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DNA Capital vê oportunidades no atraso de setor de saúde em tecnologia

21 out 2022, 12:30 - atualizado em 21 out 2022, 12:30
Saúde
“O setor está 20 anos atrás no aspecto de software e infraestrutura em tecnologia”, disse Guinle, que vê mudanças mais lentas em comparação a outras áreas (Imagem: Shutterstock/Mufid Majnun)

A DNA Capital ainda vê muitas oportunidades no mercado brasileiro de startups em tecnologia para saúde, embora não tenha pressa para fazer nova captação em um momento em que seu atual fundo está perto da conclusão de ciclo de investimento.

A gestora, focada exclusivamente no setor de saúde e fundada em 2013 por Pedro Bueno, atual presidente do grupo de saúde Dasa, já investiu 6,5 bilhões de reais.

Os aportes englobam private equity (companhias de estágio mais avançado), como a própria Dasa e a distribuidora de material hospitalar Viveo, ou em venture capital (startups em estágio inicial), como a Memed, de prescrições digitais.

“Entre um negócio de escala e um artesanal, estamos bem mais para o artesanal. É construção de companhias em saúde no longo prazo”, disse Luiz Noronha, sócio da gestora, em entrevista à Reuters, junto de José Guinle, também sócio de venture capital na DNA.

Entre as teses recentes exploradas pela gestora está a aplicação de tecnologia, especialmente software, para serviços em saúde.

“O setor está 20 anos atrás no aspecto de software e infraestrutura em tecnologia”, disse Guinle, que vê mudanças mais lentas em comparação a outras áreas.

“Sem ser no setor de saúde, o principal concorrente de um software é outro software. Em saúde, a gente fala que o principal concorrente é o papel. É nesse nível que o mercado se encontra. Tem muita oportunidade, muita oportunidade por vir”, afirmou.

Um dos investimentos que exemplificam essa tese é a da brasileira CM Tecnologia, que integra principais ferramentas de saúde –de plataformas de telemedicina a chatbots e laudos médicos– para as empresas do setor. Os executivos não informaram o valor aportado no negócio.

Sem pressa

A DNA Capital tem 16 funcionários em escritórios em São Paulo e São Francisco, nos Estados Unidos, e, além dos dois países, possui investimentos no Reino Unido.

Apenas em startups, a DNA já levantou 150 milhões de dólares para investimentos e aportou em 21 empresas até agora, tendo já saído de três, como a Feegow, que digitaliza prontuários.

“O fundo já está mais para o final, mas ainda temos gás, até para fazer follow-on nas investidas e um ou outro investimento novo está para anunciarmos também”, disse Guinle, sem detalhar. “Vamos captar em algum momento, mas sem pressa”, acrescentou.

Noronha afirmou que o condicionante da captação é mais encontrar um momento de mercado favorável. “O cenário como um todo tem bastante volatilidade”. Diante dos desinvestimentos, a DNA prevê continuar trabalhando com cerca de 15 teses de investimento em venture capital por vez, disseram.

Além do foco em startups de software em saúde, outra tese recente, em especial nos investimentos nos EUA, dado o maior volume de parcerias público-privadas, é de empresas que aplicam tecnologia para atendimento aos públicos que mais demandam, como idosos. “Entregar valor de fato para o paciente, não só um serviço específico em um momento específico”, disse Guinle.

No mercado norte-americano, a gestora possui investimentos incluindo a Cortex Health, que oferta software para companhias que fornecem serviços de acompanhamento médico, como pós-internação.

Barreiras de vidro

Um dos pontos que tornam os investimentos em saúde mais difíceis, segundo Noronha, é que os mercados são menores do que costumam parecer, reduzindo o potencial de criação de grandes empresas.

Dados da empresa de inteligência de mercado CB Insights mostram que entre os 16 unicórnios brasileiros –startups que atingiram avaliação de 1 bilhão de dólares– nenhuma é do setor de saúde. Seis são fintechs, enquanto setores como logística, comércio eletrônico e imobiliário também estão entre os representados no grupo.

Um outro fator de dificuldade, segundo ele, são dinâmicas de mercado, como as negociações para formação de preço entre os agentes do setor e questões regulatórias. “Você começa a trombar com barreiras de vidro, não está vendo elas, mas elas tornam muito difícil construir um negócio nesse segmento”, disse Noronha.

Questionados se as recentes mudanças políticas e regulatórias no mercado brasileiro, como as idas e vindas da taxatividade do rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) ou o piso salarial para enfermagem, poderiam estar inclusas nestas barreiras, eles afirmaram que para a DNA isso não é um ponto-chave.

“A gente sabe o ambiente em que vive. O fundamental é sempre estarmos investindo em companhias que conseguem entregar aquilo que se propõem de uma forma muito acima do mercado. Quando tem isso, acho que essas questões, no geral, acabam se ajustando”, disse Guinle.

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