Internacional

Dilema de Draghi: estímulo grande, mas o quão grande?

06 set 2019, 15:39 - atualizado em 06 set 2019, 15:39
Mario Draghi
A expectativa é que Draghi apresente um novo plano de estímulo na próxima quinta-feira (Imagem: REUTERS/Ralph Orlowski)

O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi –reconhecido por muitos como o responsável por salvar o euro sozinho durante o pior de sua crise– precisará realizar uma nova mágica na próxima semana em sua penúltima reunião no comando da autarquia.

A economia da zona do euro está em dificuldades e a inflação está preocupantemente fraca, pressionando o banco central a impulsionar o bloco monetário de 19 membros, como aconteceu várias vezes na última década.

A expectativa é que Draghi apresente um novo plano de estímulo na próxima quinta-feira, até porque outras instituições, principalmente o Federal Reserve, também estão realizando afrouxamentos.

Mas a parte mais difícil será montar esse pacote.

O BCE tem uma série de ferramentas à sua disposição, mas cada uma delas apresenta complicações, desde eficácia questionável e grandes efeitos colaterais até a oposição direta de certas autoridades importantes.

O problema é que os maiores problemas do bloco estão além do controle do banco central: nenhum estímulo do BCE poderá entregar um acordo comercial entre os Estados Unidos e a China, alavancar o crescimento chinês ou garantir a assinatura de um acordo para o Brexit.

Portanto, o melhor que Draghi pode esperar é manter a confiança por tempo suficiente para que os governos façam seu trabalho.

É uma aposta perigosa, argumentam alguns de seus colegas. O BCE gastou a maior parte de seu poder de fogo em anos de estímulo, por isso precisa escolher cuidadosamente suas lutas e preservar suas armas para uma crise real.

O ponto mais controverso no debate da próxima quinta-feira será se o BCE deve retomar a compra de ativos, comumente conhecida como afrouxamento quantitativo.

Essa é a arma mais poderosa do BCE, mas mais de meia dúzia de autoridades, incluindo os líderes dos bancos centrais da Alemanha, França, Holanda e Áustria, expressaram ceticismo em relação à necessidade.

Sem a compra de títulos, dificilmente o pacote será visto como forte o suficiente, e há risco de os mercados se frustrarem.

Uma saída conciliatória poderia ser a aprovação de um esquema relativamente pequeno de compras para pavimentar as condições financeiras.

Um argumento intangível a favor de um pacote mais poderoso é solidificar o legado de Draghi. Com Christine Lagarde assumindo o cargo em 1º de novembro, o pacote de 12 de setembro pode ser a última grande jogada de Draghi para orientar as políticas e consolidar seu papel como líder do euro.

Outra ferramenta é ajustar a orientação da taxa de juros do banco, definindo melhor as condições necessárias antes que as taxas possam subir. Essa orientação “reforçada” aumentaria ainda mais as expectativas de aumento da taxa e pouparia ao BCE a necessidade de modificá-la a cada poucos meses.

“Dada a causa da desaceleração, seria um erro esperar que a política monetária fizesse tudo”, afirmou em uma entrevista recente o chefe do banco central francês François Villeroy de Galhau.

“A política monetária do BCE está cumprindo seu dever, mas não pode fazer tudo, e certamente não pode realizar milagres”.

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