CryptoTimes

Dez motivos pelos quais ether (ETH) não é dinheiro

14 dez 2020, 16:08 - atualizado em 14 dez 2020, 16:08
Confira, em excerto das “Criptoteses para 2021” da Messari, por Ryan Selkis, por que o ether não é dinheiro (Imagem: Pixabay/AgelessFinance)

Defensores da Ethereum acreditam que podem criar uma camada de liquidação de transações para todos os mercados do mundo. Dinheiro e aplicações financeiras. Computação segura e descentralizada. Bens digitais e economias de jogos. Propriedade intelectual e dados pessoais. Tudo.

Para sermos bem honestos, a comunidade ganhou essa prepotência. Ethereum, mesmo com todas as suas limitações, funciona e gerou milhares de aplicações de alto potencial em apenas cinco anos.

Hoje, Ethereum é a plataforma de contratos autônomos mais importante porque foi a primeira a impulsionar uma grande comunidade de contribuidores apaixonados e bem-incentivados.

Diferente do início da internet, até mesmo os “fracassos” da Ethereum compensaram, pois os investidores iniciais navegaram pela onda de preço do ether entre US$ 1 para quase US$ 600 hoje.

Ethereum está a caminho de processar mais de US$ 1 trilhão em transações este ano, incluindo grande parte do volume dos crescentes (e cada vez mais complexos) setores das finanças descentralizadas (DeFi) e do “criptodólar”.

Seu sucesso foi tão grande que, agora, ETH 1.0 está em sua capacidade máxima e deve escalar rapidamente, em ordens de magnitude, para manter sua participação de mercado, integrar novos investidores e manter o custo competitivo de seu ecossistema vibrante.

Acreditamos que terá sucesso. Porém, é preciso esclarecer algo muito importante: ETH NÃO É DINHEIRO… e tudo bem!

Provavelmente, irá comprovar que é um investimento impressionante: uma commodity que assegura transações na plataforma computacional mais valiosa do mundo (gás para acelerar e staking para processar) e que pode ser alavancada como garantia em um novo sistema financeiro. Isso é algo muito valioso.

Porém, existem dez motivos pelo qual ETH não é dinheiro, por que nunca vai ofuscar o bitcoin e por que sua potencialidade de ser o principal ativo em 2017 foi um caso isolado.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Substitutos atrapalham os prêmios monetários. BTC tem alguns substitutos e ETH pode ter muitos (Imagem: Pixabay/vjkombajn)

1) Histórico

Em 2017, houve um breve período em que Ethereum parecia ser mais seguro do que o bitcoin após ter sobrevivido à bifurcação ETH x ETC e ataques de Shanghai.

O bitcoin estava envolvido em um debate horrível sobre escalabilidade: o projeto deveria ser um “dinheiro eletrônico de ponto a ponto” ou ser usado em liquidações de alto nível como uma reserva de valor?

A comunidade escolheu o segundo, fazendo com que a rede Bitcoin Cash (BCH) fosse criada. Bitcoin Cash tinha uma proporção de 0,45 em comparação do bitcoin antes de recuar e, assim, BTC acrescentou uma nova camada à sua armadura antifragilidade.

Bitcoin Cash (BCH) está à altura do Bitcoin (BTC)?

Durante a mesma época, ETH atingiu 50% da capitalização de mercado do bitcoin. Assim como a “ameaça” reduzida do BCH, ETH provavelmente não chegará a esses níveis novamente.

Com a migração para a ETH 2.0, BTC será 95% dominante na categoria de dinheiro que utiliza o algoritmo proof-of-work (PoW) enquanto ETH deve competir com uma dúzia de plataformas viáveis para reter sua dominância de 65%.

Substitutos atrapalham os prêmios monetários. BTC tem alguns substitutos e ETH pode ter muitos.

O que é Ethereum 2.0?

2) Rotação de reserva

A demanda por ETH durante o último ciclo foi impulsionado, em grande parte, por seu status de moeda de reserva para ofertas iniciais de moeda (ICOs).

Quando o mercado fez a correção e Acordos Simples para Futuros Tokens (SAFTs) denominados em dólar substituíram grandes ICOs no blockchain, a demanda de reserva por ETH ficou desnivelada.

Essa semana só foi parcialmente replicada pela febre DeFi deste ano, conforme “criptodólares” padrão ERC-20 substituíram a necessidade de reter ETH, que é um ativo importante de garantia (40% do valor total bloqueado), mas não tão essencial para aplicações DeFi hoje em dia.

A dolarização da Ethereum – Ethereum continua a dolarizar, apesar de outros tokens ERC-20 começarem a ganhar força devido ao aumento de volumes em DEXs e “yield farming” (Imagem: CoinMetrics, Messari)

3) Miragem institucional

A demanda por “dinheiro inteligente” do ETH é exagerada. Grande parte de sua oferta aparente está acontecendo graças à negociação da Grayscale, em que mais de 80% do produto Ethereum Trust (ETHE) está restrito.

Isso significa que todo o crescimento institucional de ativos sob gestão (AUM) veio de fundos que atrapalharam a criação/a regra 144 de negociações arbitrárias de vendas (com alavancagem) para coletar o prêmio de 60% do ETHE à vista. Não nos leve a mal, pois isso não é nada!

Porém, uma venda sintética não é um investimento de cinco a dez anos. Como um ativo de hedge macro, ETH não entra na conversa. Como um ativo não correlacionado, ETH foi deixado de lado por conta de sua correlação com o BTC.

4) Complexidade narrativa

Memes funcionam e nada mata um bom meme como a complexidade. O bitcoin tem narrativas simples de que gestores de dinheiro e políticos septuagenários podem entender. Por outro lado, é quase impossível explicar Ethereum.

Não porque grande parte das pessoas são incapazes ou preguiçosas de entender novas coisas (apesar de isso ser verdade), e sim porque ETH é um ativo muito difícil de se entender porque sua narrativa está sempre mudando.

A ideia de “ponto triplo” é boa, mas é uma autodefesa quando você quer impressionar as pessoas com três teses de investimento radicais de uma só vez.

WBTC é um token padrão ERC-20 e pareado ao bitcoin em proporção 1:1 (Imagem: Medium/Kyber Network)

5) Ativos do tipo “wrapped”

Conforme o valor total bloqueado nas DeFi e na Ethereum continua a crescer, o mesmo acontecerá com o interesse em wrapped bitcoin sintético (e outros ativos) e sua alavancagem na Ethereum.

As mesmas catálises que devem, em teoria, impulsionar o ETH, conforme a demanda por garantia aumenta, também poderão impulsionar o WBTC. Assim, ETH não ganhará força.

6) Mãos fortes

Investidores de bitcoin sempre foram espartanos em relação aos atenienses da Ethereum. Eles comem carne, são grosseiros e especialistas de guerra.

Já a comunidade Ethereum é mais diversa e socialmente consciente, o que é bom para uma plataforma. Porém, isso é ruim para dinheiro armamentista e independente do Estado.

Não é como se os detentores de bitcoin estivessem enfraquecendo. O novo fluxo de dinheiro vem de detentores que investem na moeda entre cinco a dez anos. Por outro lado, ainda não se sabe se ETH 1.0 e ETH 2.0 serão o blockchain a quebrar recordes no ano que vem.

7) Perda de subtokens

Conforme o roteiro de desenvolvimento (roadmap) migra para os “rollups da ETH 1.5”, cada transação que migra para rollups de “segunda camada” basicamente migra para novos blockchains, que podem incluir novos tokens.

Se você quer assegurar esses sub-blockchains, também é preciso acrescentar taxas e recompensas de segurança, o que pode prejudicar o valor do blockchain ETH 2.0 principal.

8) Perda de alt-tokens

O quão arriscado é que rollups da fase 1.5 da ETH pareçam com seus adversários que não têm que se preocupar com toda a “migração arriscada e existencial”.

Para um leigo (e, talvez, muitos tecnólogos), os modelos de tráfego da Polkadot e Cosmos parecem muito com a ETH 2.0. Existem diversas formas com as quais esses competidores podem sugar o valor.

9) Perda de tokens DeFi

Aplicações financeiras são mais robustas e tokens de protocolos são mais fracos (com menos acréscimo de valor) do que se diz por aí. Isso porque pools de capital tendem a ser centralizados, mas transações tendem a direcionar menores custos para aqueles que buscam rentabilizar.

Parece possível que aplicações DeFi com muita liquidez e muito valor bloqueado irá captar mais taxas (de forma proporcional) ao longo do tempo do que protocolos de camada-base cujas taxas são mais consideradas como imperfeições do sistema do que contribuições essenciais ao modelo de segurança.

ETH não terá a mesma resiliência ou o mesmo modelo de segurança a nível soberano para competir como a principal reserva de valor cripto (Imagem: Pixabay/WorldSpectrum)

10) Desmonetização cumulativa

Se o bitcoin é um prisma que atrai diferentes pesquisadores de narrativas ao mesmo ativo-base, ETH é o oposto: existem muitas narrativas, pois cada uma é melhor expressada por um protocolo ou token mais especializado.

A desmonetização tem sido um processo gradual já em andamento com a explosão das stablecoins, mas deve haver muito mais perdas. O argumento principal é que, mesmo que você não concorde com as ameaças acima, elas existem e irão afetar o prêmio monetário da ETH.

Existe um motivo pelo qual tudo isso pode estar errado: se o bitcoin fracassar.

Talvez seja atacado por instituições soberanas que destruirão fornecedores de liquidez, criminalizarem a autocustódia, atrapalharem a capacidade de mineração para realizar ataques de 51% à rede (ou atrasar transações) ou o subsídio da inflação irá expirar e destruir o modelo de segurança do bitcoin ou outra coisa.

Realmente não importa. Se o bitcoin for substituído pelo ETH, podemos pegar nossas coisas e ir embora porque ETH não terá a mesma resiliência ou o mesmo modelo de segurança a nível soberano para competir como a principal reserva de valor cripto.

Clique aqui para conferir as “Criptoteses para 2021” da Messari e obtenha desconto de 20% no Messari Pro usando o cupom THESES2021.