Tech Times

Desta vez foi rápido! O novo fracasso da realidade virtual

20 jul 2023, 18:43 - atualizado em 20 jul 2023, 18:43
Inteligência Artificial
(Imagem: Facebook/Handout via Reuters)

No último dia 22 de junho publicamos na nossa coluna uma matéria sobre realidade virtual intitulada “Realidade virtual: Apple lança Vision Pro; reveja os fiascos da Nintendo, Microsoft, Google e Meta”.

Essa matéria foi escrita por conta do anúncio do Apple do Vision Pro, seus óculos de realidade virtual no dia 5 de junho durante a WWDC (WorldWide Developer Conference), que é sua conferência anual para apresentação de novos produtos, tecnologias e o que está em desenvolvimento pela empresa.

Neste ano, o carro chefe da maçã foi o já citado Apple Vision. Muitos viram esse anúncio como algo espetacular, grandioso e toda a pompa de adjetivos que Apple recebe todos os anos por reinventar a roda, mas agora de grife.

Claro que a Apple tem seus acertos e erros, como toda a empresa. Já citamos aqui também quando ela fracassou nos anos 90 com seu console que não durou um ano nas prateleira. Mas uma característica importante e louvável da maçã é que ela só coloca no mercado produtos quando ela tem certeza daquilo como tecnologia, no mínimo estável. Você pode não gostar de Iphone, Ipad ou algum outro produto dela por diversos motivos, mas ela entrega algo de construção de qualidade e que atende a expectativa do seu nicho de cliente. Isso é inegável.

Ao vê-la apostando numa tecnologia que nunca deu certo, no mínimo são levantadas dúvidas. E só temos duas respostas: ou a Apple conseguiu o que ninguém nunca conseguiu, ou ela entrou no jogo de arriscar e saiu da sua característica de entrega de algo pronto e estável para tentar se aventurar.

Infelizmente, a resposta é a segunda. Eu queria muito que a Apple tivesse acertado e resolvido esse problema de décadas. Como entusiasta de tecnologia, eu nunca torço para o erro de uma nova ferramenta no mercado.

A percepção de passos do fracasso do produto veio desde a forma como ele foi apresentado.

Vamos às características.

Primeiro: os óculos apresentados foram o Apple Vision Pro. Detalhe, Pro. Cadê o Apple Vision regular? Se tem uma versão Pro, entende-se que, seguindo a lógica dos nomes de produtos da empresa, a versão Pro sempre é uma versão melhorada do produto principal. O Apple Vision não chegará ao mercado porque não deu certo? Por que o Pro daria então?

Segundo: A autonomia de bateria. A Apple anunciou que o uso do produto poderia ser para utilização de trabalho e facilitação de edições de imagens ou montagens de ambientes 3D, mas nas especificações do produto a bateria do Vision dura 2h. Sim. 2h.

Duas perguntas são levantadas sobre isso. A primeira é a mais simples: Quem trabalha apenas 2h? E, em segundo lugar, a autonomia de bateria dos equipamentos Apple é no mínimo de 8h em uso contínuo e podendo chegar a 12h no uso moderado. Por que o produto novo não acompanha a autonomia do seu ecossistema?

(Imagem: Apple)
(Imagem: Apple)

Terceiro lugar: O aparelho não conta com sensores em todas as direções de ambiente, e sim sensores fixos, além de a tecnologia de áudio não ser imersiva e ser um sensor externo que aponta o áudio para o ouvido no ambiente. É uma saída direcional apenas.

Por fim, ele fica com um fio acoplado a uma bateria externa que pode ficar no seu bolso ou presa na calça. Sim. Ele não tem opção de carregamento direto no aparelho.

HTC Vive Pro 2 possui 16 sensores unidirecionais (Imagem: HTC)
Apple Vision Pro possui 8 sensores apenas alocados na parte inferior dos óculos (Imagem: Apple)

Isso tudo é do Pro.

Dado esse cenário, minhas dúvidas se levantaram quanto à viabilidade do hardware – o que dirá do conceito de tecnologia.

Você pode se questionar: “Ah, mas uma hora vão conseguir, não conseguiram a inteligência artificial?”

Concordo plenamente, mas é importante enfatizar que a inteligência artificial, que vemos hoje funcionando de forma muito estável, tem como conceito uma ideia de quase um século atrás e, no mínimo, 70 anos de pesquisa desde que Alan Turing começou os primeiros trabalhos matemáticos na área.

A realidade virtual coleciona apenas tentativas de fracasso mercadológicos desde o começo dos anos 80. Funções dela, como realidade aumentada e outros pontos funcionam, mas o conceito fundamental de juntar o real e o virtual ainda não foi alcançado de forma estável para que produtos tenham seu uso inseridos no dia a dia da humanidade – e isso pode levar mais uma década ou cinquenta anos.

Fato é que ainda não é realidade.

Tendo visto tudo dessa forma, analisamos que seria mais um fracasso como foi do metaverso, google lens e cardboard, remanejamento da Holo Lens da Microsoft e por aí vai. Alguns dias depois da nossa publicação de análise, no início de julho, um mês após o lançamento, começaram a ser veiculadas notícias que davam margem para isso.

No dia 30 de junho, segundo o jornalista Dan Ackerman, em sua coluna para o Gizmodo, a Apple estaria enfrentando problemas para que a tira, que segura o óculos no rosto, fosse produzida. O que foi apresentado como produto final foi apenas um protótipo e talvez demorasse para chegar ao mercado. O que iria chegar não era o que apresentaram.

No dia 4 de julho, foi noticiado que a empresa passava por problemas de compatibilidade do aparelho com a tecnologia VR. Segundo o Financial Times, a produção inicial de um milhão de unidades não seria cumprida pela empresa.

No mesmo dia, a empresa Luxshare, que possui o contrato de produção dos produtos, informou à imprensa que está se preparando para produzir apenas 400.000 unidades para 2024, mas, até o momento, a Apple havia encomendado oficialmente de 130.000 a 150.000 unidades. A capacidade de produção do mesmo é abaixo do anunciado na WWDC e a própria empresa encomendou apenas 15% do que informou que seria a quantidade posta no mercado.

No dia 16 de julho, a Apple confirmou que sua produção seria 60% menor do que o prometido, batendo com a informação da Luxshare de apenas 400.000 unidades de capacidade. A alegação da empresa é o problema na construção do painel frontal dos óculos de realidade virtual. E mais: uma versão para o público em geral talvez viria para o mercado apenas em 2025!

Sendo assim, a Apple, como todos os seus antecessores, prometeu algo que ela mesmo sabia que não seria possível entregar desde o começo.

Olhando para esse cenário a análise feita não é contra uma empresa ou um produto, mas é entender o cenário macro de tecnologia que traz uma visão de como as coisas estão andando e o que de fato já existe e pode ser usado.

Se de fato o Apple Vision vier para o mercado apenas em 2025, a Apple ganhou ao menos mais um ano para trabalhar no desenvolvimento da tecnologia antes de começar a produção. Mas fica a pergunta: Em um ano ela vai conseguir o que ninguém conseguiu viabilizar com pesquisas e tentativas nas últimas quatro décadas?

Minha aposta é que não. O produto virá ao mercado, mas não como prometeram, e será uma versão muito mais básica em funções e utilização prática.

Esperamos cenas dos próximos capítulos.

Para mais análises e conhecimento da tecnologia, não deixe de acompanhar o Tech Times.