maiores.
No Brasil, a taxa Selic está atualmente em 13,75%, nível que torna o real muito atraente para estratégias de “carry trade”, que consistem na tomada de empréstimo em país de juro baixo e aplicação desses recursos em mercado de retornos mais altos.
O Bank of America disse em relatório desta sexta-feira que, se há um lado positivo para os mercados de câmbio de países emergentes em meio a um cenário externo ainda adverso, diante de temores de aperto monetário e recessão, “seria a sensação de que as autoridades de mercados emergentes estão fazendo um trabalho melhor ao coordenar suas políticas fiscais e monetárias”, notando a rapidez dos BCs emergentes em aumentar os juros.
O dólar cai 7,6% frente ao real até agora em 2022, com a divisa brasileira ostentando o melhor desempenho no acumulado do ano entre uma cesta dos principais pares da moeda norte-americana.
No mesmo período, o índice do dólar contra uma cesta de pares fortes dispara quase 17%.
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