Combustíveis

Documentos revelam planos da Exxon que aumentariam emissões

05 out 2020, 13:42 - atualizado em 05 out 2020, 13:42
Exxon
Os 21 milhões de toneladas adicionais de dióxido de carbono por ano que resultariam do aumento da produção superam as projeções da Exxon para suas próprias iniciativas para reduzir a poluição (Imagem: Wikimedia Commons)

A Exxon Mobil planeja aumentar as emissões anuais de dióxido de carbono em um volume equivalente à produção total da Grécia, segundo análise de documentos internos revisados pela Bloomberg, o que colocaria um dos maiores emissores corporativos no lado oposto dos esforços internacionais para diminuir o ritmo de aquecimento global.

O projeto de expandir a produção de combustíveis fósseis e a poluição que aquece o planeta chega em um momento em que algumas rivais da Exxon, como BP e Royal Dutch Shell, tomam medidas para reduzir o peso do petróleo e zerar emissões. A própria avaliação da Exxon de sua estratégia de investimento de US$ 210 bilhões mostra que as emissões anuais aumentariam 17% até 2025, de acordo com documentos internos.

A maior fornecedora de petróleo dos Estados Unidos nunca se comprometeu a reduzir a produção de petróleo e gás ou estabeleceu um prazo para se tornar neutra em carbono. Além disso, os planos de curto prazo da empresa foram interrompidos pelo impacto da pandemia de Covid-19. A Exxon também nunca divulgou publicamente previsões para suas próprias emissões.

Mas os documentos de planejamento mostram pela primeira vez que a Exxon avaliou cuidadosamente as emissões diretas decorrentes do plano de investimento de sete anos adotado em 2018 pelo CEO Darren Woods.

Os 21 milhões de toneladas adicionais de dióxido de carbono por ano que resultariam do aumento da produção superam as projeções da Exxon para suas próprias iniciativas para reduzir a poluição, como instalar energia renovável e enterrar parte do dióxido de carbono.

Essas estimativas internas refletem apenas uma pequena parte da contribuição total da Exxon para as mudanças climáticas. Os gases de efeito estufa de operações diretas, como os medidos pela Exxon, normalmente respondem por cerca de 20% do total em uma grande empresa de petróleo; a maioria das emissões é proveniente de clientes que queimam combustível em veículos ou outros tipos de uso final, que os documentos da Exxon não levam em consideração.

Isso significa que o impacto climático total da estratégia de crescimento da Exxon seria provavelmente cinco vezes maior do que a estimativa da empresa – ou cerca de 100 milhões de toneladas de dióxido de carbono adicional – se a petroleira tivesse contabilizado as chamadas emissões de escopo 3.

Se os planos da Exxon forem concretizados, a Exxon adicionará à atmosfera emissões anuais de um pequeno país desenvolvido ou 26 usinas movidas a carvão.

As projeções de emissões são “uma avaliação inicial que não inclui medidas adicionais de mitigação e redução que teriam sido consideradas como a próxima etapa do processo”, disse a Exxon em comunicado. “O mesmo documento de planejamento ilustra como fomos bem-sucedidos na mitigação de emissões no passado.”

A Exxon frequentemente defende seus planos de crescimento com base nas estimativas da Agência Internacional de Energia, segundo as quais trilhões de dólares em novos investimentos em petróleo e gás são necessários até 2040 para compensar o esgotamento das operações existentes, mesmo sob uma variedade de cenários climáticos.

No entanto, especialistas dizem que a redução do petróleo e da produção global é necessária para limitar o aquecimento a 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais.

Os ambiciosos planos de crescimento da Exxon, que exigem maior fluxo de caixa e dobrar os lucros até 2025, são um vestígio dos tempos pré-pandemia. O setor foi duramente atingido pela Covid-19, que reduziu a demanda por petróleo e provocou o colapso dos preços.

“À medida que a demanda retorna e os investimentos de capital são retomados”, acrescentou a Exxon no comunicado, “nossos planos de crescimento continuarão a incluir esforços significativos de mitigação de emissões”.

A queda da demanda por petróleo obrigou a Exxon a cortar o orçamento de gastos em um terço em abril, e o preço das ações da empresa oscila perto do menor nível em 18 anos. A Exxon foi excluída do Dow Jones Industrial Average no início do ano. A empresa alertou na semana passada que pode registrar prejuízo pelo terceiro trimestre consecutivo, o que significa que a Exxon conta com dívidas para pagar investimentos e dividendos.

O plano de investimento de mais de US$ 30 bilhões por ano foi a peça central do Dia do Investidor da Exxon em março de 2018. Woods revelou a ambição de construir um conjunto de operações de alta qualidade que produziria grandes volumes de petróleo e gás por décadas no futuro, independentemente de mudanças de políticas ou preços.

Depois de anos sob o impacto da estagnação da produção, Woods se concentrou em cinco projetos principais: gás de xisto na Bacia do Permiano, petróleo offshore em águas da Guiana e do Brasil e gás natural liquefeito em Moçambique e Papua Nova Guiné.

Embora a Exxon esteja muito aquém das maiores petroleiras da Europa no estabelecimento de metas para enfrentar o aquecimento global, recentemente intensificou os esforços para reduzir o metano, um gás de efeito estufa superpotente.

A empresa também passou a fazer parte de um esforço voluntário do setor para diminuir a “intensidade de carbono”, com a produção de petróleo e gás em uma base mais limpa por barril. “As metas de redução da intensidade de emissões por uma empresa que se preparava para aumentar drasticamente sua produção não resultarão em emissões absolutas mais baixas”, disse Kathy Mulvey, diretora de campanha da Union of Concerned Scientists.

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