Desempenho ruim em São Paulo é desafio para campanha de Lula
Luiz Inácio Lula da Silva voltou às origens em São Bernardo do Campo para dar um novo impulso a sua candidatura à presidência.
O petista recomeçou a campanha do segundo turno no berço do movimento operário brasileiro dos anos 70, onde emergiu como força política ao presidir o sindicato dos metalúrgicos, organizar greves e liderar passeatas.
Lula venceu na cidade de cerca de 900.000 habitantes no primeiro turno. Mas ele perdeu inesperadamente para Jair Bolsonaro na contagem geral do estado de São Paulo por quase sete pontos percentuais, uma derrota que leva o ex-presidente a lutar para melhorar seu desempenho no dia 30 de outubro.
Para a equipe de Lula, o resultado no estado mais populoso do Brasil — e que representa cerca de 25% de todo o eleitorado — foi comparável a um acidente de avião, onde uma confluência de pequenos fatores leva à catástrofe. Na primeira reunião pós-primeiro turno, o tom foi de frustração.
Edinho Silva, coordenador de campanha do ex-presidente, talvez tivesse uma ideia do que estava por vir. Em entrevista na véspera da votação, disse que São Paulo se tornou o núcleo duro do bolsonarismo.
“Temos uma porcentagem da sociedade brasileira que, infelizmente, é racista, homofóbica, machista, xenófoba e não aceita a ascensão social das classes mais baixas”, disse. “Parte do Brasil que pensa assim está em São Paulo.”
Lula saiu do chão de fábrica para se tornar um sindicalista em São Bernardo, sinônimo da indústria automobilística da época. Seu apoio continua forte lá: Venceu por mais de 10 pontos percentuais.
Mas, assim como as fábricas de automóveis de sua juventude se foram, o fracasso de Lula em conquistar um estado que ele dominou no passado — e que representa cerca de um terço da economia do Brasil — reflete uma nova realidade na qual Bolsonaro ganhou uma posição significativa no cenário político.
Mesmo que as pesquisas ainda mostrem vantagem de Lula sobre o titular em todo o país, a polarização que tomou conta do país e aparece de forma bem clara em São Paulo representará o maior desafio para quem vencer.
Lula conquistou mais votos do que Bolsonaro na capital paulista, 47,5% a 38%, mas o presidente teve uma vantagem de mais de 20 pontos no interior.
A cidade de São Paulo tem cerca de 9 milhões de eleitores, enquanto no interior são mais de 25 milhões.
“São Paulo é o estado da meritocracia, da livre iniciativa e do empreendedorismo”, disse Ricardo Salles, aliado de Bolsonaro, ex-ministro do Meio Ambiente e eleito para a Câmara dos Deputados pelo estado com uma das maiores votações do país. “O interior, em especial, também tem uma visão de defesa da família tradicional e das crianças. Tudo isso é representado pela direita liberal conservadora.”
Bolsonaro teve um desempenho notável há quatro anos, levando cerca de 68% dos votos do estado de São Paulo em uma eleição que ocorreu no contexto da Lava Jato que levou Lula à prisão em abril daquele ano. Lula depois foi solto e teve sua sentença anulada pelo STF. O resultado do primeiro turno mostrou que os brasileiros não esqueceram — e que o apelo de Bolsonaro não é algo efêmero, mas bem mais duradouro que se pensava.
A equipe de Lula respondeu ao revés do primeiro turno com uma operação para visitar as cidades mais importantes de São Paulo com comícios e caminhadas. Nos dias que se seguiram ao evento de campanha em São Bernardo, Lula visitou Guarulhos e Campinas, onde perdeu para Bolsonaro.
Enquanto isso, o seu companheiro de chapa, Geraldo Alckmin, teve a presença reforçada em viagens pelo interior. Conservador e ex-tucano, Alckmin governou o estado por três mandatos e, em 2006, quando concorreu à presidência e perdeu para Lula, teve o melhor desempenho que qualquer outro candidato no seu estado natal.
Para Denilde Holzhacker, professora de ciência políticas da ESPM em São Paulo, a campanha de Lula cometeu um erro ao não fazer mais uso de Alckmin no primeiro turno. E também errou ao explicar a aliança com o ex-adversário à base de esquerda, em vez de tentar conquistar eleitores do campo oposto. “A lógica deveria ter sido inversa: explicar aos eleitores conservadores por que Alckmin decidiu se aliar a Lula.”
Apesar dos esforços da campanha, as previsões para o segundo turno dentro da equipe de Lula não são otimistas, e a principal estratégia é a contenção de danos. Ninguém tem a ilusão de que seja possível Lula vencer Bolsonaro em São Paulo.
Para Guilherme Boulos, aliado do petista e o deputado mais votado em São Paulo, a campanha precisa se conectar com eleitores que escolheram outros candidatos no primeiro turno, bem como com aqueles que se abstiveram ou anularam.
“Vamos ter que dialogar de forma humilde e democratica”, disse.