Internacional

Disputa comercial EUA-China é maior risco de recessão global, diz Bernanke

05 jul 2019, 19:03 - atualizado em 05 jul 2019, 19:03
“Caso haja um acirramento da disputa, pode haver uma interrupção das cadeias de fornecimento e suprimento de importantes setores em nível global, o que afetaria negativamente o ânimo dos mercados” (Imagem: Pixabay)

Por Caio Rinaldi/Investing.com 

A disputa comercial entre Estados Unidos e China se apresenta, neste momento, como o maior desafio ao crescimento global e, sozinha, é o fator com maior potencial de gerar um ciclo recessivo no mundo. Esta é a avaliação do ex-presidente do Federal Reserve durante a crise financeira de 2008, Ben Bernanke.

“Há muita incerteza em torno das negociações e, se eu tivesse que apontar para um único fator de risco para recessão, seria a intensificação da disputa comercial”, declarou Bernanke, durante a Expert XP 2019, realizada pela XP Investimentos e com patrocínio do Investing.com.

O ex-presidente do Fed contextualizou sua avaliação. “Caso haja um acirramento da disputa, pode haver uma interrupção das cadeias de fornecimento e suprimento de importantes setores em nível global, o que afetaria negativamente o ânimo dos mercados.”

Onze anos após a crise financeira que atingiu as principais instituições do mercado, Bernanke fez um balanço das medidas implementadas à época, quando comandava a autoridade monetária norte-americana.

“O quantitative easing foi muito criticado quando tomamos a decisão de lançá-lo. Os programas de recompra de treasuries também geraram algum ruído. Havia a preocupação de que tais medidas poderiam provocar uma hiperinflação, um colapso do dólar, mas está claro que não ocorreu”, pontuou.

A sequência de 11 anos de crescimento da economia americana foi citada por Bernanke para reforçar sua avaliação. “Os EUA e o Reino Unido foram os primeiros países que usaram estas medidas e se recuperaram mais rapidamente que as demais”, lembrou.

“A economia estava muito mal, os juros já estavam em zero e não tínhamos muitas alternativas. Claramente, não quero cravar aqui que o QE é perfeito, pois preferimos trabalhar com taxas de juros”, disse. “Mas, olhando para trás, [o QE] ajudou na recuperação e os efeitos colaterais foram comedidos. Não houve uma nova quebra do sistema”, ressaltou o ex-presidente do Federal Reserve.

Questionado sobre a sustentabilidade do crescimento norte-americano após onze anos em expansão, Bernanke elencou fatores que podem provocar uma reversão. “As sequências de crescimento econômico não morrem de velhice, elas são assassinadas por três fatores: inflação muito alta e consequente alta dos juros; crises financeiras, como em 2008 e 2001; e choques e incertezas geopolíticas no cenário internacional”, explicou.

Em relação à política monetária nos Estados Unidos, Bernanke revelou que o Fed está estudando a implementação de novas ferramentas, de modo a garantir um comportamento mais saudável da economia. “Por muitos anos, a inflação norte-americana ficou ligeiramente abaixo da meta. Com o passar do tempo, acaba acumulando uma diferença importante. A partir deste quadro, a avaliação é de que pode haver mecanismos para compensar (para cima ou para baixo) eventuais diferenças na taxa de inflação”, comentou.

“No futuro, entregar a meta de inflação será demonstrar que podemos atingir o alvo de maneira sustentável, não apenas flutuar em torno da meta sem observar o comportamento mais amplo”, pontuou Bernanke.

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