Política

Diplomacia brasileira traduz diversidade do país, diz chanceler

23 ago 2020, 9:56 - atualizado em 23 ago 2020, 9:56
Ernesto Araújo
O chanceler conversou sobre os principais tópicos das relações internacionais do país e os episódios mais recentes do cenário mundial (Imagem: REUTERS/Luis Echeverria)

Considerado peça-chave no governo federal, Ernesto Henrique Fraga Araújo, 53 anos, diplomata de carreira e atual ministro das Relações Exteriores afirma que a pandemia do novo coronavírus revelou o verdadeiro espírito da tradição diplomática para o povo: ajudar conterrâneos ao redor do mundo a retornarem à pátria e viabilizar o comércio e as relações com países em crise, mesmo em seus piores momentos.

Em entrevista ao programa Brasil em Pauta, da TV Brasil, o chanceler conversou sobre os principais tópicos das relações internacionais do país e os episódios mais recentes do cenário mundial: a pandemia do novo coronavírus, a explosão no Líbano, os acordos no Oriente Médio e as eleições norte-americanas.

A entrevista com o chanceler Ernesto Araújo vai ao ar hoje (23), às 19h30. A entrevista também poderá ser assistida pelo canal da TV BrasilGov no YouTube.

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Veja a entrevista:

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Com a pandemia de covid-19 e a reação de fechamento das fronteiras de alguns países, vários brasileiros se encontraram “ilhados” e sem possibilidade de retorno ao país.

Um esforço do governo federal, guiado pelo Itamaraty, foi feito para que essas pessoas pudessem escolher voltar ao país em segurança, com protocolos sanitários que, à época, ainda não eram oferecidos. Segundo Araújo, a operação de repatriação dos brasileiros no exterior no início da pandemia foi “a maior operação desse tipo já feita na nossa história”.

“Ajudamos, de diferentes maneiras, o retorno de 38 mil pessoas. Conseguimos traduzir concretamente o conceito de ‘ninguém fica para trás’ que foi adotado nesta gestão”, argumentou Araújo.

Segundo Araújo, a operação de repatriação dos brasileiros no exterior no início da pandemia foi “a maior operação desse tipo já feita na nossa história” (Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Para ele, foi bonito ver os vídeos que as pessoas fizeram. “Não foi um embarque normal. Elas chegam aqui com bandeira, com a sensação de fazer parte de algo maior.

É a missão do nosso governo: nos conectar com o povo brasileiro e fazer o que os brasileiros precisam. Nada mais nobre do que ajudar pessoas que precisam voltar para a pátria quando enfrentam dificuldades. É algo que remete à nossa vocação básica de diplomatas do Itamaraty.”

Imagem no exterior

Sobre críticas vindas do exterior às políticas internas brasileiras, Ernesto Araújo afirmou que o Itamaraty tem feito um trabalho constante de desmistificação e de aproximação da realidade.

O chanceler avaliou que a representação diplomática brasileira em diversos escritórios e consulados é uma forma estratégica de vínculo. “Tem aparecido uma imagem muito distorcida do Brasil.

Queremos mostrar lá fora a realidade. Por mais que se possa fazer isso a distância, com as redes sociais, queremos apresentar a imagem de um país que está mudando rapidamente, que está superando um sistema de atraso, de corrupção. Temos uma política ambiental sólida, uma política de direitos humanos sólida, e isso precisa chegar ao exterior”, disse.

Fronteiras terrestres

Sobre o fechamento das fronteiras terrestres com os países vizinhos, Araújo revelou que o governo brasileiro já se considera apto a retomar o fluxo normal de viajantes, e que ainda há resistência dos países vizinhos por razões diversas.

Segundo o diplomata, a orientação do presidente Jair Bolsonaro é retomar a normalidade assim que possível, mas respeitando o tempo dos países vizinhos. “Na maioria dos casos, são os outros países que ainda não se sentem preparados para isso [abertura bilateral], por diferentes razões. O comércio fronteiriço é muito importante. Há uma preocupação com a vida das pessoas e com a realidade delas.”

Aeroportos abertos

O diplomata lembrou que o Itamaraty recebeu elogios de diversos países por ter mantido uma política de fronteiras aéreas abertas e ter imposto o mínimo de restrições para o comércio e o tráfego de pessoas. “Vários países reconheceram a iniciativa brasileira e elogiaram.

Isso, o fechamento de fronteiras, dificulta não só a vida de quem precisa fazer conexões aéreas, mas, em outra dimensão, o trânsito de insumos importantes.”

Líbano

Segundo Ernesto Araújo, a comunidade libanesa no Brasil – a maior do mundo fora do Líbano – nos torna especialmente “credenciados” para atuar em favor do país, que antes mesmo da explosão já enfrentava dificuldades econômicas e políticas. “Estamos presentes a partir dos nossos valores e da diversidade da sociedade brasileira. O que acontece agora é uma atualização da nossa tradição, da tradição do Itamaraty.”

O Brasil enviou, no dia 12 de agosto, a primeira remessa de ajuda humanitária para o país, com 6 toneladas de medicamentos, comida, insumos de saúde e doações levantadas pelos cerca de 12 milhões de libaneses e descendentes que vivem no Brasil.

Segundo o chanceler, a ligação com o Líbano traduz exatamente a missão da diplomacia brasileira em geral, e mostra o valor da diversidade na sociedade brasileira. “De maneira mais profunda, isso, a missão de paz, está sendo um símbolo do nosso desejo de fazer algo pelo futuro do Líbano – um país que enfrenta desafios há décadas. Não é só uma contribuição material, mas política. É a nossa contribuição para a paz e a prosperidade da região”, afirmou.

Israel

Sobre Israel e a geopolítica delicada do Oriente Médio, o chanceler brasileiro acredita que o avanço da atual gestão foi significativo e sem paralelo. Para justificar a afirmação, Araújo cita acordos comerciais inéditos entre países árabes – que investiam pouco no Brasil, apesar de manter relações diplomáticas – e o que chamou de “a queda do viés anti-Israel”.

Segundo o diplomata, o governo busca levar uma visão renovada para o Oriente Médio. “É um momento muito interessante.

O momento combate a visão de que estávamos nos afastando da região, e que as decisões em relação ao estado de Israel significavam uma opção contra os países árabes.

Segundo o diplomata, o governo busca levar uma visão renovada para o Oriente Médio. “É um momento muito interessante (Imagem: José Cruz/Agência Brasil)

E isso não foi absolutamente o caso. Pela primeira vez, fechamos um pacote de investimentos de US$ 10 bilhões com a Arábia Saudita. Isso é uma demonstração de confiança extraordinária.”

Araújo afirmou que há um crescimento não apenas quantitativo nas relações diplomáticas com o Oriente Médio, mas qualitativo. A garantia da normalidade jurídica, da manutenção dos termos legais dos contratos, a ausência de superfaturamentos, desvios e problemas de corrupção em geral são o grande “ponto de mudança”, avalia.

“Israel tem interesse na harmonia e capacidade de entendimento que nós trazemos. É a noção de levar entendimento sem deixar de ser o que somos – e é isso que está acontecendo no Oriente Médio. É construir a paz a partir das identidades dos povos.”

Mitos da relação com a China

O chefe do Itamaraty desqualificou afirmações negativas sobre os elos diplomáticos entre o Brasil e a China, e ressaltou que ambos são parceiros econômicos extremamente conectados e que não há qualquer animosidade entre os dois países. “A ideia de que Brasil e China enfrentam um impasse diplomático é extremamente falsa. Não há nenhum fato para apoiá-la.

O Brasil tem uma qualidade de relação superior à de outros grandes parceiros. Temos competência e competitividade de exportadores. Mas isso é um mito, uma disputa de narrativas”, argumentou.

Eleições norte-americanas

Sobre o resultado das eleições presidenciais norte-americanas, que devem acontecer em novembro, Ernesto Araújo disse que o vínculo construído entre os dois países é de mútua colaboração e que, numa eventual vitória democrata, não haveria nenhum prejuízo para as relações entre os dois países.

“Eu admiro muito o trabalho do presidente Trump, encontramos muitos interesses comuns. Mas trabalhamos com os Estados Unidos a partir de nossas convicções e dos nossos interesses. Se mudarem, não vamos nos desviar das nossas convicções”, concluiu.