Demanda global por petróleo deve ter recuperação longa e incerta
Poucos têm um termômetro da demanda por petróleo melhor do que o de Joe Gorder, diretor-presidente da refinaria americana Valero Energy.
Mas, nesta semana, Gorder nem precisou de sua visão de negócios para saber que o consumo de combustível começa a se recuperar nos Estados Unidos.
Ele só precisou olhar as ruas de San Antonio, a cidade do Texas onde mora, para ver o tráfego ressurgir após semanas de bloqueio.
“As pessoas começam a sair mais”, disse Gorder. “Acho que provavelmente existe uma demanda reprimida para que as pessoas saiam de suas casas e se movimentem.”
Em várias metrópoles globais, dados de tráfego, vendas em postos de combustíveis e fluxos de oleodutos sugerem que a queda da demanda por petróleo deve ter atingido o piso em meados de abril e agora começa uma modesta – e muito hesitante – recuperação.
Os sinais não são importantes apenas para o setor de petróleo, pois fornecem um vislumbre de esperança após uma torrente de dados econômicos negativos.
“Acredito que vimos o piso”, disse Marco Dunand, cofundador da Mercuria Energy Group, uma das cinco maiores tradings de petróleo do mundo.
Mas a recuperação é extremamente lenta. Operadores petróleo acreditam que é provável que demore mais de um ano, e talvez muito mais, para que a demanda global atinja os níveis pré-pandemia de aproximadamente 100 milhões de barris por dia. Uma minoria crescente especula que talvez nunca mais volte a esse nível.
A provável forma da retomada tem sido um tópico muito debatido. Uma recuperação em V foi descartada. É possível que seja em forma de U, com um período relativamente longo no piso, ou em forma de L, onde a demanda nunca voltará para onde estava.
Talvez o alfabeto latino não tenha uma letra para a forma correta. O símbolo matemático da raiz quadrada pode oferecer, até certo ponto, uma alternativa: primeiro, uma recuperação em V, quando os confinamentos são reduzidos, seguida por uma cauda longa e plana à medida que mudanças no estilo de vida, como mais trabalho em casa, se tornam mais normais.
Obstáculos
Certamente, companhias aéreas não esperam um retorno ao nível da demanda de 2019 nos próximos anos. É o que Ed Morse, analista veterano de petróleo do Citigroup, chama de “estrada sinuosa e acidentada para a recuperação do petróleo”.
A enorme escala de destruição da demanda – cerca de 30 milhões de barris por dia em abril – sinaliza que retomada será um processo doloroso.
A Agência Internacional de Energia estima que o consumo cairá 25,8 milhões de barris por dia em maio e 14,6 milhões em junho.
Em dezembro, a demanda ainda estaria 2,7 milhões por dia abaixo dos níveis de 2019.
“Estamos vendo melhoras realmente nos três mercados, vimos os volumes de maio em alta na Europa, vemos isso acontecendo nos EUA e também na Ásia”, disse Darren Woods, CEO da Exxon Mobil, a investidores na sexta-feira. “Há alguns sinais iniciais encorajadores.”
“Globalmente, estamos no ponto de inflexão onde o pior já passou para a destruição da demanda por petróleo, mas não para a destruição da oferta”, disse Olivier Jakob, diretor-gerente da consultoria Petromatrix. “Isso deve ajudar na estabilização dos preços.”