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Divergência da Alphabet em relação ao resto do Grupo FAANG é um sinal de baixa?

06 maio 2019, 16:03 - atualizado em 06 maio 2019, 16:03
Google
Ações da Alphabet continuarão sob pressão, pelo menos no primeiro semestre de 2019

Por Haris Anwar/Investing.com

As ações da Alphabet (NASDAQ:GOOGL), empresa controladora do Google, divergiram em relação às outras ações de tecnologia com megacapitalização de mercado, depois que a potência da economia digital divulgou resultados desapontadores no primeiro trimestre. Desde a divulgação desses dados, no final de abril, essa divergência só tem aumentado.

Depois de dispararem 24% neste ano, os papéis do Google, que fecharam a US$ 1.189,55 na sexta-feira, caíram cerca 8% desde que ficaram abaixo das expectativas de receita dos analistas no dia 29 de abril, não se sustentando nos patamares recordes de quase US$ 1.300.

Isso ocorreu ao mesmo tempo em que os outros membros do chamado grupo FAANG, que inclui Facebook (NASDAQ:FB), Amazon (NASDAQ:AMZN) e Netflix (NASDAQ:NFLX), continuam em ascensão.

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Uma análise mais aprofundada do balanço recém-divulgado pela Alphabet pode nos ajudar a explicar o que está deixando os investidores nervosos em relação ao potencial crescimento futuro da companhia.

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Números mantidos em sigilo

Sem dúvida, os números do 1T da Alphabet desapontaram muito os investidores. A gigante dos mecanismos de busca não só registrou seu crescimento de receita mais lento desde 2015, como também mostrou que um dos seus negócios que mais geram receita, o YouTube, está sob pressão.

A receita do primeiro trimestre, de US$ 36,3 bilhões, ficou US$ 1 bilhão abaixo das previsões dos analistas. Ao mesmo tempo, o lucro por ação, de US$ 9,50, ficou muito aquém dos resultados apresentados no mesmo período do ano passado.

Talvez a maior surpresa negativa, responsável por fazer a ação ter a maior desvalorização desde 2012, tenha sido a amplitude da fraqueza em todas as suas métricas financeiras mais importantes. As receitas cresceram 17% ano a ano, em comparação com 26% no primeiro trimestre do ano passado, enquanto as margens da companhia caíram para 18%, contra 25% no ano passado.

Como se não bastassem todos esses reveses, os executivos da Alphabet conseguiram piorar ainda mais o sentimento dos investidores ao tentar colocar em sigilo os dados desse trimestre desapontador. A diretora financeira, Ruth Porat, se esforçou para amenizar as preocupações dos analistas em relação ao YouTube, culpando as flutuações cambiais e o timing das mudanças dos produtos pela desaceleração do crescimento, sem especificar quais foram essas mudanças ou por que provocaram tal desaceleração.

Em um comunicado aos investidores, Mark Kelley, analista da Nomura Instinet, afirmou: “Sem dúvida, este trimestre provocará uma redefinição das expectativas, principalmente para o setor de anúncios, enquanto os investidores buscam as razões para uma desaceleração tão significativa”, mas manteve sua recomendação de compra na ação.

Como afirmamos em nosso artigo antes da divulgação do balanço, o Google enfrentará dificuldades para manter o entusiasmo dos investidores em relação à ação, se a degradação em suas margens continuar e seus executivos se mantiverem de boca fechada em relação aos motores do crescimento futuro da empresa.

A companhia não divulgou o desempenho do seu segmento YouTube de forma separada nem sua receita com serviços na nuvem, embora essas duas áreas aparentemente estejam consumindo a maior parte das suas novas despesas. Essas unidades também são consideradas cruciais para o futuro crescimento do Google, na medida em que os anúncios de desktop da empresa estão caindo.

Amazon invade o território do Google

Outra possível ameaça às ações do Google neste momento é a emergência da gigante do comércio eletrônico, Amazon, como maior concorrente em pesquisas de produtos. Até agora, o mecanismo de pesquisa do Google era a primeira parada para os consumidores que buscavam produtos e serviços online, mas parece que isso está mudando.

Até agora, essa enorme vantagem competitiva permitia que a controladora do Google cobrasse preços premium de empresas e outros anunciantes que desejassem se promover no ambiente digital. Mas, à medida que os negócios de e-commerce da Amazon cresciam e as ofertas de produtos aceleravam, sua plataforma também começou a se transformar em uma alternativa ao mecanismo de busca.

Outra preocupação para o Google é que a área de anúncios digitais da Amazon se tornou a terceira maior plataforma de pesquisa desse tipo nos EUA, um pouco atrás do Google e do Facebook, de acordo com estimativas da EMarketer, uma empresa de pesquisa de tendências digitais.

Enquanto as vendas do primeiro trimestre no segmento “outros” da Amazon, mais focado em anúncios, saltou 34%, para US$ 2,72 bilhões, o crescimento do Google em cliques pagos despencou bastante, sendo de 39%, em comparação com 66% e 62% nos dois trimestres anteriores. Apesar de a receita da Amazon com anúncios ser pequena se comparada com as vendas de anúncios gerais do Google, ainda é grande o bastante para limitar o crescimento futuro da companhia, o que, evidentemente, impulsiona o preço das ações.

Em uma entrevista à Bloomberg TV, Porat reduziu a importância da ameaça da Amazon ao predomínio da Alphabet em anúncios digitais:

“Cerca de metade dos orçamentos publicitários nos EUA ainda são gastos offline. Noventa por cento do comércio nos EUA é offline, e nosso foco é que o ambiente digital tenha um papel importante nisso.”

Resumo

Em vista do fraco desempenho no 1T e da falta de visibilidade para 2019, consideramos que as ações da Alphabet continuarão sob pressão, pelo menos no primeiro semestre de 2019. Não recomendamos comprar seus papéis depois do recuo de 8% em relação à máxima histórica, pois acreditamos que, se o ambiente macro piorar, a ação será punida ainda mais, e o setor de tecnologia pode passar por outra correção.

Apesar disso, não acreditamos que a Alphabet entrará em um período sustentado de baixa. Seu predomínio nos mecanismos de busca e no mercado de anúncios digitais é difícil de superar. Em nossa visão, uma queda isolada em torno de 15-20% forneceria uma boa oportunidade para quem está de fora adquirir os papéis do Google.