AgroTimes

Do Leste europeu à Ásia Central, fertilizantes, petróleo e trigo na rota das crises entre Rússia e Ocidente

10 jan 2022, 16:32 - atualizado em 10 jan 2022, 19:49
Trabalhador em terminal de exportação de fertilizantes na China
Não fosse apenas as condições de fornecimento chinesas, agora a ameaça aso fertilizantes vem do Leste europeu (Imagem: China Daily via REUTERS/Files)

Se alguém falar, como costumeiramente acontece no agronegócio, que qualquer crise política ou militares no Leste da Europa não cria problemas imediatos até que não cheguem a níveis explosivos, a Yara acaba de dar uma má notícia.

A multinacional norueguesa vai paralisar suas compras de potássio para fertilizantes da Bielorússia, seguindo as sanções aplicadas pelo Ocidente por supostas fraudes nas eleições presidenciais de 2020.

Vai ter que direcionar a parte comprada no país dos seus outros fornecedores e de novos, num momento que já há um encurtamento da oferta chinesa de fertilizantes, já sentido no bolso de produtores mundiais. A Rússia também regula suas entregas.

A possibilidade de aumento de preços é natural.

Antes disso, o presidente vitalício Aleksandr Lukaschenko já havia ameaçado fechar o gasoduto russo que abastece a Europa, cujo potencial para uma crise energética sem limites ainda não foi mensurado se as tensões evoluírem.

A própria Belarus também está no meio da disputa crítica da Rússia com a Ucrânia, vista pelos think thanks na Europa e dos Estados Unidos como de pavio muito curto para um conflito, o que também foi chancelado pelo comandante das tropas da Otan.

Além de tropas russas no país, Moscou estacionou milhares na fronteira e dentro do território da Crimeia, tomado dos ucranianos e pivô da crise atual. Kiev flerta – e é correspondida – a entrar na Otan, o que causa arrepios à Rússia em perder mais uma ex-república soviética.

Com mais de 25 milhões de toneladas de trigo por safra, entre os maiores do mundo, a Ucrânia recém-plantou mais uma safra de inverno e esse cenário de crise militar está cada vez mais presente nos preços.

Uma invasão russa, com resposta dos EUA e Otan, certamente prejudicaria produção e o escoamento.

Para completar, nas últimas semanas a maior das ex-repúblicas soviéticas, o Casazquistão, entrou em ebulição, no meio do caminho da Ásia central com a China. Tropas russas também foram chamadas para apoiar o ditador Kassim-Jomart Tokaiev, em um processo crescente de distúrbios nas ruas das principais cidades que as autoridades atribuem culpa ao Ocidente.

Rico em hidrocarburetos, o que tira o sono do mercado do petróleo, o país também é exportador de potássio, inclusive com investimentos ocidentais, como da suíça EuroChem, que comprou ativos de salitre da Yara no Brasil.

Barulho pouco não é bobagem.