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“Depois do V”: Efeito do coronavírus sobre a economia pode durar décadas

19 abr 2021, 16:59 - atualizado em 19 abr 2021, 17:16
Comércio fechado em São Paulo em meio a pandemia de Covid-19
A queda do PIB global no ano passado foi a maior desde a Grande Depressão (Imagem: REUTERS/Carla Carniel)

Assim como algumas pessoas que se recuperaram da Covid-19 apresentam sintomas no longo prazo, começa a ficar claro que o mesmo acontecerá com a economia global assim que a recuperação em forma de V deste ano perder força.

Embora US$ 26 trilhões em apoio durante a crise e a chegada de vacinas tenham estimulado uma recuperação mais rápida do que muitos previam, os legados da educação abalada, destruição de empregos, níveis de dívida de tempos de guerra e as crescentes desigualdades entre raças, gêneros, gerações e geografias deixarão cicatrizes duradouras, a maioria em países mais pobres.

“É muito fácil depois de um ano exaustivo ou mais sentir-se realmente aliviado que as coisas voltaram aos trilhos”, disse Vellore Arthi, da Universidade da Califórnia, Irvine, que estuda o impacto de longo prazo na saúde e na economia causado por crises anteriores. “Mas muitos dos efeitos que vemos historicamente duram décadas, e não são facilmente resolvidos.”

A queda do PIB no ano passado foi a maior desde a Grande Depressão. A Organização Internacional do Trabalho estima que o impacto eliminou o equivalente a 255 milhões de empregos formais. Pesquisadores do Pew Research Center afirmam que a classe média global encolheu pela primeira vez desde os anos 1990.

Comércio fechado por causa da pandemia de coronavírus
“Voltar ao padrão pré-Covid levará tempo”, disse Carmen Reinhart, economista-chefe do Banco Mundial (Imagem: Agência Brasil/ Tânia Rego)

Os custos serão distribuídos de forma desigual. Uma análise de 31 métricas de 162 nações elaborado pela Oxford Economics destacou Filipinas, Peru, Colômbia e Espanha como as economias mais vulneráveis a cicatrizes de longo prazo. Austrália, Japão, Noruega, Alemanha e Suíça foram considerados os mais bem colocados.

“Voltar ao padrão pré-Covid levará tempo”, disse Carmen Reinhart, economista-chefe do Banco Mundial. “As consequências da Covid não serão revertidas em muitos países. Longe disso.”

Nem todos os países serão afetados igualmente. O Fundo Monetário Internacional acredita que economias avançadas serão menos afetadas pelo coronavírus neste ano e depois, enquanto países de baixa renda e mercados emergentes sofrerão mais. Um contraste com 2009, quando países ricos foram mais atingidos.

A previsão para o PIB dos EUA no próximo ano é ainda maior do que o projetado antes da Covid-19, impulsionado por trilhões de dólares em estímulos. Com isso, as projeções do FMI mostram poucas cicatrizes residuais da pandemia na maior economia do mundo.

Coronavírus EUA
“É possível que os gostos das pessoas mudem genuinamente, caso em que haverá mais desemprego transicional”, aponta Adam Posen, presidente do Peterson Institute for International Economics (Imagem: REUTERS/Brendan McDermid/File Photo)

Depois do V

A forma como a confiança do consumidor e os padrões de gastos serão influenciados por preocupações constantes com relação à saúde e ao mercado de trabalho pode ser um dos legados econômicos mais importantes da crise, assim como a Grande Depressão na década de 1930 estimulou uma maior poupança. Isso é um risco, embora muitas pessoas tenham guardado mais dinheiro no último ano.

“Há uma incerteza genuína sobre o quanto o comportamento das pessoas em termos de padrões de consumo mudará como resultado desta crise”, disse Adam Posen, presidente do Peterson Institute for International Economics.

“Se as pessoas voltarem a comer em restaurantes, a fazer viagens de lazer, a se exercitar em academias, muitos desses setores irão renascer. Mas também é possível que os gostos das pessoas mudem genuinamente, caso em que haverá mais desemprego transicional, e não há uma boa solução de governos para isso.”

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