Internacional

Década dos picos atinge desde globalização aos bancos centrais

20 jan 2020, 16:53 - atualizado em 20 jan 2020, 16:53
EUA Nova York
Estrategistas do Bank of America já dizem aos clientes que se preparem para uma “década de pico” inovadora que transformará empresas e investimentos (Imagem: Reuters/Brendan McDermid)

Em meio aos picos dos Alpes do resort suíço de Davos nesta semana, políticos, investidores e executivos estarão ocupados debatendo se estamos testemunhando picos nos principais fatores que guiam a economia mundial.

Desde a demanda por petróleo, fabricação de carros e proporção de jovens como parcela da população a temas menos mensuráveis como globalização, desigualdade e poder dos bancos centrais, há argumentos que cada um deles diminuirá de intensidade na década de 2020.

Estrategistas do Bank of America já dizem aos clientes que se preparem para uma “década de pico” inovadora que transformará empresas e investimentos. Ian Bremmer, delegado na reunião anual do Fórum Econômico Mundial e fundador do Eurasia Group, descreve este ano como um “ponto de inflexão”.

O tema é capturado em todo o programa de Davos, que contém vários painéis sobre “capitalismo das partes interessadas” e combate à desigualdade.

Os participantes também discutirão o futuro da globalização e se os bancos centrais estão sem munição.

Aqui estão os principais pontos de discussão:

Pico da globalização?

A era de pessoas, bens e dinheiro fluindo cada vez mais sem controle ao redor do mundo pode já ter atingido um ápice, pois governos buscam protecionismo e criam mais obstáculos à migração. Já existem cerca de 77 barreiras físicas delineando fronteiras internacionais em comparação com 15 em 1989 após a queda do Muro de Berlim, segundo o Bank of America.

A Organização Mundial do Comércio calcula que o ritmo de crescimento do comércio internacional caiu abaixo da taxa de expansão econômica em 2019 pela quinta vez desde a crise financeira. As entradas de investimento estrangeiro direto estão em declínio desde 2015, segundo as Nações Unidas.

A guerra comercial EUA-China está no centro da mudança. Mas, mesmo com a assinatura de um acordo provisório, o Instituto Peterson de Economia Internacional calcula que a média de tarifas dos EUA sobre importações da China ainda é de 19,3% contra 3,1% no início de 2018.

Pico do capitalismo?

Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase, e Laurence Fink, fundador da BlackRock, que participam do Fórum Econômico Mundial em Davos, estão entre os que entraram no debate sobre se as empresas devem pesar melhor as partes interessadas, como clientes e funcionários, um distanciamento da mentalidade do “acionista primeiro” predominante há décadas.

Por trás da mudança: a ascensão do populismo, a preocupação de que os salários não sobem em linha com ativos como as ações e receio sobre as mudanças climáticas.

A geração dos millennials em amadurecimento também é um fator de peso. Ao tomar decisões de investimento, 87% dos nascidos entre 1981 e 1996 acreditam que fatores ambientais, sociais e de governança são importantes, de acordo com o Bank of America.

Pico da desigualdade?

A pressão para reduzir a desigualdade se tornará mais urgente nesta década, à medida que os objetivos de desenvolvimento sustentável se aproximam do prazo de 2030.

Um total de 193 governos assinaram até 17 objetivos, 169 metas e 304 indicadores sobre como acabar com a pobreza, limpar o meio ambiente e compartilhar a prosperidade para todos.

Já houve algum progresso. Abhijit Banerjee e Esther Duflo, vencedores do Prêmio Nobel de Economia do ano passado, estimam a renda média dos 50% na base da pirâmide mundial quase dobrou desde 1980.

Pico da mudança climática?

O mundo enfrenta uma série de pontos de inflexão relacionados ao clima como o derretimento das calotas polares, secas e morte dos recifes de corais.

Em novembro, a revista Nature agrupou os riscos, descritos como uma emergência climática que demandará ações políticas e econômicas sobre as emissões. Entre os anos mais quentes registrados, 21 ocorreram no último quarto de século.

Pico dos bancos centrais?

Os bancos centrais podem ter resgatado o mundo da depressão após a crise financeira, mas sua capacidade de recuperar as economias daqui em diante é limitada: o Bank of America estima mais de 700 cortes nas taxas de juros e cerca de US$ 12 trilhões em flexibilização quantitativa desde 2009.

As taxas de juros negativas já são responsabilizadas por afetar os bancos, enquanto as mudanças demográficas, níveis recordes de dívida, transformação tecnológica e desalavancagem bancária diminuem o poder de fogo da política monetária. Isso deixa políticos sob pressão para afrouxar a política fiscal na próxima vez que problemas atingirem a economia mundial.

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