Economia

Dólar a R$ 5,70 e relação comercial frágil: Como a vitória de Trump impacta a economia do Brasil?

07 nov 2024, 7:15 - atualizado em 06 nov 2024, 18:12
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(Imagem: REUTERS/Jonathan Ernst)

A economia brasileira já se prepara para o impacto da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos.

Segundo a equipe de pesquisa macroeconômica do Inter, há a percepção de que o governo do republicano adotará mais políticas de estímulo na economia. Dentre as principais propostas, estão a imposição de tarifas sobre as importações, redução nos impostos e deportação de imigrantes ilegais.

André Valério e Gustavo Menezes, do Inter, explicam que tais medidas tendem a estimular a atividade e, eventualmente, pressionar a inflação, além de pressionar um mercado de trabalho já apertado.

“O mercado precifica um mundo sob Trump em que a inflação será maior e mais persistente, o que forçará os juros também a serem persistentemente mais altos. Combinado à noção de que o resto do mundo não acompanhará o ritmo de crescimento da economia americana, temos a justificativa de porque os juros e o dólar avançam em conjunto”, dizem.

Taxa de câmbio ‘estressada’

Em relação ao Brasil, a equipe do Inter destaca que a taxa de câmbio deve seguir “estressada”. “A vitória de Trump estaria associada a um cenário mais volátil, com uma expectativa de inflação maior e um dólar mais forte globalmente, com as pressões inflacionárias vinda deste contexto limitando o ciclo de corte nos juros”.

Eles esperam, inclusive, que o câmbio encerre o ano próximo a R$ 5,70. Entretanto, também destacam que nem só de fatores globais se faz a taxa. “Não se pode desconsiderar o efeito da incerteza fiscal nesses cenários e eventuais medidas que o governo possa adotar”, afirmam.

“Há a expectativa de que o governo anuncie um pacote substancial de corte de gastos, o que contribuiria para uma apreciação do real. Nesse contexto, teríamos uma limitação da depreciação do real em meio à vitória de Trump, com a taxa de câmbio encerrando o ano em R$ 5,60″, dizem.

Já em relação aos juros reais, eles citam que observou-se uma queda no diferencial entre o Brasil e os EUA durante os governos do partido de Trump. “Por consequência, a trajetória do real foi geralmente mais benigna nos governos republicanos, apesar de termos sidos marcados por eventos que são fora de controle dos presidentes americanos, tal como a Crise do Subprime, o Covid, o ‘Joesley Day’ e a crise econômica brasileira”.

Portanto, apesar da influência subjacente exercida pela política fiscal americana — que tem tendência de incorrer déficits maiores em governos republicanos — , grande parte da variação do câmbio está associada a outros fatores que não são políticos por natureza.

A relação comercial e os investimentos no governo Trump

Em termos de política comercial, Valério e Menezes dizem que a situação muda um pouco. “Apesar da intensidade do vínculo comercial entre o Brasil e os EUA se alterar entre os presidentes e seus partidos, a causalidade histórica é pouco sugestiva”, afirmam.

Eles alertam, no entanto, que as ameaças tarifárias de Trump, caso se materializem, devem afastar mais os produtos brasileiros dos norte-americanos — especialmente, caso haja retaliação por parte do governo brasileiro que é, historicamente, preocupado em manter proteções para a indústria nacional.

Já em termos de investimento, o Inter destaca que a tendência aparente é de queda dos investimentos diretos no país (IDP) com os republicanos no poder dos EUA.

Apesar disso, afirmam que apenas uma fração do investimento direto no Brasil é efetuada por americanos e as decisões de investimento das firmas não são políticas em natureza, apesar de preocupações acerca dos laços comerciais e financeiros entre países serem um fator relevante para a determinação de médio prazo.

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