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Disney ataca em todas as frentes, mas será que essa iniciativa é sustentável?

06 ago 2019, 13:23 - atualizado em 06 ago 2019, 13:23
Os números projetados para o Disney não justificam tanto entusiasmo

As ações da Walt Disney (DIS) levaram quase quatro anos para romper a máxima histórica de US$ 122, atingida pela primeira vez em agosto de 2015. O papel agora se desvalorizou um pouco em relação à nova máxima recorde de US$ 147, alcançada em julho.

O conglomerado do setor de entretenimento subiu cerca de 30% neste ano, graças a um desempenho espetacular nas bilheterias e à grande expectativa em relação ao seu novo serviço de streaming Disney.

Mas, apesar de a Disney ser uma empresa sólida, os investidores se apressaram com as comemorações. Os números projetados para o Disney não justificam tanto entusiasmo, seus negócios de mídia continuam sendo um ponto de atenção e seus números de bilheteria são mais uma tempestade perfeita do que uma indicação do que está por vir.

Parques geram receita estável

A receita da Disney proveniente dos seus parques e hotéis talvez seja uma das fontes de recursos mais estáveis de todo o setor de entretenimento, e a companhia trabalha intensamente para se expandir nessa área.

No semestre terminado em março, os parques da Disney geraram US$ 13 bilhões, 5% a mais do que no mesmo período do ano fiscal de 2018.

Neste ano, a empresa fez uma grande expansão no DisneySea de Tóquio, além de abrir uma nova atração de Guerras nas Estrelas em seu resort Disneylândia em Anaheim. A mesma atração será inaugurada em Orlando no dia 29 de agosto.

O sucesso da Disney com seus parques e hotéis não se limita à receita crescente, já que sua receita operacional está aumentando a um ritmo ainda mais rápido.

Embora a receita tenha crescido 5% nos últimos seis meses, a receita operacional aumentou 12% na comparação anual. A Disney está conseguindo elevar a quantidade e os gastos dos visitantes, bem como o número de noites ocupadas em seus hotéis.

No último trimestre, houve um aumento de 1% nas visitações, e o gasto per capita subiu 4%. De maneira geral, trata-se de uma fonte de receita extremamente sólida para a Disney, e considero que continuará assim no futuro próximo.

Cancelamento de assinaturas ainda gera preocupação com a ESPN

Sem dúvida a Disney foi afetada pelos cancelamentos de assinaturas de TV a cabo. No ano de 2018 fiscal, a ESPN perdeu 2 milhões de assinantes, que agora são cerca de 86 milhões. Em 2011, a Disney possuía 100 milhões de assinantes. A tendência continuou no trimestre passado, quando a empresa divulgou uma queda de 2% na receita com assinaturas da ESPN.

O lado positivo é que, apesar de o tradicional segmento de TV da Disney estar enfrentando dificuldade com os assinantes, as taxas mais altas de afiliação cobradas pela Disney conseguiram compensar a queda da receita com assinaturas, e o segmento acabou crescendo 3%. Sua receita operacional permaneceu a mesma.

A rede de mídia da Disney era e continua sendo um ponto de atenção para a empresa.

As dificuldades da companhia nessa área a fizeram tentar reviver seu império de mídia entrando no segmento de streaming através do Disney.

Gráfico Disney

Disney será popular, mas não uma panaceia

O entusiasmo com o Disney+ é uma das principais razões para essa alta tão grande da ação neste ano. A expectativa é que o serviço esteja disponível para os consumidores norte-americanos em 12 de novembro, ao preço de US$ 6,99 por mês. Trata-se de uma política de preços extremamente agressiva, levando em consideração que os custos da Netflix (NFLX) são duas vezes maiores. Mas grande parte desse entusiasmo precificado na ação levará anos para gerar resultado.

A Disney anunciou recentemente que espera ter de 60 a 90 milhões de assinantes até o fim do ano fiscal de 2024. Ao preço individual de US$ 6,99, considerando que a Disney atinja 75 milhões de assinantes, o Disney deverá gerar US$ 500 milhões de receita mensal, ou US$ 1,5 bilhão a cada trimestre.

Isso agregaria 10% à atual receita trimestral da Disney em cinco anos. Além disso, a Disney espera gastar pesado nos próximos três anos para financiar o projeto e fazê-lo crescer. A empresa estima que o Disney será lucrativo apenas em 2024.

Não fiquei impressionado com os números de crescimento esperados pela Disney. A Netflix possui 150 milhões de assinantes, e o fato de a Disney adicionar apenas 10% em receita trimestral ao longo de cinco anos não é o ressurgimento que muitos esperam.

Uma bilheteria há 11 anos em gestação

A Disney ultrapassou seu próprio recorde de bilheteria no final de julho, ao gerar US$ 7,67 bilhões após o último fim de semana do mês. E as novidades do ano ainda não acabaram.

No final deste ano, a empresa lançará as produções “Star Wars: The Rise of Skywalker” em dezembro, bem como as sequências de “Frozen 2” em novembro e “Maleficent: Mistress of Evil” em outubro.

Os filmes da Disney tiveram um desempenho extremamente positivo neste ano. Com destaque para “Vingadores: Ultimato”, que gerou US$ 2,79 bilhões em todo o mundo, a Disney já lançou quatro filmes de US$ 1 bilhão neste ano (“Ultimato”, “Capitão Marvel,” “Aladdin” e “O Rei Leão”).

A Disney possui franquias fortes, principalmente com sua aquisição da 21st Century Fox. Mas os investidores devem considerar os resultados deste ano como eles são: um valor extraordinariamente atípico. Não quero dizer que a Disney não vai criar novos sucessos, mas foram necessários literalmente 11 anos para que a empresa tivesse um ano como este (desde o filme “Homem de Ferro” lançado em 2008).

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Conclusão

A Disney sem dúvida é uma empresa forte. Mas realmente acredito que a valorização da Disney neste ano se baseou, em grande medida, no entusiasmo com o Disney+, o que é prematuro em minha visão, sem falar que os resultados de bilheteria serão quase impossíveis de replicar.

Dito isso, os papéis da Disney não estão excessivamente caros neste momento. Seu índice P/L de 12 meses a 15,9 está abaixo da média de 5 anos, a 18,2, e seria uma clássica ação de renda se seus dividendos retornassem mais do que apenas 1,24%.

Não acredito que US$ 145 sejam um ponto de entrada especialmente atraente para novos investidores, em vista das razões para a última valorização dos papéis da empresa. Os investidores interessados em iniciar uma posição de longo prazo podem começar a fazê-lo aos poucos, pois a Disney ainda é uma empresa sólida para se ter na carteira. Mas eu preferiria comprar as correções, em vez de pagar o preço cheio que o mercado demanda hoje.

Os resultados do 3T19 fiscal serão divulgados na terça-feira, 6 de agosto, após o fechamento do mercado;

– Expectativa de receita: US$ 21,46 bilhões;

– Expectativa de lucro por ação: US$ 1,72.