Do Ibovespa a Wall Street: Impasse da dívida nos EUA já causa estrago; situação pode piorar
Os Estados Unidos devem encerrar a quarta-feira (24) sem novidades quanto às negociações sobre um novo teto da dívida soberana.
Apesar do contato recorrente da administração Biden com o time do presidente da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, a mensagem geral é de que nenhuma das partes está pronta para ceder exigências orçamentárias.
Assim, vai se desenhando um cenário onde o impasse se arrasta até o fim do mês, considerado o prazo limite para um novo financiamento do Tesouro americano.
Para Alex Lima, estrategista-chefe da Guide Investimentos, ainda não há uma tática clara de “culpabilização do outro lado”, o que desincentiva uma resolução rápida do impasse.
Outro fator citado por Lima é a complacência dos investidores até aqui, com o S&P 500 ainda sendo negociado na máxima dos últimos nove meses.
Historicamente, a volatilidade dos mercados é uma “aliada” da percepção de urgência da questão envolvendo o débito soberano. E, a julgar pelo desempenho das principais praças financeiras hoje, o ânimo dos mercados pode estar começando a ficar mais sombrio.
Mercados estressados no Brasil e no mundo
Ibovespa tem pior sessão em duas semanas. O Ibovespa (IBOV) encerra o pregão desta quarta-feira (24) com perdas de 1,03%, o pior desempenho em mais de uma semana. Apesar da aprovação do arcabouço fiscal, o índice local se apegou com mais força à aversão global e à elevação global do dólar, ambos efeitos do impasse político da dívida americana.
Dólar global alcança máxima de 2 meses. O índice DXY, que mede a variação do dólar ante uma cesta de moedas fortes, subiu aos 103,8 pontos nesta quarta-feira. O avanço do índice mostra aumento da procura pela divisa norte-americana, considerada um refúgio para a instabilidade que pode suceder ao possível calote.
Wall Street tem segunda sessão de perdas. Os três principais índices acionários da Bolsa de Nova York fecham a quarta-feira no segundo dia consecutivo de quedas. O recuo foi atenuado, após a ata do Fomc indicar que novos aumentos na taxa de juros não são mais o cenário-base da autoridade monetária.
Prêmio de título de curtíssimo-prazo nos EUA supera os 6%. Rendimentos de títulos da dívida (Treasuries) dos EUA com vencimento para a primeira quinzena de junho dispararam nos últimos dias. De acordo com dados da Bloomberg, as T-bills de curtíssimo prazo já rendem entre 6,1% e 6,2%, refletindo o aumento do risco de calote.
Bolsas da Europa caem em bloco. As principais praças financeiras da Europa terminaram a sessão desta quarta-feira em forte queda. As Bolsas de Londres (índice: FTSE 100), Frankfurt (índice: DAX) e Paris (índice: CAC 40) caíram, respectivamente, 1,75%, 1,92% e 1,70%.
Impasse da dívida: Eventos de risco no curto prazo
Antes mesmo de um calote técnico, o estrategista-chefe da Guide ressalta dois possíveis riscos à economia americana de curto prazo.
O primeiro é a forma como o mercado perceberá o plano de contingência do Tesouro americano, que deverá contar com repriorização de pagamentos de dívida e paralisação do serviço público.
Em uma situação como essa, o lado político prevalece sobre o lado fiscal. “Politicamente, não é sustentável pagar despesas de juros para investidores estrangeiros e não pagar a seguridade social. Portanto, antes do default, é possível ver o mercado precificando [negativamente] o impacto econômico da desaceleração fiscal do governo”, arremata.
O segundo evento de risco é o rebaixamento da dívida soberana dos Estados Unidos, como houve em 2011, o que precipitou bastante volatilidade. Embora haja poucos incentivos para uma mudança rápida da nota de crédito dos EUA, a volatilidade dos mercados poderia ser um wake-up call para as agências de rating atualizarem suas perspectivas.
Em entrevista à Reuters, William Foster, vice-presidente sênior da Moody’s, deixou claras as condições em que o rebaixamento poderia ocorrer. Para ele, basta que as mensagens públicas de ambos os lados passem a impressão de que a inadimplência é uma opção viável.