Desmatamento na Amazônia atinge recorde pelo segundo mês consecutivo
O desmatamento na floresta amazônica brasileira atingiu níveis recordes para o mês de fevereiro, mostraram dados preliminares do governo nesta sexta-feira, ao mesmo tempo em que um estudo científico indicou que a selva está chegando a um ponto de inflexão após o qual não poderá mais se sustentar.
O desmatamento na região totalizou 199 quilômetros quadrados em fevereiro, um aumento de 62% em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo dados publicados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Esse é o nível mais alto para fevereiro desde o início da série de dados em 2015/2016 e segue um recorde mensal semelhante em janeiro.
Nos primeiros dois meses do ano, a destruição foi três vezes maior do que no mesmo período de 2021. Cerca de 629 quilômetros quadrados foram desmatados, uma área aproximadamente do tamanho de Chicago.
O Brasil abriga cerca de 60% da Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, cuja preservação é vital para conter mudanças climáticas catastróficas devido à grande quantidade de gases de efeito estufa que absorve.
O desmatamento no Brasil tem aumentado desde que o presidente Jair Bolsonaro assumiu o cargo em 2019 e enfraqueceu a conservação ambiental, defendendo mais agricultura comercial e mineração em áreas protegidas para ajudar a tirar a região amazônica da pobreza.
O Palácio do Planalto não respondeu imediatamente a pedido de comentário sobre os dados.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, o governo “atua de forma ainda mais contundente em 2022 no combate aos crimes ambientais”. São ações coordenadas pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, por meio da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Força Nacional, com o apoio do Ministério do Meio Ambiente, por meio do Ibama e ICMBio, e do Ministério da Defesa.
Pesquisadores temem que a destruição esteja levando a Amazônia a um ponto de inflexão, após o qual a selva secaria e se tornaria savana, liberando enormes quantidades de gases de efeito estufa.
Um estudo publicado na revista Nature Climate Change nesta semana mostrou que nas últimas duas décadas mais de três quartos da Amazônia já perdeu parte de sua capacidade de se recuperar de problemas como secas e incêndios.
“O desmatamento e as mudanças climáticas, por meio do aumento da duração da estação seca e da frequência das secas, já podem ter empurrado a Amazônia para perto de um limiar crítico de extinção da floresta tropical”, escreveram os autores da Universidade de Exeter.
A quantidade de carbono perdida pelas florestas tropicais a cada ano –que retorna à atmosfera como dióxido de carbono que aquece o clima– dobrou desde o início dos anos 2000, segundo um estudo separado da revista Nature Sustainability no mês passado.
Alguns pesquisadores suspeitam que o desmatamento aumentará ainda mais antes das eleições de outubro, como aconteceu nos últimos três anos eleitorais. Autoridades provavelmente aplicarão as leis ambientais com menos rigor por medo de incomodar os eleitores, disse Carlos Souza Jr, pesquisador do instituto ambiental Imazon.