Economia

Dobrar a renda do brasileiro?

08 maio 2018, 13:48 - atualizado em 08 maio 2018, 13:49

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Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência da República, afirmou que o plano econômico de seu mandato, formulado pelo economista Pérsio Arida, vai fazer com que a renda do brasileiro se multiplique por dois. Nas palavras do ex-governador de São Paulo:

“Teremos o projeto do Pérsio: quem ganha dois mil vai ganhar quatro mil”.

Não foi um comentário nem um pouco razoável. Dobrar a renda real de um país é tarefa hercúlea, e não é coisa que se faz em 4 ou 8 anos, principalmente quando se trata de um país de renda média (a China dobrou a renda por habitante em menos de uma década, mas era um país inicialmente muito mais pobre que o Brasil). Trata-se de uma maratona, de um encadeamento de políticas de qualidade e formatação institucional que perpassa diferentes governos.

O gráfico a seguir mostra a evolução da renda média por habitante no Brasil desde 1950 e destaca os períodos em que a renda dobrou, começando a conta quando ela era de 2000 dólares por habitante. De 1958 para cá, dobramos a renda uma vez entre 1958 e 1973; depois novamente, entre 1973 e 1997, e estávamos quase alcançado mais um múltiplo de 2 quando a crise (causada por fatores econômicos e políticos domésticos) bateu. Ou seja, na época de crescimento mais acelerado da nossa história (em parte porque éramos bem pobres então), a renda tardou 15 anos para crescer os tais 100%. Já no período mais recente, se não tivéssemos errado tanto, teríamos novamente alcançado o feito em 20 anos, entre 1997 e 2017.

Fazer continhas sempre ajuda a iluminar as coisas e detectar disparates. Um país que tem renda $100 hoje e almeja chegar a $200 em, digamos 8 anos, precisa crescer a qual velocidade anual? A equaçãozinha que responde isso é a seguinte: 100*(1+taxa)8 = 200, ou seja, taxa=2^(1/8)-1 = 9,05% ao ano.

Pois é, para dobrar a renda real em 8 anos – falamos sempre em termos reais, pois dobrar a renda nominal via inflação é muito fácil, mas só piora sua vida –, a economia precisaria crescer 9% ao ano acima do crescimento populacional (lembre-se, a medida aqui é renda por habitante). Compare esse número com nosso histórico dos últimos trinta anos, que é de crescimento da economia acima do crescimento populacional da ordem de 0,85% ao ano, e você verá que a afirmação do presidenciável Alckmin não tem pé nem cabeça.

Terminemos com um chute nosso para quanto terá crescido a renda por habitante no Brasil em 8 anos se o país não errar nem um tantinho assim por anos e anos a fio na condução da economia: uns 25%.

Com a palavra, o senhor Geraldo.