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Default ainda é risco para emergentes abalados por pandemia

25 dez 2020, 10:00 - atualizado em 22 dez 2020, 9:33
Dívidas
Embora uma onda de inadimplência aparentemente inevitável tenha sido evitada graças ao programa de dívida sem precedentes e à maré de estímulo global, para alguns, encontrar uma maneira de repor as reservas fiscais ainda é um desafio (Imagem: Pixabay)

O menor volume de dívidas em reestruturação de mercados emergentes tem sido um bônus pouco antecipado para muitos países neste ano. Mas não serve muito como consolo para países que ainda enfrentam endividamento crescente.

O número de países de mercados emergentes e de fronteira com títulos de dívida negociados em níveis distressed – rendimentos mais de 10 pontos percentuais acima do retorno pago pelos títulos do Tesouro dos EUA – caiu de 19 no auge da onda vendedora do coronavírus em março para cerca de meia dúzia atualmente.

Uma iniciativa do G-20 para a suspensão de pagamentos de empréstimos de 73 países mais pobres ajudou muitas nações de baixa renda a evitarem o default e liberarem recursos para medidas contra o coronavírus, o que adiou cerca de US$ 5 bilhões em pagamentos.

Embora uma onda de inadimplência aparentemente inevitável tenha sido evitada graças ao programa de dívida sem precedentes e à maré de estímulo global, para alguns, encontrar uma maneira de repor as reservas fiscais ainda é um desafio.

Mesmo se as condições forem favoráveis, “muitos emissores de mercados emergentes ainda estarão longe de estabilizar o ônus da dívida”, disseram em relatório os estrategistas do Bank of America Jane Brauer, em Nova York, e Andrew MacFarlane, em Londres. “O mercado precisará ver estratégias de saída confiáveis.”

Reestruturações

A Argentina chegou a um acordo com credores para reestruturar quase US$ 65 bilhões da dívida internacional em agosto, seu terceiro default desde a virada do século.

A renegociação de US$ 17,4 bilhões em títulos internacionais do Equador no mesmo mês, juntamente com uma linha de crédito de US$ 6,5 bilhões do Fundo Monetário Internacional, reduziu as obrigações do país na próxima década.

Esses países não estão fora de perigo ainda. O peso argentino deve fechar o ano com o pior desempenho neste ano entre mercados emergentes, e os títulos da Argentina são novamente negociados em níveis distressed.

No Equador, que quitou apenas dois títulos de dívida em sua história, investidores estão preocupados com a possibilidade de o país colocar na presidência um candidato de esquerda, que criticou o acordo com o FMI, nas eleições do próximo ano.

Negociações em andamento

Zâmbia e Líbano tentam iniciar negociações para reestruturar seus títulos depois que anos de alto endividamento os levaram a pedir ajuda ao FMI.

A Zâmbia se tornou o primeiro país no continente africano a declarar default durante a pandemia, por deixar de pagar juros de US$ 42,5 milhões de US$ 1 bilhão em eurobônus com vencimento em 2024.

Mercados de fronteira menores também enfrentam problemas. Laos teria adiado uma emissão de títulos em dólares, com rendimentos superiores a 40% e vencimento em junho de 2021. As contas públicas também permanecem precárias no Suriname e Belize apesar do adiamento de pagamentos de dívida neste ano.

Olhando para 2021, a distribuição de vacinas contra o coronavírus deve favorecer dívidas de alto rendimento no próximo ano, mas dívidas distressed soberanas são, por natureza, “mais idiossincráticas”, disse Richard Briggs, gestor de investimento da GAM Holdings, em Londres, que investe em dívidas de mercados emergentes, incluindo Sri Lanka e Argentina.

O mercado pode ver “muito menos defaults ou reestruturações no próximo ano, já que alguns dos soberanos mais fracos já o fizeram neste ano”, disse.