Dólar a R$ 6, Selic a 15%: O Brasil vive um ataque especulativo?
Bastaram dois meses para que as perspectivas econômicas do Brasil saíssem de um otimismo contido para o total pessimismo, com o dólar na casa dos R$ 6 e a Selic a 14,25%. Durante semanas, o mercado aguardou ansioso o pacote para colocar os gastos do governo no arcabouço fiscal.
A princípio, a notícia tinha tudo para ser positiva, já que sinalizaria ao mercado que a equipe econômica estava preocupada com a trajetória das contas públicas.
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Porém, o que era visto como a salvação da lavoura, se tornou sua maldição. Parte do mercado achou os R$ 70 bilhões insuficientes. Alguns bancos argumentaram que a economia será menor do que R$ 40 bilhões. Fora que o risco do Congresso desidratar o pacote era real, o que de fato ocorreu na última quarta.
E para fechar, o governo também apresentou proposta para isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, promessa antiga do presidente Lula. Apesar do governo jurar de pé junto que o impacto será neutro, já que haverá aumento de impostos para quem ganha acima de R$ 50 mil, há ceticismo no mercado.
Tudo isso fez com que as projeções azedassem as expectativas. O Ibovespa caminha para o pior quarto trimestre em anos, pondo fim também ao tradicional rali de Natal.
Agora, a questão que se coloca é se o Brasil vive um ‘ataque especulativo’. Isso porque uma fatia de economistas e da opinião pública diz que a alta do dólar não faz sentido em meio a uma economia que cresce 3,5% no ano e que está com desemprego nas mínimas.
E apesar da desconfiança, os cortes dos gastos serão suficientes para colocar a dívida no eixo pelo menos em 2024 e 2025.
Exagero?
Há quem tenha achado a reação do mercado exagerada, como o diretor de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt.
“O mercado não gostou [do pacote fiscal]. Os juros prefixados estão subindo, o dólar está disparando e a bolsa está caindo, mas não achei o pacote ruim como estão precificando hoje”, disse Weigt em entrevista ao Money Times.
“O movimento é exagerado e deve permanecer nos próximos dias, mas não vai se sustentar no longo prazo.”
Para ele, a decisão de aumentar a taxação de salários dos super-ricos “pega” a tributação de dividendos — um dos motivos para a tensão dos investidores hoje. Segundo ele, a medida deveria ter sido acompanhada por uma redução no IR das empresas.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, embarcou na tese. Em entrevista da última quarta-feira (18), o ministro disse que o país pode estar na mira de especuladores.
“Há contatos conosco falando em especulação, inclusive jornalistas respeitáveis falando disso. Eu prefiro trabalhar com os fundamentos, mostrando a consistência do que nós estamos fazendo em proveito do arcabouço fiscal para estabilizar isso. Mas pode estar havendo. Não estou querendo fazer juízo sobre isso porque a Fazenda trabalha com os fundamentos. E esses movimentos mais especulativos, eles são coibidos com a intervenção do tesouro e Banco Central”, afirmou.
A doutora em economia e presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal, Luciana Acioly, explica que a especulação aproveita momentos de incertezas para ganhar no curto prazo. O dólar é o melhor caminho.
“É um ganho em cima de uma especulação sobre a variação do valor da moeda nacional. São os agentes que fazem esse movimento e esse movimento geralmente tem um efeito manada. Se os grandes portadores de portfólio de curto prazo, se eles estão fazendo esse movimento, a tendência e que outros também acompanhem.”
Banco Central rechaça ideia
Apesar dos pesares, em coletiva de imprensa mais cedo, o futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galipolo, rechaçou a ideia. Para ele, não é correto tratar o mercado como um bloco monolítico, como se fosse algo coordenado e movendo-se em uma única direção.
“O mercado funciona com posições contrárias: existe alguém comprando e alguém vendendo. Assim, quando o preço de um ativo se movimenta, sempre há vencedores e perdedores. A ideia de ataque especulativo como algo coordenado não representa bem o movimento do mercado atualmente. Essa é a explicação que ofereço em todas as reuniões”, colocou.
Ele afirmou ainda que a equipe econômica, na figura de Haddad, reconhecem a existência desses problemas fiscais e da necessidade de passos na direção certa.
“Nenhum programa, isoladamente, será suficiente para resolver tudo, mas esses passos devem ser discutidos com a sociedade e o Congresso, como exige o processo democrático. Essa dinâmica pode ser mais lenta do que gostaríamos, mas faz parte das “dores da democracia”, que considero preferíveis a atalhos falsos”.
Galipolo disse ainda que o esforço atual do governo para aprovar medidas no Congresso reflete esse trabalho contínuo. O” Banco Central, por sua vez, não orienta nem comunica em nome do governo. Nosso papel é transmitir como vemos o impacto das políticas fiscais nos ativos de mercado e auxiliar no entendimento dessas dinâmicas”.
Com informações da Agência Brasil