Dica pontual: Investimento é permanente
Em todos os meus anos de experiência no mercado financeiro sempre ouvi pedidos de dicas de ações. Aliás, é o que mais me pedem. Umas dez vezes por semana.
Eu até dou a dica, mas e daí? Será que esta pessoa saberá o que fazer com ela? No mercado financeiro, as coisas mudam o tempo todo. O que vale hoje pode não valer amanhã. Então, se o investidor não tiver uma estratégia, a dica dada não vai ajudar muito.
Vou usar como exemplo as ações da Magalu (MGLU3). Entre 2017 e 2020, os papéis da companhia, que é uma das maiores varejistas do Brasil, se valorizaram tanto que algumas pessoas que tiveram a visão (ou sorte) de comprarem ações dela, enriqueceram rapidamente. Para se ter ideia, a valorização no período foi superior a 30.000%
- Quer lucrar com dividendos? Analista Ruy Hungria, da Empiricus Research, explica por que Vivo (VIVT3) é uma boa oportunidade; confira no Giro do Mercado desta quarta-feira (21):
Porém, em 2020, quando veio a pandemia e ela se tornou global, aconteceu o movimento inverso. Uma ação que chegou a superar os R$ 140 cerca de cinco anos atrás, em 20 de fevereiro de 2024 estava em R$ 2,09.
Assim, quem comprou quando o papel estava muito caro, perdeu dinheiro e quem comprar agora pode ser que ganhe. Preço é um ponto importante a ser considerado, mas não é tudo. Há outras variáveis que devem ser levadas em conta.
Então, voltando à questão da dica, depois que ela é dada o investidor vai fazer o quê? Vai comprar R$ 1 mil em ações da empresa indicada. Por exemplo, hoje eu posso dizer que Sanepar (SAPR11) é uma boa dica. Mas com R$ 1 mil o investidor não vai fazer milagre. Ele teria de ter 100 mil ações para ter um efeito imediato. Mesmo assim, o papel que valoriza também desvaloriza.
E como essa pessoa vai montar uma posição de 100 mil ações em Sanepar? Tem de comprar em momentos certos, quando o ativo estiver mais barato.
Mas qual o momento certo? É agora? Daqui a um mês? Daqui a um ano? As pessoas não entendem isso. A dica é sempre pontual e o investimento, ao contrário, é permanente, pois você vai montando posição aos poucos. Tem ação que eu estou montando posição há mais de dez anos.
É por isso que eu sempre aconselho àqueles que sonham com a liberdade financeira a ter paciência, disciplina e uma estratégia baseada em papéis que pagam dividendos e não no sobe e desce das ações. Além, é claro, de diversificação. Viver de investimentos é planejar a geração de uma renda passiva capaz de cobrir todos os gastos mensais.
Apostar em dividendos para atingir tal objetivo é uma boa ideia porque, além da valorização natural do ativo, o investidor recebe um extra, também chamado de proventos (dividendos) que se soma ao lucro obtido apenas com juros.
Para quem não tem muito dinheiro, no começo o dividendo recebido pode parecer muito pouco, mas conforme o montante investido aumenta, também cresce o valor absoluto do provento.
Empresas sólidas e lucrativas que pagam dividendos normalmente não deixam de fazê-lo independentemente da variação de suas ações na Bolsa de Valores.
O dividendo recebido e reinvestido só faz o patrimônio crescer. Obviamente que é preciso escolher os ativos certos e acompanhar de perto o desempenho das empresas escolhidas, pois nada impede que uma empresa saudável e lucrativa comece a ir mal por causa de decisões erradas de seus gestores ou de fatores alheios às atitudes deles.
Aí é só substituir por outro ativo que esteja numa fase melhor. Agindo assim, quando o investidor menos esperar, seu capital terá crescido exponencialmente. É quando se percebe que não vale a pena perder tempo com o imediatismo de uma “simples dica”.