Saúde

Dificuldade de acesso agrava crise sanitária em Manaus, diz prefeito

19 jan 2021, 15:22 - atualizado em 19 jan 2021, 15:22
Davi Almeida
Segundo Almeida, depois que o aumento do consumo de oxigênio medicinal superou a capacidade de produção das fornecedoras locais, parte do produto passou a ser adquirido de outras regiões  (Imagem: Dhyeizo Lemos / Semcom)

O prefeito de Manaus, Davi Almeida, disse hoje (19) que o enfrentamento ao novo coronavírus no Amazonas é dificultado pelo que ele classificou como o “isolamento” do estado em relação ao resto do país – afastamento que ele associou à preservação da Amazônia.

“Este povo que preserva a floresta e que vive no isolamento é punido por preservar”, declarou Almeida durante a cerimônia que marcou o início da vacinação dos primeiros 20 mil profissionais da rede municipal de saúde. “A punição foi tão grande que pagamos com mortes”, acrescentou.

Ao falar sobre as dificuldades de acesso e os desafios logísticos para transportar insumos hospitalares de outras regiões do país para Manaus, Almeida disse não crer que qualquer outra cidade brasileira venha a enfrentar problemas como os registrados na capital amazonense na semana passada, quando hospitais públicos e privados chegaram a ficar sem oxigênio medicinal.

“Em nenhuma cidade do Brasil vai acontecer o que aconteceu com Manaus porque [no resto do país], em 36 horas, qualquer caminhão, qualquer transportadora, entrega o produto de que hoje precisamos”, disse o prefeito ao criticar a não-pavimentação da BR-319, rodovia que liga Manaus a Porto Velho (RO).

Segundo Almeida, depois que o aumento do consumo de oxigênio medicinal superou a capacidade de produção das fornecedoras locais, parte do produto passou a ser adquirido de outras regiões e transportado até Belém, de onde é levado para Manaus em balsas, em uma viagem que chega a durar cinco dias.

“Em cinco dias morrem todos”, disse Almeida.

“Será que o Brasil e o mundo não percebem que aquilo que deveria contar a nosso favor em função da preservação ambiental, serviu como uma sentença de morte” disse Almeida, que completou “Que lógica há nisso?” disse o prefeito, criticando as manifestações populares contrárias ao fechamento de atividades não-essenciais ocorridas em Manaus, em dezembro.

“Muito do que estamos passando hoje ocorre em função de questões políticas. Se lá atrás tivéssemos obedecido aquele decreto [do governo estadual] de distanciamento, não teríamos passado por este vexame”, comentou Almeida, classificando os atos como “movimentos de insubordinação e desobediência civil”.

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Manaus recebeu 40 mil doses das 256 mil unidades da vacina contra o novo coronavírus que o Ministério da Saúde (Imagem: Renato Alves/ Agência Brasília)

Vacinas

Manaus recebeu 40 mil doses das 256 mil unidades da vacina contra o novo coronavírus que o Ministério da Saúde entregou ontem (18) a noite ao governo do Amazonas.

Ao participar, esta manhã, da cerimônia de vacinação dos primeiros profissionais da rede municipal de saúde, Almeida disse que esperava que a capital amazonense recebesse um maior volume de imunizantes, já que a cidade concentra mais da metade da população e o maior número de hospitais do estado – para se ter ideia, não há Unidades de Terapia Intensiva (UTI) no interior do estado.

“Não entendemos a divisão de apenas 40 mil doses para a cidade e esperamos que, nas próximas divisões, Manaus seja melhor contemplada”, disse o prefeito, acrescentando que só em Manaus há mais de 56 mil profissionais de saúde. Como cada pessoa precisa receber duas doses da vacina para desenvolver proteção contra o vírus, a prefeitura foi obrigada a rever seus planos.

“Íamos a 43 pontos de saúde fazer a vacinação [dos profissionais do setor]. Com a diminuição do número de vacinas, vamos reprogramar, nas próximas horas, para irmos até as unidades de saúde e, já esta tarde, vacinarmos majoritariamente aqueles que estão diretamente envolvidos no enfrentamento a covid-19, aqueles que estão na linha de frente”, disse o prefeito, revelando estar em contato com o governador de São Paulo, João Dória, e com representantes de um laboratório farmacêutico particular, para tentar adquirir mais doses da vacina.

De acordo com o prefeito, a secretaria municipal de Saúde tem capacidade para vacinar até 60 mil pessoas por semana.

Mesmo assim, ele acredita que a dificuldade de adquirir o produto no mercado internacional retardará o momento em que toda a população estará vacinada.

“A vacinação de toda a população vai acontecer durante um ano, no mínimo. Até porque não há fabricação de vacina suficiente para o mundo. Eu acredito que, em um ano, ainda não tenhamos vacinado todo mundo”, comentou o prefeito.

Para a secretária municipal de Saúde, Shádia Fraxe, o momento requer que a população redobre os cuidados, seguindo as orientações básicas.

“Como médica, digo que a primeira dose da vacina não nos garante imunidade. Tomem cuidado. Não relaxem. Não depositem todos os cuidados na primeira dose. Quatorze ou 20 dias após tomar a primeira dose é preciso tomar a segunda. E são necessários mais 40 dias para [a pessoa adquirir] imunidade. Portanto, deixo aqui este recado: mantenham o distanciamento social, o uso de máscaras, a lavagem das mãos. Todos precisamos nos proteger e proteger nossas famílias e nossos amigos”.

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