Dinheiro novo para a próxima safra de café esbarra na dificuldade de renegociar dinheiro velho
A safra de café está praticamente concluída, a maior parte da venda foi a preços mais baixos (só agora está reagindo) e daqui para frente começa a corrida por recursos para o próximo ciclo. Mas o nível de endividamento dos produtores versus a dificuldade dos bancos em aceitarem a renegociação de linhas do BNDES (programa Pro-CDD Agro) elevam o alerta no setor.
Numa avaliação ponderada por Janio Zeferino, consultor, a dívida total porteira adentro gira entre R$ 20 e R$ 25 bilhões, sendo que só do Funcafé estaria na casa dos R$ 5 bilhões. “É muito dinheiro”, diz ele, adicionando que a opção de renegociar, oferecida pelo banco de fomento, é a única existente para o produtor.
A questão se torna mais explosiva porque os bancos que se recusam a renegociar acabam penalizando ainda mais o produtor que é obrigado a renovar as operações, juntando mais custos. O CEO da AGroEasy lembra que nessa renovação é acrescida de juros de 8%, entre 4,5% e 5% de seguro agrícola, em torno de 1% de registro em cartório e 2% de projeto.
“Para os bancos também não é vantagem fazer o produtos renovar, porque a dívida depois de 3 a 4 anos pode aumentar até 50%”, explica. Ou seja, vai ficando impagável.
Quanto à judicialização, como os arrozeiros gaúchos estão promovendo contra os bancos – e que Money Times já publicou (20/8, veja em Leia também), Jânio Zeferino entende que o problema se arrasta na Justiça: “O produtor pode ganhar na 1ª instância, mas os bancos levam a disputa até o STJ (Superior Tribunal de Justiça)”.
Pode haver alguma saída proximamente, segundo pensa o consultor. Deve estar para sair o Fundo de Aval Fraterno, promessa do governo dentro Plano Safra, e que ajudará a amenizar o crédito a descoberto dos bancos (a linha é do BNDES, mas o ônus é do sistema financeiro), além de possibilitar que instituições lançam suas próprias linhas de crédito.
Mercado
Embora haja controvérsia sobre a produção de café em 2019 – o mercado estima entre 50 e 52 milhões de sacas, o que deve se conhecida daqui uns dias – se espera que em 2020 a produção seja até 12% menor.
Isso deve dar, de acordo com Jânio Zeferino, um reforço nos preços a partir de janeiro na bolsa de commodities de Nova York.
Não se desconsidera, contudo, o efeito climático das chuvas regulares até o final do ano, contribuindo para a formação dos grãos que vão ser colhidos a partir de abril maio do ano que vem.
Na safra atual, de acordo com Zeferino, os preços estiveram mais fracos no primeiro semestre e reação dos últimos dias foi sentida nas telas da ICE Futures. Nesta sexta (27), os contratos para 2020 se elevaram entre 10 e 15 pontos.