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Dois anos do escândalo Americanas (AMER3): relembre o rombo contábil e saiba em que pé a varejista está em 2025

11 jan 2025, 7:00 - atualizado em 10 jan 2025, 16:57
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Anúncio do rombo contábil na Americanas completa dois anos neste sábado (11) (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

Há dois anos, a Americanas (AMER3) protagonizou o maior escândalo contábil recente visto pelo mercado de capitais. Em 11 de janeiro de 2023, veio à tona um rombo na casa dos R$ 20 bilhões que colocou a varejista em rota de recuperação judicial — que acontece até hoje.

A companhia, que já foi um forte nome do seu setor, hoje acumula queda de quase 100%, uma perda do selo do Novo Mercado da B3 — que atesta o patamar mais elevado de governança corporativa — e fuga dos investidores, que viram a ação ir a pó em meio à crise.

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Dois anos se passaram e os investidores minoritários seguem em busca de ressarcimentos após os prejuízos com a crise, executivos da empresa ligados à fraude estão sob investigação e a varejista luta para se reerguer e reconsolidar posição no mercado.

Ao longo destes 24 meses, os papéis saíram do patamar de R$ 1.200,00 para os atuais R$ 5,67 por papel, em uma desvalorização acumulada de 99,5%. Já o valor de mercado da varejista hoje é estimado em R$ 1,16 bilhões.

Neste cenário, diversores investidores moveram ações de indenização por meio de arbitragem. Vale lembrar que a arbitragem é um modelo de resolução de conflitos semelhante a um processo judicial, no entanto, tende ser mais ágil e menos burocrática.

O Instituto Empresa atualmente é responsável por uma demanda de cerca de 500 minoritários feita contra a rede varejista no valor de R$ 32 bilhões. Os minoritários afirmam que, se soubessem da real situação financeira da empresa, não teriam investido nas ações e/ou títulos de dívida corporativa (debêntures e bonds).

Para 2025, vale lembrar que, além de seguir lidando com as conseuqências do buraco contábil, a varejista opera em um setor sensível e com margens apertadas, o que pode piorar ainda mais com a alta da Selic, que deve encarar um ciclo intenso de aperto monetário.

As finanças da Americanas

O balanço do terceiro trimestre de 2024 da Americanas causou alvoroço ao mostrar um lucro líquido de R$ 10,3 bilhões. O montante representa uma reversão do prejuízo de R$ 1,63 bilhão no mesmo período de 2023, número esse reapresentado pela companhia no balanço.

Segundo a companhia, o resultado foi impactado por diversos efeitos decorrentes da execução do Plano de Recuperação Judicial e da quitação das dívidas concursais.

No terceiro trimestre, o resultado financeiro consolidado foi positivo em R$ 14,2 bilhões, atribuído aos descontos das dívidas que estão listadas no Plano de Recuperação Judicial.

“O principal impacto foi o reconhecimento como receita financeira dos haircuts gerados no momento da quitação de dívidas concursais com credores financeiros e reversão de juros e atualizações monetárias”, diz o relatório.

Já o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado positivo de R$ 497 milhões no 3T24, revertendo o resultado negativo de R$ 269 milhões do 3T23.

O resultado do terceiro trimestre de 2024 foi o primeiro que divulgado pela companhia após a capitalização e os pagamentos de diversos credores.

Após a divulgação do balanço, Caroline Sanchez, analista de varejo da Levante, chamou atenção para o efeito da renegociação de dívida que a companhia conseguiu.

“Apesar dessa euforia com o resultado da Americanas, tem uma questão que é a novação de dívidas, que nada mais é do que uma rolagem, quando renegocia e alonga o pagamento. Sem considerar esses efeitos, na verdade, o resultado não seria tão expressivo assim”.

A analista não demonstra grande otimismo com a varejista, destacando que o atual cenário é desafiador para o varejo e que não é só esse sinal — de lucro no balanço — que indica recuperação da companhia.

“Acreditamos que o processo de reestruturação é muito mais do que isso. Talvez ela realmente esteja mostrando uma certa recuperação — muito por essa renegociação de dívidas –, mas vale comentar que o cenário continua extremamente difícil e desafiador para o e-commerce”.

Sergio Rial, ex-CEO, foi absolvido de acusações

Em dezembro de 2024, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) absolveu Sergio Rial das acusações que o ex-presidente-executivo da Americanas (AMER3) enfrentava relacionadas à divulgação de informações após descoberta de rombo contábil na varejista, embora tenha condenado João Guerra Duarte Neto, que assumiu como CEO dias após a renúncia de Rial — que ocorreu logo após a crise vir à tona.

Na sessão, era apurada a suposta responsabilidade dos executivos por expor informação relevante ainda não divulgada previamente pela companhia da forma prevista na regulamentação; divulgar informação de maneira incompleta e inconsistente; e não divulgar, tempestivamente, novo fatos relevantes.

O colegiado da CVM, composto por quatro membros – incluindo o diretor relator -, absolveu Sergio Rial das acusações de quebra do dever de sigilo da companhia e divulgação de informações de forma inconsistente ou incompleta.

No caso de João Guerra, a mesa julgadora decidiu pela condenação do ex-executivo por não divulgar, tempestivamente, novo fatos relevantes, com multa deR$  340 mil por infração. Guerra ainda pode recorrer da decisão.

Ainda está em aberto o futuro do ex-CEO, Miguel Gutierrez. Em dezembro de 2024, os acionistas da Americanas aprovaram a decisão da varejista de tentar responsabilizar os possíveis culpados pela fraude, incluindo o ex-CEO.

A companhia entrará com um pedido de ação de responsabilidade civil contra ele e os ex-diretores Anna Christina Saicali, José Timótheo de Barros e Márcio Cruz Meirelles.

Gutierrez e outros 13 executivos e pessoas ligadas à Americanas também são alvo da Operação Disclosure, da Polícia Federal, que investiga as fraudes contábeis na varejista.

A investigação revelou fortes indícios da prática dos crimes de manipulação de mercado, uso de informação privilegiada, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

O que diz a Americanas após dois anos?

Em nota enviada ao Money Times, a Americanas afirma estar comprometida com o seu plano de recuperação judicial, bem como com a colaboração em relação às investigações da fraude que levou ao rombo contábil.

A companhia destacou que neste ano continuará fortalecendo a eficiência comercial, operacional e financeira.

Veja o posicionamento da Americanas na íntegra:

“A Americanas segue em seu processo de transformação e cumprindo o Plano de Recuperação Judicial (PRJ). Com a capitalização e os pagamentos da maior parte dos credores do PRJ, a companhia eliminou quase a totalidade das dívidas concursais, endereçando a estrutura de capital e revertendo o patrimônio líquido para o patamar positivo de R$ 5,7 bilhões.

Em 2025, a Americanas continuará fortalecendo a eficiência comercial, operacional e financeira. Neste sentido, atua em projetos de modulação de lojas, precificação e reestruturação da logística. A transformação do digital também avança a partir de um novo desenho para o marketplace, com ancoragem de lojas de grandes indústrias na plataforma e ampliação do O2O.

Em relação aos desdobramentos das investigações, a Americanas continuará em sua conduta responsável e diligente na divulgação de informações e seguindo as determinações da Justiça e das autoridades que conduzem o caso. A empresa reafirma que é a maior interessada no esclarecimento dos fatos e na responsabilização civil e criminal de todos os envolvidos. A companhia também lembra que as negociações para a construção do Plano de Recuperação Judicial foram feitas para chegar à melhor solução possível para todas as partes, sendo o mesmo aprovado com sucesso no final de 2023 com mais de 97% de aprovação dos credores.”

*Com Seu Dinheiro e Reuters

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Repórter
Formada em jornalismo pela Universidade Nove de Julho. Ingressou no Money Times em 2022 e cobre empresas.
lorena.matos@moneytimes.com.br
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