Os três motivos que fazem o dólar tocar R$ 5,75, no menor nível em 2 meses e meio
O dólar à vista (USDBRL) caminha para o 12º dia consecutivo de perdas ante o real. A baixa é puxada pelo exterior, com foco nas últimas movimentação do presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump.
Nesta terça-feira (4), a moeda norte-americana foi cotada a R$ 5,7573 (-1,01%) — menor nível de preço desde 19 de novembro. A divisa encerrou a R$ 5,7724 (-0,75%), acompanhando o desempenho no exterior.
Mais cedo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a queda recente do dólar “ajuda muito” no combate à inflação, em entrevista a jornalistas.
“O dólar estava R$ 6,10 e está R$ 5,80, isso já ajuda muito. Com a ação do Banco Central e a ação do Ministério da Fazenda, essas variáveis macroeconômicas se acomodam em outro patamar e isso certamente vai favorecer”, disse o ministro.
Até agora, a moeda norte-americana acumula uma desvalorização de 6,60% sobre o real. Em parte, há um movimento de ajuste de posições ante o “exagero” das cotações visto no fim de 2024 — chegando a superar a marca psicológica de R$ 6 — em meio às preocupações com o cenário fiscal doméstico. O temor ainda permanece, mas em segundo plano.
Confira a seguir os motivos que derrubam o dólar hoje
Ata do Copom
O Banco Central divulgou na manhã desta terça-feira a ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Na última quarta-feira (29), o BC elevou os juros para 13,25% ao ano, como o esperado, e manteve a projeção de uma nova alta de 1 ponto percentual na reunião do colegiado em março.
O documento mais detalhado afirmou que “é necessária cautela e parcimônia na análise recente dos dados de atividade econômica” e que a “desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê e deve ser combatida”.
Na avaliação dos economistas, a ata veio com um tom mais ‘hawkish‘ (agressiva) que o comunicado da decisão do Copom.
Para o Itaú BBA, “apesar do tom geral da ata ser mais duro, o texto indica que o comitê acompanhará a evolução da atividade econômica, do repasse cambial e das expectativas. Isso pode, ou não, refletir uma ordem de prioridades – o tempo dirá”, disse o economista-chefe, Mario Mesquita, em relatório. Na projeção do banco, a Selic teve atingir 15,75% no fim do ciclo.
Já os economistas do Bank of America (BofA) afirmaram que “é difícil avaliar até que ponto um arrefecimento da atividade se traduzirá em uma queda da inflação”, considerando que a atividade econômica continua volátil e o mercado de trabalho segue aperto.
Em reação à ata, a curva de juros passou a precificar uma Selic próxima a 16% no fim de 2025.
Em linhas gerais, a desvalorização do dólar puxada pelo cenário externo e a continuidade dos juros elevados no Brasil atraem o fluxo de capital estrangeiro no curto prazo — em um movimento de migração dos investidores aos mercados emergentes latino-americanos com incertezas sobre o ‘tarifaço’ de governo Trump.
Tarifaço de Trump puxa queda do dólar
O ‘tarifaço’ de Donald Trump ganhou novos desdobramentos na última segunda-feira (3), o que elevou as incertezas sobre as políticas tarifárias no segundo mandato do republicano nos EUA. A avaliação, por ora, é que as tarifas não sejam tão agressivas quanto o esperado durante a campanha à presidência.
No fim de semana, Trump impôs uma tarifa de 10% de tarifas sobre os produtos chineses, 25% sobre os produtos mexicanos e os canadenses — com exceção apenas do setor de energia, que enfrentará uma tarifa de 10%.
Contudo, no início da tarde de ontem (3), a presidente do México, Claudia Sheinbaum, anunciou um acordo com Trump para pausar tarifas contra o país durante um mês. O mesmo aconteceu com o Canadá, após uma ligação entre o chefe da Casa Branca e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau.
Para hoje, a expectativa é de uma negociação com a China. Mais cedo, o gigante asiático impôs uma taxa de 15% sobre o setor energético, o que inclui carvão, gás natural; e uma alíquota de 10% sobre o petróleo bruto, maquinário agrícola, veículos de grande cilindrada e caminhonetes. Por enquanto, as medidas devem entrar em vigor em 10 de fevereiro.
Com a retaliação chinesa no radar, a Casa Branca já afirmou que Trump irá conversar com o presidente da China, Xi Jinping, ainda hoje. “Vamos ver o que acontece com o telefonema de hoje”, disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavit.
Dados mais fracos nos EUA
Os dados econômicos mais fracos nos EUA também contribuem para a queda do dólar, principalmente no exterior.
As vagas de emprego em aberto no país caíram de forma acentuada em dezembro. No mês, as ofertas de trabalho diminuíram em 556 mil para 7,6 milhões, segundo dados do relatório Jolts, divulgados pelo Departamento do Trabalho norte-americano. Os economistas consultados pela Reuters previam cerca de 8 milhões de vagas não preenchidas no período.
Os dados de novembro foram revisados ligeiramente para cima, mostrando 8,156 milhões de vagas, em vez dos 8,098 milhões informados anteriormente
Os números de demissão também recuaram — o que sugere que o mercado de trabalho não está se desacelerando abruptamente. As demissões caíram em 29.000 para 1,771 milhão.
Além disso, as encomendas de produtos manufaturados caíram 0,9% depois de uma queda revisada de 0,8% em novembro, informou o Departamento de Comércio do país. Os economistas previam um recuo de 0,7%, depois de uma queda de 0,4% relatada anteriormente em novembro.
Na véspera, o Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM) divulgou que o índice de atividade econômica (PMI, na sigla em inglês) de manufatura entrou em território de crescimento em janeiro pela primeira vez em mais de dois anos.
Após os dados, os agentes financeiros reduziram as apostas de manutenção dos juros na faixa de 4,25% a 4,50% pelo Federal Reserve na reunião de março. Os traders agora veem 84,5% de chance de o banco central norte-americano manter os juros inalterados, de acordo com a ferramenta de monitoramento do CME Group. Ontem, essa probabilidade era de 86,0%.