Disparada do Ibovespa é armadilha? Veja o que junho reserva para índice
O Ibovespa (IBOV) iniciou o mês entregando um belo presente aos investidores posicionados em bolsa. O índice disparou 2,06%, a 110.565 pontos, apoiado pelo cenário exterior (bolsas americanas subiram forte) e as commodities, com o preço do petróleo e do minério de ferro impulsionando Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4).
Apesar do otimismo de que o Ibovespa vá entregar mais retornos, para junho analistas já começam a vislumbrar uma mudança de cenário, com as commodities sendo deixadas de lado enquanto os papéis de companhias que se valorizam com a queda dos juros ganham mais visibilidade.
No acumulado do ano, educação (+55,3%), construtoras (+27,4%) e varejo (+13,9%) entregaram o melhor desempenho.
Por outro lado, o setor de mineração e siderurgia (-9,6%) continuou em queda após dados econômicos decepcionantes vindos da China, destaca a XP Investimentos em relatório enviado a clientes.
De acordo com João Piccioni, analista da Empiricus Research, na estreia do Giro do Mercado no Money Times (assista a entrevista completa acima), a bolsa tem tudo para continuar nesse pique de alta se o cenário externo não atrapalhar.
Porém, ele afirma que o índice pode virar armadilha, “no sentido de quando a gente olha as commodities, o setor chegou em um ponto de exaustão”.
“Commodities vão continuar pressionadas. Isso acaba pegando o Ibovespa“, afirma.
Cautela com Ibovespa
O BB Investimentos destaca que 9 em cada 10 investidores querem saber se é o momento de privilegiar a alocação em companhias cíclicas em suas carteiras de ações.
“Hoje, nossa visão é a de que esse movimento deve ser feito com bastante cautela, uma vez que incorporar maior volatilidade aos portfólios pode implicar em um balanço desfavorável de risco e retorno”, coloca.
A Ágora Investimentos também expressa o seu “pé atrás” com o índice, afirmando que a alta do Ibovespa em junho depende muito da melhora dos fundamentos econômicos e corporativos – um movimento que deve ser mais demorado do que os ajustes vistos nos juros futuros.
“Dessa forma, continuamos entendendo que as alocações dos investidores deveriam ser pautadas, essencialmente, em nomes de qualidade, com capacidade comprovada de atravessar ciclos econômicos sem maiores solavancos em seus resultados e que, ao mesmo tempo, ofereçam balanços desalavancados em termos de dívidas e/ou capacidade de repasse de inflação nos preços de seus produtos”, coloca.
Já o Safra lembra que a normalização da capacidade de produção e o desaquecimento da demanda por bens manufaturados têm contribuído para a queda do preço das commodities no mercado internacional, favorecendo um processo de desinflação no Brasil.
“A redução da inflação beneficia o poder de compra. Assim, elevamos nossa estimativa para o consumo das famílias e, consequentemente, aumentamos a projeção de PIB real desse ano para 1,4%”, completa.
É só o começo?
A XP atualizou sua projeção para o Ibovespa para 130 mil pontos ao final de 2023, frente aos 128 mil pontos projetados anteriormente. A revisão se deu devido à melhora nas taxas de juros futuras, de acordo com os analistas.
Na análise da corretora, o Brasil continua com um desempenho superior a grande parte dos mercados globais. Isso devido aos atuais níveis de valuation do principal índice da B3, que seguem “bastante atrativos”, destacam.
Os analistas afirmam que, atualmente, o preço por lucro (P/L) projetado para o Ibovespa é de 7,4 vezes, o que representa um desconto de mais de 30% em relação à média histórica de 11 vezes.
Mesmo retirando as empresas de commodities, ou somente Vale e Petrobras — com maiores pesos no índice —, os preços por lucro seguem abaixo da média. Nesses cenários, os indicadores vão para 10 vezes e 9,3 vezes, respectivamente.
Com Giovana Leal