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Deu ruim: As 3 previsões mais furadas dos analistas em 2021 (e o que elas ensinam para 2022)

24 dez 2021, 8:00 - atualizado em 24 dez 2021, 20:41
Corretoras Mercados Investimentos
Neste ano, não faltaram erros do mercado: inflação, Selic, Ibovespa…

Errar é humano? E quando esse erro envolve o dinheiro dos outros? Pois 2021 parece ter pregado muitas peças nos analistas e economistas de plantão. O ano começou com um sentimento de otimismo diante da descoberta de vacinas e a reabertura econômica. 

Porém, inúmeros fatores, como inflação persistente e alta dos juros, jogaram por terra os cenários mais otimistas, fazendo com que as projeções ficassem bem abaixo do esperado.

Veja a seguir:

1 – IPCA em 3,32%

Sim, o primeiro Boletim Focus, de janeiro, cravava um IPCA (Índice de Preço ao Consumidor Amplo), considerado a inflação oficial do país e apurado pelo IBGE, de apenas 3,32% para 2021. De lá para cá, as coisas foram ladeira abaixo: a inflação provou que não era sazonal e nem decorrente única e exclusivamente da alta de alimentos. 

Também entraram nessa conta, a elevação da energia elétrica, em que o Governo Federal foi obrigado a criar uma bandeira mais cara do que a vermelhapara enfrentar uma das piores crises hídricas no Brasil dos últimos anos.

A alta da gasolina, com o preço nas bombas chegando a R$ 7 em algumas cidades, foi outra grande vilã. Resumo da ópera: o IPCA terminará o ano acima de 10%, mais do que o dobro do projetado inicialmente.

2 – Selic em 3%

Se o erro com o IPCA foi grande, com a Selic, a taxa básica de juros, nem se fala. O Banco Central tentou manter a taxa de juros nos menores níveis da história até onde pôde: a primeira alta, de 0,75 ponto percentual, ocorreu em março e levou a taxa para 2,75% ao ano. Apesar de pequena, foi bastante simbólica, já que se tratou da primeira alta desde julho de 2015 (sim, quase seis anos antes).

Desde então, o BC notou o buraco em que estava se metendo e em seis meses elevou a Selic em 6,5 pontos. Em março, bancos como o BofA e o Credit Suisse, previam a Selic em até 6,5% em 2021, o que era visto, inclusive, com um tom pessimista. A projeção agora é que o índice chegue em 2022 acima de 11%.

3 – Ibovespa em 150 mil pontos

Podemos dividir o ano em duas partes: a primeira metade foi beneficiada pela escalada dos preços das commodities. Já a segunda sucumbiu ao forte recuo dos dados de atividade econômica, com revisões das expectativas econômicas do Brasil estendendo-se inclusive para 2022.

E foi exatamente em julho, quando o Ibovespa bateu quase 130 mil pontos, que analistas já vislumbravam um estirão até os 150 mil pontos.

Havia uma série de fatores positivos, como avanço no processo de vacinação, reformas tributária e administrativa na pauta do Congresso, elevação das commodities favorecendo a alta da Bolsa, e Fed com discurso ameno sobre elevação de juros. 

Porém, a pressão inflacionária, a abertura da curva de juros e a piora do quadro fiscal, com o governo abandonando o teto de gastos, fizeram com que o Ibovespa virasse de cabeça para baixo. 

“O clássico erro dos profissionais de mercado foi perpetuar uma situação boa, que estávamos experimentando na metade desse ano, nos nossos modelos financeiros e matemáticos”, pontua o gerente de research da Ativa Pedro Serra em relatório de mudança de projeção do Ibovespa.

Moedas
Fazer previsões e acertar é quase impossível, dizem especialistas

Por que erramos tanto, afinal?

Segundo o professor e diretor do centro de estudos em finanças da FGV, William Eid Junior, existe um viés no mercado que é chamado de viés do status quo.

“Nós tentamos prever com base no que está acontecendo no momento. A economia está indo mal? Então, prevemos momentos maus. A economia está indo bem? Então, prevemos momentos bons”, diz.

Para ele, antes de qualquer coisa, é necessário analisar quem está fazendo a previsão. “Normalmente, quem vende ações tem um viés muito forte. É raro ir contra a maré, nadar contra a corrente. Se os vendedores de ações estão falando que o Ibovespa vai a 150 mil pontos, eu vou com eles. O que você precisaria ver é aquele cara da tesouraria do banco, que está mexendo com o dinheiro do banco”, completa. 

Na opinião de Vera Rita de Mello Ferreira, consultora e professora de psicologia econômica e finanças comportamentais e presidente-eleita da IAREP – The International Association for Research in Economic Psychology, os especialistas mais renomados dessa área que mescla psicologia e economia não arriscam fazer previsões por uma simples razão: não é possível.

“Por outro lado, o ser humano não suporta não saber. Isso incomoda tanto, que as pessoas preferem se tapear, se iludir, fazer de conta que agora sabem. É claro que a política pública precisa se basear em projeção. Mas obter esses dados requer um trabalho muito profundo e minucioso. Os analistas não têm acesso aos dados ou não têm expertise para fazer uma análise bem feita. Além disso, em momento de incerteza como esse, em que qualquer declaração mexe com o dólar, aí fica muito mais difícil”, argumenta.

Ovos
Não colocar todos os ovos na mesma cesta: diversificar é a chave para fugir das enrascadas (Imagem: Unsplash/Caroline Attwood)

O que fazer para se proteger?

Segundo Eid Junior, da FGV, para se proteger dessas furadas, não tem jeito. O melhor é diversificar. “Mas para a pessoa que tem pouco dinheiro, aí não adianta pensar nisso. Aí vai para o mais seguro”, aconselha. 

Mello Ferreira também vai na mesma linha. “Se você perder um pouco aqui, é bem possível que consiga ganhar acolá e vice-versa. Então, é melhor distribuir os recursos entre produtos de diferentes setores que sejam estruturados de maneira diferente também”, afirma.

Além disso, o investidor precisa ter calma e prudência e não se deixar cair no “canto da sereia” de investimentos que prometem mundos e fundos em curtos espaços de tempo.

“Focar no curtíssimo prazo tem o perigo de que, na medida em que você tem uma perda importante, já acaba reagindo de forma exagerada. É uma coisa que chama aversão à perda: nós sentimos a dor de perder com uma intensidade maior do que o dobro do que a alegria de ganhar o mesmo valor. Então quando acontece uma perda, as pessoas ficam desesperadas e entram em parafuso”, explica. 

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
renan.dantas@moneytimes.com.br
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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