Coluna do Vicente Guimarães

Dividendos: Escolher empresas é apenas uma parte da estratégia; descubra as outras

19 jan 2024, 20:08 - atualizado em 19 jan 2024, 20:08
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Focar em empresas que pagam dividendos, porém, é apenas uma parte da estratégia (Imagem: Getty Images)

Todo mundo sonha em obter a liberdade financeira. Esse estágio, porém, exige um certo sacrifício. Ninguém que fica de braços cruzados atinge os objetivos traçados. É preciso agir e, principalmente, ter foco para que o dinheiro suado do dia a dia cresça a ponto de um dia ele começar a “trabalhar por você” e não você por ele, como é o mais comum de acontecer.

E que sacrifício é esse que temos de fazer para chegar ao “céu” e viver de renda? É o agir de forma ativa e inteligente. Entenda-se por ativo investir e, mais do que isso, acompanhar o desempenho dos investimentos constantemente. Não se deve apenas colocar o dinheiro e ficar esperando.

No mercado financeiro as coisas mudam. Nenhum papel se valoriza indefinidamente, pelo contrário, o natural é haver oscilações. Uma empresa lucrativa pode passar por um momento difícil e ter prejuízos.

Talvez seja a hora de se desfazer das ações dela e comprar de outra. Enfim, o mercado financeiro não é um lago de águas calmas. Está mais para um rio com correnteza. Às vezes chove, e a correnteza ganha força. Às vezes, a estiagem torna ela mais fraca e por aí vai. É preciso estar sempre esperto. No entanto, ser ativo não significa agir de forma estabanada.

Também é necessário ser inteligente. Estudar para conhecer bem o mercado, desenvolver estratégias e saber a hora certa de agir. Afinal, nem toda chuva faz a correnteza ficar extremamente violenta, e nem toda estiagem é capaz de secar um rio. Mas só sabe disso, só percebe os sinais, quem estuda e acompanha o mercado financeiro o tempo todo.

Essa é a razão para eu afirmar que é preciso ser ativo para, no futuro, desfrutar de uma boa renda passiva. Dito isso, deixo aqui umas dicas de como obter a tão sonhada liberdade financeira investindo na Bolsa de Valores.

Existem, basicamente, duas formas de ganhar com ações. A primeira é com a valorização das mesmas, sendo este um foco mais especulativo e incerto. A segunda forma é com os dividendos, que é o meu foco particular. Seguindo esta metodologia, o investidor deve se ater ao foco de fazer crescer seus dividendos, deixando de lado a preocupação com a valorização das ações.

Vou mais longe. Quando focamos nos dividendos, precisamos ter em mente que a queda nos preços de ações que pagam dividendos deve ser vista como algo positivo, uma vez que o investidor pode acumular mais ações pagando um preço menor.

Isso porque, ao cair o valor da ação, o investidor tem a oportunidade de comprar mais com preços melhores, acumulando, assim, boas ações que pagam dividendos. A vantagem de desenvolver uma estratégia de investimentos assim é que esse modelo garante mais previsibilidade.

E além de mais previsibilidade, o investidor passa a receber mais dividendos já que aumentou o percentual de ações da companhia em questão, acelerando o crescimento do patrimônio. É justamente focando nas “vacas leiteiras”, como costumo chamar as empresas boas pagadoras de dividendos, que a gente obtém renda passiva.
Focar em empresas que pagam dividendos, porém, é apenas uma parte da estratégia. Outro ponto importante é ter foco no longo prazo. O investidor precisa entender que as empresas não pagam dividendos mensalmente.

Algumas até pagam um valor mensal, mas é muito pequeno, de um a dois centavos. Então, o foco deve ser o dividendo anual. Meu conselho é: tenha paciência. Uma carteira robusta de dividendo é construída ao longo dos anos – muitas vezes, de décadas. Mas o retorno para os pacientes é exponencial. Quanto mais tempo desenvolvendo sua carteira, maiores serão os frutos.

Ao focar no longo prazo, o investidor vai entender que não convém sacar os ganhos com dividendos. Até porque eles ajudam a ganhar mais dividendos, que ajudarão a ganhar mais dividendos e assim por diante. O que quero dizer é que o reinvestimento será responsável, no longo prazo, por mais de 50% do seu resultado ou até mais.

Em um estudo recente, Nick Maggiulli apresenta dados surpreendentes sobre o peso da apreciação e o peso do reinvestimento dos dividendos nos retornos com base em dados para ações norte-americanas entre 1871 e 2020.

Segundo a pesquisa, o investimento em ações americanas sem reinvestimento de dividendos entre janeiro de 1980 e janeiro de 2020 teria apresentado um retorno de 791%. Com o reinvestimento dos dividendos, o retorno seria quase 3 vezes maior e este resultado persiste mesmo em janelas mais curtas.

Agora eu volto ao que eu disse no início deste artigo sobre ser ativo o tempo todo. O investidor deve estar à frente das decisões e não deixar seu capital na mão de terceiros. Quando se deixa a gestão na mão de terceiros, não se sabe exatamente quais os riscos que se está tomando e ainda é preciso remunerar a gestora, o que corrói parte do valor investido, reduzindo os ganhos. Mas para assumir as rédeas é preciso buscar conhecimento. Leia muito. Livros, relatórios de empresas e relatórios de casas de análise. Esta parte é fundamental para o sucesso.

Como o objetivo é ter independência financeira por muitos anos, é preciso se atentar ao efeito da inflação em nosso patrimônio, pois se hoje a necessidade de renda é de R$ 5.000,00, este mesmo valor não irá manter o padrão de consumo daqui a 10 anos. Pensando nisso, duas estratégias são importantes.

A primeira é a de buscar por empresas que cresçam o pagamento dos dividendos ao longo dos anos, protegendo o poder de compra. Outro fator importante é durante a fase de uso da renda passiva.

É preciso que não seja utilizado todo o recurso, para que pelo menos uma parte seja reinvestida, para que os dividendos continuem crescendo junto com a inflação.

Por fim, é preciso atenção aos indicadores. Existem dois deles que ajudam muito na hora da escolha: o payout e o dividend yield. O payout é a relação, em percentual, entre dividendo pago e lucro líquido. Ou seja, quantos por cento do lucro gerado foi pago como dividendo. Uma empresa que paga bons dividendos tem payout alto.

O outro indicador, o dividend yield, é a soma dos dividendos pagos nos últimos 12 meses dividido pelo preço atual da ação. Por isso ele muda bastante, pois o valor da ação é volátil e se altera todos os dias. Entendê-los é primordial para saber se a companhia escolhida é ou não uma “vaca leiteira”.

Seguindo esses conselhos não há como errar. Obtive minha renda passiva investindo assim. E hoje vivo sem chefe para dar ordens e tenho liberdade para definir meus passos. O futuro de muitos brasileiros pode ser semelhante a este. A dica está dada é só começar a elaborar sua estratégia para colocá-la em prática.