Mercados

Dólar (USDBLR) tem alta com amparo externo e reação moderada a anúncio de Haddad na Fazenda

09 dez 2022, 17:10 - atualizado em 09 dez 2022, 17:42
Dólar
No mercado à vista, o dólar ganhou 0,58%, a 5,2458 reais na venda (Imagem: REUTERS/Rick Wilking)

O dólar (USDBLR) subiu frente ao real nesta sexta-feira, após a confirmação de Fernando Haddad à frente do Ministério da Fazenda do governo eleito, mas num movimento avaliado por agentes do mercado como comedido, uma vez que o anúncio já era amplamente esperado, e alinhado à força da moeda norte-americana no exterior.

No mercado à vista, o dólar ganhou 0,58%, a 5,2458 reais na venda.

Embora tenha saltado até 1,33%, a 5,2850 reais, imediatamente após o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva anunciar nesta sexta-feira os primeiros nomes de ministros de seu governo, a moeda norte-americana logo perdeu fôlego e chegou a reduzir a alta para 0,03% no início da tarde, a 5,2172 reais, em sessão que contou com volumes reduzidos devido ao jogo do Brasil na Copa do Mundo.

“A questão do Haddad é um pouco mais do mesmo que vem sendo discutido: ele já vinha sendo cotado, estava no preço já”, disse à Reuters Bruno Mori, economista e planejador financeiro pela Planejar, notando reação benigna do mercado à confirmação do ex-prefeito de São Paulo na futura pasta da Fazenda, com destaque para a alta do Ibovespa.

Por volta de 17h, o índice acionário de referência para o mercado brasileiro subia 0,57%, a 107.865,14 pontos.

João Piccioni, analista da Empiricus, também notou reação moderada do mercado à indicação de Haddad. “A gente está vendo o dólar para cima, mas para mim esse nível não me parece nada fora do natural. Talvez se a gente, nos próximos dias, ver esse dólar superar a marca de 5,40, 5,50, aí sim eu acho que teria alguma coisa intrínseca local que realmente tenha provocado esse estresse, mas, por hora, eu olho para o mercado e vejo tudo até muito tranquilo.”

Mori, da Planejar, avaliou que, de um lado, Haddad tem um perfil muito político e pode ser inclinado a mais gastos fiscais, o que vem preocupando os mercados nas últimas semanas. Mas, de outro, a definição do futuro ministro “tira incertezas e ajuda a destravar algumas coisas nessa transição de governo”, ponderou o economista, referindo-se, entre outros pontos, às negociações da PEC da Transição.

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(Imagem: Pixabay/webandi)

O texto da PEC, que busca expandir o teto de gastos em 145 bilhões de reais por dois anos a partir de 2023 de forma a custear o Bolsa Família, já foi ligeiramente desidratado no Senado, e alguns agentes do mercado têm esperanças de que a proposta possa ser ainda mais reduzida durante as negociações na Câmara, onde tramita atualmente.

Piccioni, da Empiricus, acrescentou que a alta do dólar nesta sessão não foi motivada apenas pela pauta doméstica, e que a moeda norte-americana já vinha ganhando força desde o início do pregão após dados de inflação ao produtor norte-americano mais fortes do que o esperado.

“É aquela história: se espera que o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) continue apertando os juros, então o dólar ganha espaço frente às demais moedas globais. Eu acho que é mais nessa do que necessariamente a questão do Haddad”, disse ele sobre o movimento do mercado de câmbio doméstico nesta sexta-feira.

Na semana, o dólar avançou 0,61% frente ao real, e, no acumulado de dezembro, ganha quase 1%, depois de em novembro ter chegado a operar acima da marca de 5,40 reais.

“Os investidores brasileiros geralmente são desanimados em relação ao Brasil. Essa negatividade é extrema atualmente”, disse em publicação no Twitter nesta sexta-feira Robin Brooks, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês). “A visão é de que entre estímulos fiscais e empréstimos subsidiados o Brasil caminha para altos juros reais. Os mercados estão começando a precificar isso”.

Embora note pessimismo no âmbito doméstico, há tempos o IIF tem como “valor justo” para o real ou seja, o patamar condizente com os fundamentos econômicos do Brasil o nível de 4,50 por dólar.

A moeda norte-americana ainda perde quase 6% frente à brasileira no acumulado de 2022, depois de ter sido pressionada mais cedo no ano pelo amplo diferencial de juros entre o Brasil e outras economias, bem como pelo salto nos preços das commodities após a invasão da Ucrânia pela Rússia.

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