Dólar fecha abaixo de R$ 5,20 com cena local benigna compensando cautela externa
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O dólar (USDBLR) recuou frente ao real nesta segunda-feira, dando sequência a uma tendência de desvalorização recente na esteira do primeiro turno das eleições presidenciais brasileiras, na contramão do avanço da moeda norte-americana no exterior diante de temores globais de aperto monetário e escalada nas tensões geopolíticas.
A moeda norte-americana à vista caiu 0,42%, a 5,1921 reais, depois de chegar a cair 0,98% no menor patamar do pregão, a 5,1631 reais, em meio a liquidez reduzida depois que um feriado nos Estados Unidos nesta segunda-feira manteve o mercado de Treasuries fechado.
No Brasil, o Dia de Nossa Senhora Aparecida interromperá as negociações locais na quarta-feira.
Na B3 (B3SA3), onde os negócios vão além das 17h (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,25%, a 5,2115 reais.
A desvalorização da moeda norte-americana no mercado local veio na contramão do avanço de um índice do dólar contra uma cesta de seis pares fortes, que subia 0,3% nesta tarde.
Alguns pares emergentes do real, como os pesos mexicano e colombiano, também registraram ganhos nesta segunda-feira, mas a ritmo mais tímido na comparação com a apreciação da divisa brasileira.
“O real (está) descolando um pouco do mundo. O real tem performado melhor que as outras moedas e hoje não foi um dia diferente”, disse Francisco Levy, estrategista-chefe da Empiricus Investimentos.
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O bom humor no mercado de câmbio local ficou claro na semana passada, quando o dólar acumulou queda de 3,34% frente ao real, seu maior tombo semanal em mais de dois meses, numa tendência de depreciação desencadeada pelo primeiro turno das eleições presidenciais.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o mais votado no pleito de domingo retrasado, mas disputará um tenso segundo turno com o atual presidente Jair Bolsonaro (PL), que teve desempenho superior ao estimado pelas principais pesquisas de opinião. Investidores também se tranquilizaram após a formação de um Congresso significativamente alinhado a pautas conservadoras e liberais.
“Os resultados… foram percebidos como não necessariamente uma redução da probabilidade de uma vitória de Lula, mas potencialmente uma diminuição da chance de uma mudança desestabilizadora em direção a uma política (fiscal) heterodoxa no Brasil”, disse o Goldman Sachs (GS) em relatório desta segunda-feira. Isso desencadeou, ainda que parcialmente, um “ciclo virtuoso” nos mercados locais de câmbio e juros, avaliou o banco.
“Alguns investidores macro possivelmente esperavam por uma redução na incerteza eleitoral antes de se engajarem mais ativamente com uma narrativa macroeconômica positiva no Brasil”, disse o Goldman Sachs no documento, acrescentando que o real também tende a se beneficiar da perspectiva de manutenção dos juros locais em patamar elevado por um período prolongado.
A taxa Selic está atualmente em 13,75%, após um ciclo intenso e antecipado de aperto monetário que tirou os juros básicos do menor valor histórico de 2% atingido durante a pandemia, tornando o real mais atraente para estratégias de “carry trade”. Estas consistem na tomada de empréstimos em país de juros baixos e aplicação desses recursos em praça mais rentável.
Apesar da baixa recente do dólar no mercado doméstico, investidores alertavam para a permanência de um cenário externo adverso, conforme os principais bancos centrais do mundo seguem elevando suas taxas de juros, capitaneados pelo Federal Reserve.
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“Crescem as expectativas de uma postura mais dura do banco central norte-americano, com possível alta de 0,75 ponto percentual na próxima reunião, enquanto os analistas aguardam dados de inflação (dos EUA) e a ata da última reunião (do Fed)”, com divulgação prevista para esta semana, disse o departamento de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco em relatório. “Além disso, o acirramento da guerra na Ucrânia traz cautela adicional.”
A Rússia lançou seus ataques aéreos mais generalizados contra a Ucrânia desde o início da guerra nesta segunda-feira, disparando mísseis de cruzeiro em cidades movimentadas durante a hora do rush e derrubando a energia, no que o presidente russo Vladimir Putin chamou de vingança por uma ponte explodida.
O dólar é considerado aposta segura em momentos de turbulência econômica ou geopolítica. No final de setembro, o índice da moeda norte-americana tocou seu nível mais forte em duas décadas, em meio a movimento global de proteção contra riscos.