Bancos

Divergências e volatilidade de títulos pesam em programas do Federal Reserve

02 fev 2021, 15:57 - atualizado em 02 fev 2021, 15:57
Jerome Powell
O presidente do Fed disse a repórteres em 27 de janeiro que “o foco na saída é prematuro”, um claro apelo aos colegas para que se concentrem nos danos econômicos pela frente, em vez da previsão de recuperação (Imagem: REUTERS/Joshua Roberts/Pool/File Photo)

Jerome Powell não quer falar sobre reduzir as enormes compras de ativos pelo Federal Reserve – pelo menos por enquanto-, mas é apenas questão de tempo antes que a discussão seja retomada, o que não seria algo ruim, na opinião de especialistas.

O presidente do Fed disse a repórteres em 27 de janeiro que “o foco na saída é prematuro”, um claro apelo aos colegas para que se concentrem nos danos econômicos pela frente, em vez da previsão de recuperação.

Ainda assim, o maior mercado de títulos do mundo tenta calcular quando o banco central dos EUA pode alterar as compras de ativos, em meio a previsões otimistas de que a ajuda fiscal e a distribuição de vacinas impulsionarão a economia ainda neste ano.

O esforço de Powell para unificar o tom – depois que algumas autoridades cogitaram a possibilidade de uma retirada gradual dos estímulos em 2021 – corre o risco de silenciar outras opiniões dentro do banco central que poderiam ajudar a garantir que o presidente do Fed adote a política adequada.

“Há essa dificuldade e tensão em como as autoridades do Fed esperam que isso aconteça”, diz Matthew Luzzetti, economista-chefe do Deutsche Bank Securities.

O presidente do Fed de Dallas, Robert Kaplan, disse na sexta-feira que espera “debates muito entusiasmados” sobre reduzir as compras de ativos, embora não tenha comentado sobre prazos específicos.

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Incerteza

Falar em reduzir as compras de ativos agora traz o risco de elevar os custos de financiamento quando o Fed tenta estimular a economia.

Mas reprimir opiniões diversas pode resultar em uma política pior mais tarde. Os pontos de inflexão econômica são difíceis de ver, a incerteza é alta e, nesses momentos, uma mistura de opiniões é importante para uma boa formulação de políticas.

“Em algum momento, fará sentido que eles discutam isso, e acredito que teremos diversidade de pontos de vista, mesmo entre os membros do conselho”, disse Luzzetti.

Falar em reduzir as compras de ativos agora traz o risco de elevar os custos de financiamento quando o Fed tenta estimular a economia (Imagem: Reuters/Chris Wattie)

Powell já fazia parte do Fed em 2013, quando os planos de reduzir os estímulos assustaram o mercado de títulos, abalaram os mercados acionários globais e aumentaram os juros dos empréstimos imobiliários nos EUA, deixando memórias dolorosas entre autoridades monetárias dos EUA.

Além disso, o Fed acabou de divulgar sua orientação futura em dezembro, segundo a qual as autoridades precisam ver “um progresso substancial” na inflação e no mercado de trabalho antes de reduzir os US$ 120 bilhões em compras mensais de títulos.

Powell também destacou na semana passada os mais de 9 milhões de americanos que ainda estão desempregados e disse que isso significa que o Fed está longe de sua meta de emprego.

Mas bancos de Wall Street têm elevado as previsões de crescimento para 2021, e alguns projetam a taxa de desemprego em menos de 5% no final do ano.

Se isso acontecer, pode ser difícil argumentar que não se trata de um “progresso substancial”, e autoridades do Fed que estão atualmente abertas a uma redução antecipada das compras de ativos podem se tornar líderes de consenso.

“Eles estão em um terreno desconhecido e inexplorado”, disse Nathan Sheets, economista-chefe do PGIM Fixed Income. “Isso exigirá alguns julgamentos bastante difíceis, e realmente acho que vários formuladores de políticas verão as coisas de forma diferente.”