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Desaceleração global por coronavírus será “muito pior” do que crise financeira, diz FMI

03 abr 2020, 17:59 - atualizado em 03 abr 2020, 17:59
coronavírus
O FMI solicitou às economias avançadas que intensifiquem seus esforços para ajudar os mercados emergentes (Imagem: Unsplash/@yohannlibot)

A pandemia de coronavírus tem levado a economia global à estagnação e mergulhado o mundo em uma recessão que será “muito pior” do que a crise financeira global de uma década atrás, disse a chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta sexta-feira.

Durante uma rara coletiva de imprensa conjunta com a líder da Organização Mundial da Saúde (OMS), a diretora-administrativa do FMI, Kristalina Georgieva, solicitou às economias avançadas que intensifiquem seus esforços para ajudar os mercados emergentes e os países em desenvolvimento a sobreviverem ao impacto econômico e de saúde decorrente da pandemia.

“Esta é uma crise como nenhuma outra”, disse ela a cerca de 400 repórteres em uma teleconferência. “Testemunhamos a economia mundial parada. Estamos agora em recessão. É muito pior do que a crise financeira global” de 2008-2009.

Mais de 1 milhão de pessoas foram infectadas com o novo coronavírus e mais de 53 mil morreram, de acordo com uma contagem da Reuters nesta sexta-feira.

Georgieva disse que o FMI está trabalhando com o Banco Mundial e com a OMS para adiantar seus pedidos à China e a outros credores bilaterais oficiais para que suspendam a cobrança de dívidas dos países mais pobres por pelo menos um ano até a pandemia amainar.

Ela disse que a China tinha se engajado “construtivamente” no assunto, e o FMI elaborará uma proposta específica nas próximas semanas com o Clube de Paris das nações credoras, o Grupo das 20 principais economias do mundo e o Banco Mundial para revisão nas Reuniões Anuais da Primavera, que serão realizadas online em cerca de duas semanas.

Os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento foram duramente atingidos pela crise, disse Georgieva, observando que quase 90 bilhões de dólares em investimentos já haviam saído de mercados emergentes, valor muito maior do que durante a crise financeira. Alguns países também estavam sofrendo quedas acentuadas nos preços das commodities.

Mais de 90 países, quase metade dos 189 membros do FMI, solicitaram um financiamento de emergência ao Fundo para responderem à pandemia, afirmou ela.

O FMI e a OMS têm solicitado que a ajuda de emergência seja utilizada principalmente para aperfeiçoar os sistemas de saúde, pagar médicos e enfermeiros e comprar equipamentos de proteção.

Georgieva disse que o Fundo está pronto para usar o máximo de seu “baú de guerra”, de 1 trilhão de dólares, em capacidade financeira, conforme necessário.

O FMI começou a desembolsar fundos para os países solicitantes, incluindo Ruanda, com pedidos de mais dois países africanos para serem analisados ​​nesta sexta, disse ela.

“Esta é, no curso da minha vida, a hora mais sombria da humanidade –uma grande ameaça para o mundo inteiro– e exige que permaneçamos elevados, unidos e protegendo os mais vulneráveis ​​de nossos companheiros cidadãos”, disse ela.

Ela disse que os bancos centrais e os ministros das Finanças já tomaram medidas sem precedentes para mitigar os efeitos da pandemia e estabilizar os mercados, mas é necessário mais trabalho para manter a liquidez fluindo, especialmente para os mercados emergentes.

Para esse fim, a diretoria do Fundo irá analisar, nos próximos dias, uma proposta para criar uma nova linha de liquidez de curto prazo para ajudar a fornecer fundos para os países que enfrentam problemas. Ela também instou os bancos centrais, e particularmente o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), a continuarem oferecendo linhas de swap para as economias emergentes.