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Distribuidoras de energia já têm atrasado pagamentos a geradores, diz Engie

30 abr 2020, 18:18 - atualizado em 30 abr 2020, 18:18
Desde meados de março as concessionárias de distribuição já registram mais de R$ 4,3 bilhões (Imagem: REUTERS/Charles Platiau)

Distribuidoras de energia do Brasil já têm atrasado pagamentos a geradores devido aos impactos da pandemia de coronavírus sobre o mercado elétrico, disseram executivos do grupo francês Engie (EGIE3) à Reuters nesta quinta-feira, defendendo que a situação evidencia a urgência de medidas para apoio ao setor.

Desde o agravamento da epidemia no país, em meados de março, as concessionárias de distribuição já registram mais de 4,3 bilhões de reais em perdas de receita devido à redução do consumo e à inadimplência, que triplicou, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Em meio a esse cenário, os ministérios de Minas e Energia e da Economia têm preparado um pacote de medidas para o setor que deve envolver a viabilização de empréstimos bancários para sustentar o caixa das distribuidoras, em operações que seriam posteriormente amortizadas por meio de cobranças nas tarifas.

“Gostaria de pontuar todo o esforço do governo e da Aneel, mas tem uma questão que é crucial, que é a velocidade desse processo. Porque alguns geradores, e nós mesmo, já não estão recebendo de algumas distribuidoras”, disse o presidente da Energia Sustentável do Brasil (ESBR), Edson Silva. A empresa, controlada pela Engie, opera a usina de Jirau, em Rondônia.

Ele destacou que a situação ainda é “pontual”, mas há uma preocupação com a chegada de maio, quando as distribuidoras terão que pagar faturas referentes a abril, mês integralmente impactado pela pandemia e medidas de isolamento contra o vírus.

“Não é porque elas não querem pagar, é que simplesmente não têm o recurso. Em geral são distribuidoras menores e que atuam em regiões com mais diferenças sociais, regiões mais pobres”.

Sem abrir o nome das concessionárias, o presidente da Engie no Brasil, Mauricio Bahr, disse que o movimento gera preocupação sobre possível “cascateamento” da crise de caixa já enfrentada pelas distribuidoras para outros segmentos do setor elétrico.

Engie
O presidente da Engie no Brasil, Mauricio Bahr, disse que o movimento gera preocupação sobre possível “cascateamento” da crise (Imagem: Instagram da Engie Brasil)

“Quando você não tem recurso, tem que escolher quem pagar… acaba chegando a uma ‘escolha de Sofia’. É mais fácil você não pagar os geradores e transmissores, do lado das distribuidoras, do que deixar de pagar impostos e outras coisas. Por isso (cobramos) essa velocidade nos empréstimos”, afirmou.

BNDES e aquisições

A Engie também deve aderir a programa do BNDES que suspende por até seis meses amortizações de empréstimos devido à crise.

“A gente imagina que já na semana que vem tenhamos aprovação do BNDES e bancos repassadores para esse pleito. Estamos pedindo para algumas usinas eólicas e também para Jirau”, disse Bahr.

Como outra medida de precaução em meio à pandemia, a controlada Engie Brasil Energia reduziu dividendos de 2019 para 56,8% do lucro, contra 100% nos anos anteriores, mas espera em breve voltar à política tradicional.

“O que fizemos este ano, face à crise, foi garantir caixa razoavelmente confortável na empresa até que isso passe e a gente tenha uma visão mais clara. Basicamente garantir que teríamos recursos para o plano de investimentos. À medida que as coisas fiquem mais claras, pode ser retomado”, disse Bahr.

Apesar da precaução, ele disse que a Engie não descarta olhar possíveis aquisições mesmo no atual momento.

“Essa avaliação é constante, desde que esteja alinhado à nossa estratégia e faça sentido… havendo alguma oportunidade, vamos olhar, sim, mas com a cautela requerida.”

Reduções contratuais

Entre medidas para reduzir impactos da menor demanda sobre as distribuidoras, a Aneel sugeriu permitir às concessionárias negociações consensuais para redução de contratos com geradores.

Aneel
A Aneel sugeriu permitir às concessionárias negociações consensuais para redução de contratos com geradores (Imagem: Facebook/Aneel)

Para o presidente da Engie, líder entre agentes privados no mercado de geração do Brasil, essa solução faz sentido e poderia fazer, sim, parte do pacote do governo para o setor.

“Não achamos que para um problema só existe um único remédio. Mas a redução de contratos faz sentido quando ambas as partes estão de acordo… a gente teria interesse de ver alguns contratos, mas precisaria ser definido um mecanismo, uma regra para essa descontratação”, afirmou Bahr.

Por outro lado, governo e a Aneel precisariam avaliar como viabilizar esses acordos, uma vez que geradores provavelmente priorizariam reduzir contratos com preços baixos para buscar revender a energia a cotações melhores no mercado livre, o que pode ir contra o interesse das distribuidoras, que prefeririam manter essa energia e dispensar contratos mais caros.

Além disso, o mecanismo só interessaria aos geradores se envolvesse uma descontratação por prazo maior, e não apenas durante a crise, disse Silva, da ESBR.

“Para que faça sentido precisa ser de longo prazo, porque nenhum gerador vai descontratar hoje para ficar com essa energia e vender a preço baixo (devido à sobreoferta). Teria que ser algo em que ele até estaria perdendo hoje, porém com expectativa de recuperação de preço (mais à frente)”, explicou.

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