Economia

‘Dia da Libertação’: O que esperar das tarifas recíprocas de Trump

01 abr 2025, 14:22 - atualizado em 01 abr 2025, 15:45
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Donald Trump afirma que a medida de tarifas de reciprocidade libertará os Estados Unidos da dependência de produtos estrangeiros. (Imagem: Reuters/Brandon Bell)

Nas últimas semanas, o mercado vem se preparando para o “Dia da Libertação dos Estados Unidos”, como Donald Trump vem se referindo ao anúncio das tarifas recíprocas. A divulgação das novas taxas de importação para os EUA está prevista para acontecer na quarta-feira (2).

O presidente norte-americano afirma que a medida libertará o país da dependência de produtos estrangeiros. O objetivo do aumento das tarifas é reduzir o déficit comercial dos EUA, impulsionar a produção doméstica, gerar empregos e aumentar a arrecadação do governo.

“Vamos cobrar dos países por fazerem negócios em nosso país e tirar nossos empregos, tirar nossa riqueza, tirar muitas coisas que eles vêm tirando ao longo dos anos. Eles tiraram muito do nosso país, amigos e inimigos. E, francamente, amigos têm sido muitas vezes muito piores do que inimigos”, disse em entrevista.

Apesar das ameaças de aumento das tarifas, a Casa Branca ainda não detalhou o percentual do reajuste, nem especificou quais países serão afetados ou se haverá margem para negociação.

“Espera-se mais uma rodada de tarifas, mas ninguém sabe ao certo se virão com força total ou se servirão apenas como peça de barganha em alguma nova rodada de negociações”, afirma Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

Ontem, o Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês) divulgou um relatório acusando 59 países — incluindo o Brasil — de imporem barreiras e tarifas contra produtos americanos.

No caso brasileiro, o documento menciona tarifas relativamente altas sobre importações em diversos setores, como automóveis, peças automotivas, tecnologia da informação, eletrônicos, produtos químicos, plásticos, maquinário industrial, aço, têxteis e vestuário.

O USTR alerta ainda que a “falta de previsibilidade” das alíquotas brasileiras dificulta o planejamento dos exportadores norte-americanos, que enfrentam restrições e exigências de compensação nos contratos comerciais.

Quais tarifas devem ser anunciadas?

Trump deve anunciar amanhã as chamadas tarifas recíprocas, que corresponderiam às taxas cobradas por outros países sobre produtos de origem norte-americana. As alíquotas devem variar de acordo com cada país.

Spiess observa que nem mesmo dentro do governo norte-americano há clareza sobre os detalhes. “Algumas fontes apontam que o plano é taxar a maior parte das importações em 20%. Outras dizem que Trump ainda está indeciso sobre a estratégia final”, aponta.

Além das tarifas de reciprocidade, também são esperadas novas taxas setoriais, como sobre produtos agrícolas, além de uma tarifa de 25% para automóveis e autopeças. Também está no radar a aplicação de tarifas de 25% sobre determinados produtos do México e do Canadá que não se enquadrem no USMCA (acordo comercial entre os três países).

Desde que assumiu seu segundo mandato, Trump já impôs tarifas de 25% sobre aço e alumínio, 20% sobre produtos da China e 25% sobre qualquer país que importe petróleo ou gás da Venezuela.

Outras tarifas foram anunciadas para a União Europeia, cobre, madeira e produtos farmacêuticos, mas ainda sem definição final.

Impacto do tarifaço de Trump

Na semana passada, Trump tentou acalmar os investidores ao sugerir que as tarifas poderiam ser menores do que o inicialmente prometido. No entanto, a preocupação persiste. A avaliação geral é que as medidas protecionistas devem resultar em um aumento dos preços dos produtos, dificultando a convergência da inflação da meta de 2%, tão perseguida pelo Federal Reserve nos últimos anos.

Os analistas do BTG Pactual, Bruno Henriques, Arthur Mota, Luis Mollo e Marcel Zambello, projetam um cenário em que o núcleo do Índice de Preços para Gastos de Consumo Pessoal (PCE) fique em 2,9% ao final de 2025. No entanto, a probabilidade de uma leitura em 3,3% tem ganhado força, considerando o risco de que as novas tarifas prolonguem a inflação e influenciem a política monetária em 2026.

“Diante desse contexto, o Fed manteve os juros entre 4,25% e 4,50% em sua última reunião e adotou um tom mais cauteloso, incorporando o impacto inflacionário das tarifas em suas projeções econômicas. Powell indicou pouco espaço para cortes no curto prazo, ressaltando que tarifas elevadas podem prolongar o processo de desinflação”, afirmam em relatório.

Além da pressão inflacionária, as tarifas podem desacelerar a economia americana. Embora as medidas possam estimular a abertura de novas fábricas e gerar empregos nos EUA, esse processo pode levar anos para ser concretizado.

A Tax Foundation, entidade apartidária que analisa os gastos públicos nos EUA, estima que as tarifas já anunciadas podem afetar até US$ 2 trilhões em importações americanas, com potencial de reduzir o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA em 0,4%.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, considera o cenário negativo, com as tarifas prejudicando o crescimento econômico e os lucros das empresas, ao mesmo tempo em que impulsionam a inflação.

“Trump parece mais comprometido com sua agenda tarifária do que com qualquer outra prioridade, e seu limiar de tolerância à dor é elevado. No melhor cenário, veríamos tarifas recíprocas de até 15%, com implementação adiada em função de negociações”, destaca.

“O cenário base considera tarifas entre 15% e 20%, com implementação imediata, mas acompanhadas por um compromisso explícito da Casa Branca em dialogar. O pior cenário incluiria tarifas superiores a 20%, implementação imediata, ausência de perspectiva de negociação e ameaças de medidas adicionais por setor”, completa o economista.

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Formada em Jornalismo pela PUC-SP, tem especialização em Jornalismo Internacional. Atua como editora no Money Times e já trabalhou nas redações do InfoMoney, Você S/A, Você RH, Olhar Digital e Editora Trip.
juliana.americo@moneytimes.com.br
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