Desenhado para crises, fundo prospera contra o real
O caos recente nos mercados deixou um rastro de perdas para a indústria brasileira de fundos. Para o Giant Zarathustra Master, a turbulência é um ambiente propício para ganhos.
Com retorno de 11% no acumulado do ano, o fundo quantitativo, que usa uma série de algoritmos para determinar o que e quando negociar, está entre os de melhor desempenho na indústria local de multimercados em meio a crise de 2020 — em grande parte graças a uma aposta contra a moeda brasileira.
Também conseguiu evitar o acerto de contas que afetou os maiores investidores sistemáticos do mundo, como a Renaissance Technologies, de Jim Simons.
“O fundo foi desenhado para performar melhor em momentos de euforia ou pânico”, disse Flavio Terni, sócio-fundador da Giant Steps Capital, com R$ 2,5 bilhões sob gestão.
Não faltam turbulências no Brasil para dar margem a cenários extremos: a pandemia de coronavírus não dá sinais de desaceleração e, no cenário político, polêmicas e renúncias de ministros dão o tom. O Ibovespa acumula queda de 31% em moeda local desde janeiro.
O Zarathustra tem o quarto melhor desempenho no mercado brasileiro entre 177 fundos multimercados em 2020. O ganho de 32% do Zarathustra nos últimos 12 meses supera quase todos os outros, com exceção de dois fundos, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
E cerca de metade do ganho recente está atrelado a apostas contra o real, disse Terni. Com a valorização do dólar de 30% neste ano, o real tem liderado as perdas entre moedas globais, em meio à trajetória descendente dos juros no Brasil.
Embora a aposta contra o real também tenha sido feita por outras gestoras locais, Terni disse que a abordagem quantitativa do Zarathustra trouxe uma vantagem de velocidade sobre os pares.
O fundo, que executa quase 10 mil ordens por dia, utiliza estratégias que aproveitam oportunidades de arbitragem e correlações difíceis de detectar. O fundo possui cerca de 50% do risco alocado fora do Brasil.
“Quando o mercado fica irracional, é muito difícil fazer conta e olhar fundamento”, disse Terni. “Nessa hora, o que você quer fazer é ser rápido.”
A Giant Steps, cujo nome foi inspirado no álbum de John Coltrane, foi uma das primeiras gestoras brasileiras a adotar estratégias quantitativas, também chamadas de sistemáticas.
Não há dados oficiais sobre o peso dessas estratégias no Brasil, mas elas ainda representam uma pequena fração dos R$ 5,1 trilhões em ativos da indústria.
A gestora planeja expandir neste ano, enquanto a maior parte da indústria de fundos multimercado enfrenta as piores perdas em décadas.
A empresa planeja contratar 10 pessoas até o fim do ano, aumentando o número de funcionários para 35. A gestora também pretende lançar um fundo de ações nos próximos meses, projeto que está sendo liderado por uma equipe que inclui Henrique Fiuza, cientista de dados que veio do Nubank.
A Giant Steps planeja dobrar os atuais R$ 2,5 bilhões sob gestão até o fim de 2020.
Para Terni, os mercados devem permanecer turbulentos por mais algum tempo. “O Fed imprimindo dinheiro, o mercado subindo sem fazer a menor ideia de quando a crise do coronavírus vai acabar, um cenário político conturbado. É uma salada”, disse. “Não queria estar na pele de um gestor discricionário.”