Internacional

Derrocada de títulos dos EUA deixa investidor ferido, apesar da pausa de Trump nas tarifas

09 abr 2025, 19:32 - atualizado em 09 abr 2025, 19:32
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(Imagem: REUTERS/Brendan McDermid)

Os investidores em títulos do Tesouro norte-americano ficaram feridos nesta quarta-feira, apesar de uma pausa temporária na cobrança de algumas tarifas pelos EUA, já que alguns fundos foram forçados a vender títulos em uma corrida por dinheiro, enquanto outros questionaram o status dos Treasuries como ativo mais seguro do mundo.

Os rendimentos dos Treasuries de dez anos, que atingiram o pico de sete semanas, se mantiveram em níveis elevados mesmo depois de o presidente Donald Trump autorizar uma pausa de 90 dias para a maioria de suas novas tarifas, mas com um aumento para 125% da alíquota para a China, com efeito imediato.

Em diferentes momentos durante a sessão volátil, a alta nos rendimentos, na semana até agora, superou o maior salto semanal desde 2001.

O dólar — também um porto seguro tradicional, mas que havia se enfraquecido em relação a outras moedas importantes — se recuperou, assim como as ações listadas nos EUA, após o anúncio de Trump.

Analistas e investidores do mundo todo apontaram a liquidação de títulos do Tesouro nesta semana como evidência de que a confiança na maior economia do mundo foi abalada.

“O mercado perdeu a fé nos ativos dos EUA”, escreveram analistas do Deutsche Bank em nota nesta quarta-feira, antes do anúncio de Trump.

Marc Rowan, CEO da Apollo Global Management, grande gestora de ativos alternativos, disse em entrevista à CNBC que estava preocupado com danos à marca norte-americana.

Nesta quarta-feira, alguns analistas disseram que a situação havia se deteriorado em alguns setores do mercado, nos quais os investidores haviam se endividado.

Mesmo assim, três fontes do mercado disseram que as distorções não atingiram níveis de crise e que as negociações, embora voláteis, foram ordenadas.

O leilão da tarde de títulos do Tesouro de dez anos ocorreu dentro das expectativas. Os resultados do leilão trouxeram ainda mais alívio ao mercado.

Mesmo assim, ainda havia dúvidas sobre as perspectivas.

“A suspensão de 90 dias permite um bom espaço para que as negociações se estabeleçam, e as avaliações de mercado foram claramente redefinidas”, disse Carol Schleif, estrategista-chefe de mercado da BMO Private Wealth. “No entanto, a incerteza para as empresas permanece.”

No passado, movimentos dessa magnitude nos mercados globais tendiam a provocar uma resposta enérgica dos principais governos e bancos centrais, com os EUA liderando o movimento.

Nesta quarta-feira, no entanto, a maior economia do mundo não compareceu ao anúncio de que o Japão e o Canadá concordaram em cooperar para manter a estabilidade nos mercados financeiros.

Antes do anúncio de Trump, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, minimizou a derrocada do mercado. Em entrevista matinal à Fox Business Network, ele disse esperar que o mercado de títulos se acalmasse e que não havia visto nada sistêmico na liquidação até o momento.

Após a pausa tarifária, Bessent afirmou que o mercado não entendeu que o plano tarifário era de níveis máximos. Ele também observou que o leilão de títulos de dez anos havia sido positivo.

Pressão para agir

O aumento nos rendimentos dos títulos do Tesouro, que se movem inversamente aos preços, elevou os custos dos empréstimos em todo o mundo, aumentando a pressão para os bancos centrais agirem rapidamente para proteger as economias que enfrentam desaceleração acentuada.

O aumento dos custos dos empréstimos governamentais também afeta empréstimos corporativos e hipotecas, o que significa que o que acontece nos mercados de títulos pode causar danos econômicos a empresas e famílias.

Se não forem controlados, eles também podem prejudicar a capacidade dos formuladores de políticas de perseguir sua agenda.

O rendimento dos títulos do governo japonês de 30 anos atingiu níveis máximos de 21 anos nesta quarta-feira, enquanto os rendimentos dos títulos britânicos de 30 anos atingiram o nível mais alto desde 1998. Em contraste, os títulos alemães de dez anos permaneceram estáveis.

VENDA FORÇADA

O mercado de títulos do Tesouro é a base do sistema financeiro global, com investidores, bancos e outros agentes detendo papéis em grandes quantidades, como um ativo seguro que pode ser facilmente vendido para levantar dinheiro quando necessário.

Uma fonte da pressão de venda, segundo diversos participantes do mercado, veio de fundos de hedge que assumiram posições no mercado de títulos que tiveram que ser desfeitas, à medida que os corretores exigiam que eles depositassem margens ou garantias adicionais para respaldar as operações. Como resultado, eles estavam vendendo títulos para levantar fundos.

Essas “operações de base” são tipicamente o domínio de fundos de hedge macro. Eles se baseiam na venda de contratos futuros ou no pagamento de swaps e na compra de títulos do Tesouro à vista com dinheiro emprestado, com o objetivo de explorar pequenas diferenças de preço.

“Quando o corretor principal começa a apertar os parafusos pedindo mais margens ou dizendo que não pode lhe emprestar mais dinheiro, esses caras obviamente terão que vender”, disse Mukesh Dave, diretor de investimentos da Aravali Asset Management, um fundo de arbitragem global sediado em Cingapura.

Sinais de alerta surgiram há alguns dias, à medida que a diferença entre os rendimentos dos títulos do Tesouro e as taxas de swap, um tipo de derivativo de taxa de juros, despencou no mercado interbancário sob o peso da venda de títulos.

Com a venda dos títulos do Tesouro esta semana, os rendimentos dispararam e ficaram fora de sincronia com os swaps. No prazo de dez anos, a lacuna subiu para 64 pontos-base, a maior já registrada.

Outro sinal: os títulos de longo prazo, utilizados por fundos de hedge em operações de base, tiveram seus rendimentos aumentados. Os rendimentos dos títulos do Tesouro de 30 anos subiram 12 pontos-base, para 4,835%. Em determinado momento, registraram seu maior salto em três dias desde 1982.

A liquidação de títulos de longo prazo também elevou a diferença entre os rendimentos de dois e dez anos, uma métrica observada de perto chamada curva de rendimentos, para o maior nível desde 2022.

Alguns analistas e investidores disseram que outro fator estava impulsionando o sentimento do mercado: uma mudança estrutural de longo prazo.

As tarifas de Trump estão mudando a composição dos fluxos comerciais globais, o que, a longo prazo, pode desacelerar as compras estrangeiras de títulos da dívida norte-americana, à medida que os déficits diminuem. Também havia preocupações de que grandes detentores estrangeiros, como China e Japão, pudessem se tornar vendedores.

“Os mercados agora estão preocupados que a China e outros países possam ‘se desfazer’ dos títulos do Tesouro dos EUA como uma ferramenta de retaliação”, disse Grace Tam, consultora-chefe de investimentos do BNP Paribas Wealth Management em Hong Kong.

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reuters@moneytimes.com.br
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