Deveríamos pensar no bitcoin como uma reserva de energia? (Parte 2)
Muitos criticam o bitcoin por conta do poder energético consumido na mineração, mas raramente é colocado no contexto geral de eficiência industrial e econômica.
Neste artigo, dividido em três partes, desmistificamos alguns dos mitos sobre energia e analisamos se deveríamos considerar o bitcoin como uma reserva de energia além de reserva de valor.
O bitcoin poderia ser uma revolução energética?
Será que devemos mudar a forma como pensamos sobre o bitcoin, não apenas como uma reserva de valor, mas como uma forma de exportar fontes energéticas ao ultrapassarmos os monopólios centralizados dos governos?
Por exemplo, no oeste da China, onde faltam linhas de transmissões energéticas de ultra-alta tensão (UAT), a mineração de bitcoin pode ser um dos únicos consumidores adequados do excesso de energia hidrelétrica. Sem as linhas de transmissão de UAT, muita energia é perdida por conta da resistência durante a transmissão elétrica.
Na teoria, o bitcoin pode transferir o valor equivalente da energia para grandes cidades no oeste da China, evitando a perda devido à resistência nas linhas.
Se você pensar em uma transação em uma rede de blockchain como a movimentação da energia armazenada, é tão ininterrupta e similar como o envio de um e-mail.
Em comparação, cerca de 40% da energia consumida na mineração é usada para a fricção ultrapassada, totalizando uma perda de US$ 260 bilhões por ano. Fricção e desgastes resultam, anualmente, em 970 milhões de toneladas em emissões de carbono em todo o mundo, apenas no setor de mineração, que totaliza 2,7% das emissões globais de carbono.
Estima-se que o consumo total de energia nas atividades globais de mineração, tanto de minerais como de rochas, seja de 6,2% do total do consumo de energia em todo o mundo.
Esse número é apenas referente à etapa de extração — a energia para logística, refinaria e armazenamento de produtos não é considerada — e apenas uma fração do processo geral é realizada com energia renovável.
Assim, a mineração de bitcoin pode ser uma grande melhoria na eficiência agregada de recursos tradicionais, como petróleo, carvão, gás e seu competidor do mundo real, ouro, que totaliza apenas três partes por bilhão da crosta terrestre e torna mais fácil a mineração de bitcoin, caso comparados.
O bitcoin não é propenso às mesmas economias em escala como essas outras densas commodities energéticas nem é restrito geograficamente.
Com a mineração de bitcoin, a mão de obra necessária é mínima e o maquinário (fazendas de mineração) e a energia de execução são os únicos custos gerais significativos, já que chips de ASICs (circuitos integrados de aplicação específica) mais poderosos devem ser criados.
Então o bitcoin pode ser uma revolução energética que fornece uma oportunidade global de arbitragem energética?
Tuur Demeester, economista e defensor do bitcoin, compara a transição das moedas fiduciárias para os criptoativos à transição no século XIX, do óleo de baleia, que fornecia energia para todo o mundo, ao querosene, infinitamente mais barato e mais fácil de ser extraído, e ao petróleo.
O preço do petróleo também era altamente volátil em suas décadas de pioneirismo, assim como acontece com o bitcoin, mas acabou se estabilizando.
Deemester chama o bitcoin de “o novo petróleo”. Sua comparação se baseia em:
1. a indústria bancária e fiduciária, assim como a indústria de caça às baleias na época, cresceu rapidamente ao longo de cinco décadas e, da mesma forma, foi altamente regulamentada.
2. assim como os caçadores, os bancários de hoje também caçam algo raro: rendimento. Ganhar um retorno sobre investimento em um ambiente de inflação crescente e intervenções dos bancos centrais é uma empreitada de risco.
3. tecnologias com mais eficiências estão gerando ondas e crescendo a uma velocidade impressionante (para ilustrar o ritmo de melhorias, observe a Lightning Network).