Economia

Desancoragem das expectativas: Diretor do BC reforça incerteza no cenário econômico quanto aos impactos do ‘tarifaço’ de Trump

07 abr 2025, 15:24 - atualizado em 07 abr 2025, 15:27
Banco Central, Focus, Diogo Guillen
Diogo Guillen, diretor de Política Econômica do BC, reforça que o atual cenário econômico tem múltiplas camadas de incerteza (Imagem: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, afirma que o atual cenário econômico tem múltiplas camadas de incerteza, mas que as expectativas do mercado são muito relevantes no sistema de metas para a inflação.

Durante o evento de premiação dos Top 5 do relatório Focus de 2024, realizado nesta segunda-feira (7), na sede da autoridade monetária em São Paulo, Guillen disse que a desancoragem das expectativas de inflação é uma causa de desconforto a todos os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) — e isso foi mencionado nas últimas atas justamente para dar ênfase ao tema.

“Quando a gente coloca o ‘todos’, eu acho que foi um tom a mais reforçando aqui de novo esse papel da desancoragem das expectativas no regime de metas, e enfatizando esse cenário mais desafiador quando você tem expectativas desancoradas, exigindo uma restrição monetária maior, como a gente está vendo agora, e por mais tempo do que seria apropriado se não houvesse essas expectativas desancoradas”, afirma.

Embora seja um período de mais cautela, o diretor reforça que as expectativas do mercado são “muito relevantes” no sistema de metas, destacando a importância do próprio relatório Focus no mercado.

“A gente recebe muito questionamento de outros bancos centrais de tentar fazer sistemas que sejam tão bons quanto o Focus, países desenvolvidos inclusive”, disse.

Para ele, esse sucesso do Focus acopla pontos cruciais como a tempestividade das coletas, as datas críticas, a publicação semanal e a ampla gama de projeções solicitadas, além do próprio Top 5, que premia as instituições que mais acertam as porcentagens e dados. “O Focus representa um farol nesta construção de expectativas”, disse.

O escopo das variáveis é muito mais completo do que usualmente se faz numa pesquisa de expectativas, explica. “Claro, a projeção de inflação é o nosso mandato e é o que a gente vai sempre olhar com mais cuidado, mas o fato de ter atividade, fiscal, externo, juros, permite você ter uma dimensão de pensar sobre a economia toda, que eu acho que também é muito produtivo”.

Guillen ainda concluiu que o cenário se tornou “extremamente incerto”, principalmente devido ao cenário internacional, incluindo o nível das tarifas americanas e a reação que será adotada pelo Federal Reserve.

Cenário internacional, inflação e os impactos do ‘tarifaço’ de Trump

Ainda durante o evento, os economistas que participam das projeções econômicas do Boletim Focus, do Banco Central, destacaram uma presente incerteza sobre os impactos do “tarifaço” anunciado pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump.

Em uma mesa redonda sobre o cenário internacional, Fernando de Paula Rocha, sócio da gestora JGP, destacou que visando o cenário no exterior, há uma abertura para haver a tendência de uma taxa de juros mais elevada, pelo deslocamento das duas curvas — o que levaria a um câmbio mais apreciado.

“Para os emergentes, eu acho que a gente teria uma tendência de desvalorização do câmbio, um choque de oferta negativo, a gente tenderia a ter moedas mais desvalorizadas”, disse.

Contudo, os países produtores — especialmente os asiáticos — terão que diminuir as exportações para os EUA, levando a possibilidade de tentar vender seus produtos para emergentes, com possível impacto desinflacionário, embora, ainda haja uma possível desvalorização cambial pode mitigar os efeitos.

Na avaliação do economista, nesse cenário, dúvidas sobre o fluxo de investimentos para os EUA também devem ser esperadas.

O economista Eduardo Vecchio, da Caixa Asset, destacou que as tarifas mínimas, de 10%, parecem ter vindo para ficar. Isso porque, a certeza atual é de um mundo mais inflacionário, pelo menos, no curto prazo, pressionadas pela incerteza sobre a velocidade da desaceleração da economia americana e mundial, assim como a postura do Federal Reserve e a precificação de corte dos juros no mercado.

Já Carlos Thadeu Freitas Gomes Filho, economista-sênior da BGC Liquidez, ponderou uma depreciação cambial, na qual deve dificultar uma melhora das expectativas de inflação. Isso em um momento no qual o governo deve atuar para impedir uma desaceleração da atividade.

O economista reforça que, com a composição do IPCA já pressionada, a inflação de serviços deve continuar puxando a variação de preços nos próximos dois ou três trimestres.

Por fim, o economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles, aponta que a interpretação perante as tarifas é de ‘choque negativo de oferta’, ou seja, um cenário em que a inflação americana sobe e o Produto Interno Bruto (PIB) é reduzido. Para Salles, caso os EUA se tornem uma economia ‘fraca’, a tendência é que haja deflagração visando um aumento na aversão ao risco, desvalorizando as moedas de países emergentes.

“Nesse sentido, tem dois caminhos possíveis pelo Fed: um caminho é se as expectativas não desancorarem, por algum motivo, o cenário básico do mercado se concretizar, o Fed vai poder combater a recessão cortando juros”, diz. “Por outro lado, se a expectativa de inflação de fato desancorar, o Fed ficaria sem condições, ou seja, não seria capaz de combater a recessão. Esse segundo cenário seria mais difícil, tanto para as economias desenvolvidas como para as emergentes”, completa.

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Estudante de jornalismo na Universidade São Judas Tadeu, tem habilidades em edição de imagens e vídeos além da paixão pelo meio de comunicações. Estuda inglês e está em busca da fluência.
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