Economia

Desemprego de 7,8% em agosto: 5 motivos para não festejar a menor taxa desde 2015

29 set 2023, 15:26 - atualizado em 29 set 2023, 15:33
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O diabo está nos detalhes: Queda do desemprego foi puxada por vagas informais (Imagem: Reuters/Amanda Perobelli)

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou, nesta sexta-feira (29), que a taxa de desemprego caiu para 7,8% no trimestre de junho a agosto, 0,5 ponto percentual menor que os 8,3% do trimestre anterior, entre março e maio. É a menor taxa desde os 7,5% do trimestre entre dezembro de 2014 e fevereiro de 2015. Mas não há muito o que comemorar.

Basta olhar os números do IBGE com mais atenção para constatar que a maioria dos empregos gerados nos últimos três meses foi de baixa qualidade, marcados pela informalidade, isto é, sem carteira assinada, e pelos salários, em média, mais baixos do que os trabalhadores formais que exercem o mesmo tipo de atividade.

A população ocupada é composta por empregados do setor privado, empregados domésticos, funcionários públicos e militares, empregadores, pessoas que trabalham por conta própria, e trabalhadores familiares auxiliares, isto é, quem ajuda um familiar em alguma atividade, sendo ou não remunerado.

Em bom português, o governo apenas festeja a capacidade dos brasileiros se virarem sozinhos, na falta de bons empregos formais – algo que a economia ainda parece longe de gerar na quantidade necessária. Veja por que a queda do desemprego não é tão boa, quanto parece.

1. Maioria dos empregos gerados é informal

O Brasil terminou agosto com um total de 99,653 milhões de pessoas ocupadas. Trata-se de um acréscimo de 1,253 milhão de ocupados em relação ao trimestre encerrado em maio. O problema é que 707 mil destas vagas, ou 56,4% do total, são informais.

Tipo Jun-Jul-Ago* Mar-Abr-Mai* Ganho/Perda*
População ocupada 99.653 98.400 1.253
Ocupada com carteira 37.248 36.826 422
Ocupada sem carteira 13.199 12.933 266
Doméstico com carteira 1.476 1.491 -15
Doméstico sem carteira 4.416 4.240 176
Servidor público com carteira 1.401 1.355 46
Servidor público estatutário e militar 7.696 7.660 36
Servidor público sem carteira 3.143 3.049 94
Empregador com CNPJ 3.415 3.369 46
Empregador sem CNPJ 794 759 35
Por conta própria com CNPJ 6.341 6.330 11
Por conta própria sem CNPJ 19.018 18.889 129
Trabalhador familiar auxiliar 1.505 1.498 7

*em mil – Fonte: IBGE

O setor privado contratou 266 mil pessoas sem carteira assinada nos últimos três meses. O segundo maior contingente de empregos informais gerados veio do trabalho doméstico, com 176 mil vagas abertas. Por fim, pessoas que trabalham por conta própria, sem CNPJ ou qualquer outra forma de regularização, como os motoristas e entregadores de aplicativos, geraram 129 mil empregos.

2. Empregos informais pagam metade dos formais

Segundo os dados do IBGE, o rendimento médio da população ocupada subiu 1,13% entre os períodos comparados, passando de R$ 2.914 por mês para R$ 2.947 no último trimestre. Considerando-se que o salário mínimo está em R$ 1.320, isso significa que cada brasileiro que trabalha ganha, em média, 2,23 salários mínimos.

Tipo Jun-Jul-Ago* Mar-Abr-Mai* Ganho/Perda* % Var.
População ocupada 2.947 2.914 33 1,13
Ocupada com carteira 2.759 2.726 33 1,21
Ocupada sem carteira 1.989 1.968 21 1,07
Doméstico com carteira 1.627 1.600 27 1,69
Doméstico sem carteira 987 972 15 1,54
Servidor público com carteira 4.211 4.152 59 1,42
Servidor público estatutário e militar 5.291 5.192 99 1,91
Servidor público sem carteira 2.467 2.445 22 0,90
Empregador com CNPJ 8.208 7.911 297 3,75
Empregador sem CNPJ 4.370 4.485 -115 -2,56
Por conta própria com CNPJ 4.023 4.015 8 0,20
Por conta própria sem CNPJ 1.787 1.774 13 0,73

*em reais – Fonte: IBGE

Mas, quando se separam os trabalhadores formais e informais, fica evidente a diferença entre o dinheiro  potencialmente injetado na economia pelos dois grupos. No trimestre de junho a agosto, o rendimento médio dos formais (trabalhadores com carteira assinada, autônomos e empregadores com CNPJ, funcionários públicos com regime CLT ou estatutário, empregados domésticos com carteira e militares) ficou em R$ 4.353 por mês.

Já quem não possui nenhum tipo de formalização recebeu, em média, R$ 2.320 por mês. Isso significa apenas 53% da renda média de alguém no mercado formal.

3. Pessoas trabalhando menos horas que o ideal

Também cresceu o contingente de pessoas subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas. Essa linha considera quem exerce uma atividade geradora de renda, mas cujo total de horas trabalhadas não alcança o mínimo necessário para pagar todas as contas no fim do mês.

No último trimestre, 5,271 milhões de pessoas estavam nessa situação, um aumento de 199 mil sobre os 5,072 milhões do período de abril a junho. Esse grupo cresceu 3,9% na comparação, o que é, literalmente, o triplo do 1,3% do aumento do total de pessoas ocupadas.

4. Desalento e desemprego em agosto

Segundo o IBGE, 3,576 milhões de pessoas são desalentadas, isto é, desistiram de procurar emprego, mas gostariam de encontrar um. Os motivos vão da falta de oportunidades nos locais em que residem, como pequenas cidades com economia estagnada, até sucessivas recusas por serem consideradas muito novas ou muito velhas para as vagas a que se candidataram.

É verdade que, na comparação com o trimestre de abril a junho, houve uma queda de 150 mil brasileiros nessa situação, ou 4%.

5. Brasil desperdiça quase 18% de sua força de trabalho potencial

O desemprego explícito não é o único motivo para se preocupar. O IBGE fornece também um indicador que mostra, com muito mais clareza, a situação do mercado de trabalho. Trata-se da taxa composta da subutilização da força de trabalho.

Taxa composta de subutilização da força de trabalho 17,7%
Subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas* 5.271
Desocupadas* 8.416
Na força de trabalho potencial* 6.547
Total de subutilização* 20.234
Na força de trabalho* 108.070
Na força de trabalho potencial* 6.547
Força ampliada* 114.617

*Em mil – Fonte: IBGE

Para calculá-la, os estatísticos somam quem trabalha menos horas que o ideal, os desocupados e quem está na força de trabalho potencial, isto é, pessoas com 14 anos ou mais que, por algum motivo (como ter de cuidar das tarefas domésticas ou de um parente doente), não procuraram emprego nas últimas semanas, mas que gostariam de arrumar um.

No trimestre encerrado em agosto, essa soma chegou a 20,234 milhões de pessoas, um contingente de 17,7% da força de trabalho ampliada, representada por 114,617 milhões de brasileiros.

Veja os números detalhados do desemprego em agosto.

 

 

 

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