Debêntures indexadas ao IPCA derretem 27% desde início da marcação a mercado
As debêntures indexadas ao IPCA estão entre os títulos de renda fixa que mais perderam valor neste início de 2023. A mudança da leitura das aplicações para a marcação a mercado desde o dia 2 de janeiro tornou essa informação mais transparente ao investidor.
A nova regra obriga todos os bancos e corretoras a apresentarem a variação dos investimentos em títulos públicos, CRAs, CRIs e debêntures na forma de marcação a mercado ao invés da então marcação na curva.
Na prática, o investidor passa a acompanhar em tempo real o quanto as suas aplicações em renda fixa valem no mercado, caso fossem resgatadas naquele dia, antes do vencimento combinado.
Fica mais transparente ao investidor, com a marcação a mercado, que os títulos de renda fixa também oscilam de preços até o vencimento, o que pode gerar ganho ou prejuízo no meio do caminho, caso o investidor precise ou queira vender suas aplicações antecipadamente.
Debêntures indexadas ao IPCA
As debêntures permitem que o investidor empreste dinheiro diretamente para as empresas dos mais variados setores. O recebimento de juros pode ser atrelado ao CDI ou indexado ao IPCA.
Neste início de ano, o destaque negativo na renda fixa está a cargo das debêntures indexadas ao IPCA, de acordo com dados disponíveis na Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
No caso das debêntures atreladas ao IPCA (fora do setor de infraestrutura), a rentabilidade foi de menos 27% no acumulado do ano até o dia 17 de janeiro, segundo o índice IDA-IPCA (ex-infraestrutura) da Anbima.
Já o IDA – Geral (Índice de Debêntures da Anbima) caiu 1,5% no mesmo intervalo.
O desempenho negativo dos títulos de crédito privado atrelados à inflação na comparação com debêntures indexadas ao CDI, que caíram apenas 0,5% no período (IDA-DI), reflete ainda os meses de deflação no fim do ano passado.
Mas outro catalisador recente foi o principal responsável pela derrocada do valor de mercado das debêntures emitidas por empresas fora do setor de infraestrutura.
Escândalo da Americanas (AMER3) nas debêntures
O escândalo contábil da Americanas (AMER3) na ordem de R$ 20 bilhões também trouxe implicações para quem investe na renda fixa.
Assim como os sócios da empresa, que detêm ações, estão vendo suas posições derreterem, quem emprestou dinheiro para a varejista, ao possuir debêntures da Americanas, também enfrenta perdas diante do risco de calote.
O risco de contágio da Americanas no mercado de crédito privado puxou para baixo a rentabilidade das debêntures (ex-infraestrutura), que caíram 27% no acumulado do ano. Quando consideradas apenas as emissões de debêntures em infraestrutura, a remuneração no período foi de 0,8% até o dia 17 de janeiro.
Operadores e gestores afirmam que o mercado secundário de títulos já reflete condições piores da dívida da Americanas (debêntures). Segundo eles, houve um salto nas taxas cobradas, derrubando o valor de face do papel pela metade.