Dirigentes do Fed começam a gostar da ideia de uma nova meta de inflação nos EUA
O debate das metas de inflação parece não ser uma exclusividade do Brasil. Os dirigentes distritais do Fed podem estar começando a gostar da ideia de rever a meta da inflação americana para além dos 2%.
Em uma entrevista concedida à Reuters ontem, Neel Kashkari, do Fed de Minneapolis, deixou aberto a possibilidade de um ajuste, mas somente diante de condições exigentes e de um recuo da atual inflação ao patamar dos 2%.
Kashkari não foi o único dirigente a se pronunciar sobre o assunto. No final de abril, o presidente do Fed da Filadélfia, Patrick Harker, também deu a entender que a meta poderia ter um novo cenário em algum momento.
Como Kashkari, Harker disse que “não estamos mudando agora”, o que pareceu deixar em aberto a opção de alterar a meta mais tarde, embora ele também não tenha exigido uma mudança.
Já Jerome Powell, o presidente do Banco Central norte-americano, disse oposto a qualquer mudança nas diretrizes a serem perseguidas pela política monetária atual.
Apesar da sua posição, Powell se compromete a revisar a estrutura operacional do Federal Reserve ao fim do seu mandato em 2025. É possível, então, que essa circunstância seja utilizada pelos dirigentes para um reexame da atua meta de inflação.
Debate sobre meta de inflação coincide com aperto monetário mais agressivo do século
O debate sobre uma nova meta de inflação coincide com o aperto monetário mais agressivo desde a virada do século.
Para combater a inflação, atualmente em um nível 100% maior do que a meta estipulada, o Federal Reserve empregou 14 meses consecutivos de aumentos agressivos de juros. Essa escalada tem gerado críticas em determinados setores do mercado e da política americana.
O argumento é que a busca pela meta de inflação, via aumento de juros, não pode ocorrer à base de uma alta dolorosa do desemprego.
Nas projeções atuais, o Federal Reserve espera que a taxa de desocupação dos EUA supere os 4,5% até o fim de 2023.
Mas há quem pondere que os riscos embutidos a uma mudança na meta ofusquem os benefícios.
De acordo com a ala mais ‘hawkish’ dentro da política monetária, nos anos imediatamente posteriores a adoção da meta atual, houve leituras consistentes abaixo de 2%.
Assim, um aumento da meta aumentaria também as expectativas de inflação e ajudaria as pressões de preço no mundo real desancorar dos 2%. Atualmente, a inflação dos EUA acumulada nos últimos 12 meses está em 4,9%.