Internacional

Brasil irá se arrepender de cutucar o tigre chinês com vara curta, diz Financial Times

28 dez 2018, 11:38 - atualizado em 28 dez 2018, 11:51
(Valter Campanato/Agência Brasil)

“Bolsonaro se arrependerá de iscar o tigre chinês”. É com esse título que Matias Spektor, professor de Relações Internacionais da FGV (Fundação Getúlio Vargas), inicia análise publicada no Financial Times sobre a política diplomática do presidente recém-eleito Jair Bolsonaro, a medida que a aproximação com os EUA e o distanciamento com a China podem se traduzir em menor crescimento para o País e retaliações por parte do país asiático, afetando emprego e renda no Brasil.

Inicialmente, o professor destaca que, durante a campanha eleitoral, Bolsonaro afirmou diversas vezes que a China “não quer comprar o que está no Brasil”, mas sim “comprar o Brasil”. Para Spektor, “isso não tem sentido”, uma vez que os chineses são somente o décimo terceiro no ranking de IED (Inevstimento Estrangeiro Direto).

Além disso, não somente a China é o principal mercado importador de produtos brasileiros como o País desfruta de superávit comercial de US$ 20 bilhões com o país asiático.

Promessa do Papai Noel Trump

Ao atacar Pequim, Bolsonaro enxerga uma oportunidade no meio da guerra comercial entre EUA e China para conseguir expandir sua influência na América Latina e, como contraparte, obter benefícios da Casa Branca. Novamente, “uma convicção irracional” por parte do presidente recém-eleito, segundo Spektor .

“Contrabalançar as perdas do Brasil em um confronto com a China exigiria grandes concessões dos EUA em comércio e investimento. Não há evidências que sugiram que o Sr. Trump estaria disposto ou seria capaz de entregar”, dispara o professor, ressaltando a desconexão de estratégia diplomática do novo governo.

Em adição, o cenário político conturbado nos EUA, com perda pelos republicanos da US House of Representatives, pesa contra Bolsonaro, a medida que sua postura contra a proteção de minorias, os direitos humanos e a mudança climática vão na contramão do que os democratas defendem. Ou seja, qualquer aproximação com o Brasil terá resistência democrata.

Inflexibilidade reina

Mesmo assim, o presidente recém-eleito parece inflexível: tanto Bolsonaro quanto sua equipe acreditam que a China estará em posição mais fraca caso haja um confronto entre Washington e Pequim.

“Se ele continuar tentando agradar os EUA provocando a China, poderá facilmente arrastar toda a América Latina para uma disputa que provavelmente deixará todo mundo em situação pior”, conclui o professor, afirmando ainda que “a diplomacia desajeitada, alimentada pelo otimismo ingênuo, nunca é uma diretriz sensata para a política”.

Para a posse, a China enviará Ji Bingxuan, vice-presidente do Comitê Permanente da Assembleia Popular, parlamento chinês. Na ocasião da posse da ex-presidenta Dilma Rousseff, o país asiático enviou o vice-presidente Li Yuanchao.

 

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