Coluna do Vicente Guimarães

Desconto hiperbólico: O que está por trás da ‘explosão’ das bets (e qual a relação com a bolsa)

15 set 2024, 16:00 - atualizado em 15 set 2024, 16:40
Bets
(Imagem: iStock.com/bluecinema)

A quantidade de pessoas que passaram a investir em ações na Bolsa de Valores aumentou muito nos últimos anos. Para se ter ideia, em 2014 a B3 contava com 564,5 mil CPFs cadastrados. Em 30 de agosto de 2024 este número já está em 5,9 milhões, ou seja, 2,95% da população brasileira.

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Bastante considerando o tempo e o cenário econômico brasileiro, mas muito pouco se comparamos com países desenvolvidos e, principalmente, com o gosto dos brasileiros por apostas em jogos de azar.

Sim, jogos de azar são o principal caminho seguido por muitos que desejam ganhar algum dinheiro. Claro que mais perdem do que ganham. Cerca de 15% da população brasileira joga ou já jogou nas famosas Bets. Em 2023, a jogatina online movimentou R$ 50 bilhões, montante superior ao balanço das exportações de carne bovina do ano inteiro, que chegou a pouco mais de R$ 45 bilhões. E olha que o Brasil é um dos maiores exportadores mundiais deste tipo de alimento.

Segundo o Instituto Datafolha, o gasto mensal dos apostadores é de R$ 263. Algo em torno de 17% dos que recebem Bolsa Família também apostam nas Bets.

No caso deste nicho, o valor mensal gasto nas apostas é de R$ 100. De todos os apostadores, 49% pertencem à classe C e 37% à classe B. 61% são homens e 39% mulheres. Se compararmos com outros países, o Brasil só fica atrás dos Estados Unidos e do Reino Unido, mas está à frente da Índia e da Itália.

Estes números explicam o porquê tem tanta casa de apostas no Brasil. Todos os dias aparecem novos Bets nos comerciais de TV e nos anúncios da Internet. Esse fenômeno é explicado pela busca por ganhos rápidos. Investir exige algum conhecimento, atenção naquilo que se está fazendo e paciência para ver o patrimônio crescer.

Apostar, não. O cidadão coloca o dinheiro e aguarda o sorteio. Se der tudo certo ganha uma bolada que resolverá sua vida. Mas a chance de isso acontecer é tão ínfima, que o apostador passa a vida sonhando. E pobre.

Mas essa busca por ganhos rápidos tem uma explicação em um viés cognitivo importante: “desconto hiperbólico”. Para quem nunca ouviu este termo, desconto hiperbólico é o viés cognitivo associado com a preferência por recompensas imediatas. Ao escolher entre uma recompensa imediata ou uma recompensa futura, ainda que a recompensa futura seja maior, a maioria das pessoas opta pela imediata. Elas fazem um desconto exagerado do valor da recompensa futura. Quando a opção é entre duas recompensas futuras, esse efeito se atenua.

É por isso que tantas pessoas são atraídas pela ideia de ganhos aparentemente rápidos, que prometem lucros imediatos – especialmente o Day Trade em que as operações são iniciadas e encerradas no mesmo dia.

Enquanto isso, estratégias de investimento de médio a longo prazo, como buy and hold, podem ser consideradas menos atrativas. Mas investir pensando no longo prazo costuma ser mais seguro e eficiente, principalmente para quem começa jovem, mas não apenas para este grupo, que fique claro.

Uma boa estratégia de investimento, baseada em dividendos e executada com bastante disciplina pode garantir a liberdade financeira muito antes do que as pessoas imaginam. É quando o dinheiro conquistado diariamente com muito suor passa a trabalhar para o investidor. Mas como eu sempre digo, é preciso algum esforço e paciência.

O brasileiro precisa, com urgência, receber educação financeira para focar seus recursos naquilo que realmente lhe trará benefícios. Conhecimento é a única “vacina” eficaz no combate ao desconto hiperbólico.

Enquanto nossos cidadãos não receberem a devida educação em finanças, vamos assistir a essa barbaridade que é jogar dinheiro fora. Um dinheiro que não alavanca a indústria nem o comércio, não fortalece o mercado financeiro, apenas emburrece a maioria, enriquecendo um seleto grupo, formado, na maioria, por gente de fora do país.

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CEO da VG Research
Vicente Guimarães é Doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com mais de 20 anos de experiência no mercado corporativo e financeiro. Em 2018, lançou seu canal no YouTube que atualmente possui mais de 220 mil inscritos. O sucesso do seu conteúdo inspirou a criação da VG Research, casa de análise que já orientou mais de 20 mil clientes.
vicente.guimaraes@moneytimes.com.br
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Vicente Guimarães é Doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com mais de 20 anos de experiência no mercado corporativo e financeiro. Em 2018, lançou seu canal no YouTube que atualmente possui mais de 220 mil inscritos. O sucesso do seu conteúdo inspirou a criação da VG Research, casa de análise que já orientou mais de 20 mil clientes.
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