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Debate em São Paulo é marcado por marketing bem ensaiado e campo minado

09 ago 2022, 11:43 - atualizado em 09 ago 2022, 11:43
debate band
Primeiro debate entre candidatos para governador ocorreu no último domingo (7) (Imagem: Renato Pizzutto/Band)

A Band levou ao ar neste domingo (07) o primeiro debate entre os candidatos ao governo de diversos estados brasileiros.

Fernando Haddad (PT), Vinicius Poit (Novo), Rodrigo Garcia (PSDB), Elvis Cezar (PDT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) participaram do encontro, que foi mediado por Rodolfo Schneider – em uma decisão, no mínimo, descabida por parte da emissora devido ao seu forte sotaque carioca e praticamente nenhuma identificação com o telespectador paulista.

As estratégias de marketing dos candidatos, sobretudo entre os três primeiros colocados nas pesquisas (Haddad, Garcia e Tarcísio), ficaram bastante claras em diversos momentos.

Era nítida a influência dos marqueteiros e a existência de um campo minado que impedia que certos temas fossem tratados sob pena de que respingassem em apoiadores ou antigos aliados.

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Saudação óbvia

Logo na primeira pergunta, a respeito da Cracolândia, Rodrigo Garcia orgulhou seu time de comunicação.

Em apenas um minuto, o candidato se apresentou como ‘novo governador de São Paulo’, estratégia que usa há alguns meses e que resgata o mesmo manifesto de Márcio França em 2018, e fez menção a Mário Covas. Não é a primeira vez que Covas, falecido há mais de 20 anos, é lembrado por Garcia.

Do ponto de vista de marketing, o motivo é óbvio: sem Lula ou Bolsonaro, que concentram mais de 80% das intenções de voto, Rodrigo Garcia não tem padrinho político. Além disso, é muito mais razoável resgatar Mário Covas, por quem a população paulista tem carinho e respeito, que buscar a chancela de João Doria.

Tática do Google

O clima diplomático entre os três primeiros colocados foi encerrado ainda no primeiro bloco. Tarcísio recorreu à obviedade que vários políticos vêm apostando desde a popularização da internet no Brasil, convidando o telespectador a procurar por ‘pior prefeito de São Paulo’ no Google.

Haddad, quando teve a oportunidade, rebateu – mas não ao candidato, e sim ao seu principal fiador, o presidente Jair Bolsonaro, convidando o telespectador a fazer o mesmo, mas com a palavra ‘genocida’.

Em busca do voto da direita e da esquerda

Rodrigo Garcia, quando pode, repetiu seu manifesto de campanha, posicionando-se como um candidato ‘para frente’ e alheio às disputas entre esquerda e direita.

Tal estratégia não é inédita, usada há anos por candidatos sem padrinhos políticos que tentam furar uma polarização. José Ivo Sartori (MDB), do Rio Grande do Sul, ganhou a eleição de 2014 com o slogan “Meu partido é o Rio Grande” e um jingle que cujas estrofes diziam “acima da esquerda, acima da direita, acima de qualquer lado estará o nosso estado”.

Para o marketing do governador, o posicionamento alheio às disputas entre esquerda e direita é imprescindível. Sem a presença de um presidenciável no palanque e em meio a uma eleição nacional polarizada, cujos representantes paulistas estão claros, Garcia precisará dos votos dos eleitores de Bolsonaro e Lula para se eleger.

Ironias republicanas

Fernando Haddad recorreu a uma discreta ironia para alfinetar Tarcísio em algo que tanto seus assessores como os de Rodrigo Garcia têm como denominador comum: o fato de o ex-ministro não ter vínculos com São Paulo.

Ao reclamar de um ataque, Haddad disparou: “Você tá chegando agora em São Paulo e eu te dei as boas-vindas. Mas se adeque ao nosso padrão de civilidade, por favor”.

Doria escondido

A segunda menção feita a Mário Covas se deu ainda no primeiro bloco, quando o tema foi o Poupatempo – criado pelo falecido governador. Rodrigo Garcia enalteceu a ampliação do programa de 2019 para cá, mas agiu como se tivesse sido governador durante os últimos três anos e meio.

Entre se apoiar em um político que renunciou há pouco mais de quatro meses e que liderou boa parte da ampliação do Poupatempo e fazer um teste de DNA do pai do programa, criado há 25 anos, o tucano preferiu a segunda opção. E o mesmo foi feito alguns minutos depois ao citar a ampliação da rede pública hospitalar do estado.

Doria resgatado

Em um determinado momento do debate, Tarcísio resgatou o nome de Doria, associando-o como padrinho político de Rodrigo Garcia.

O atual governador, no entanto, rebateu usando da mesma estratégia que já vinha usando há algumas semanas. O político se diz candidato de sua própria história e enalteceu o fato de ter atravessado diversos governos.

Os 28 anos do PSDB pouco citados

Ao longo do debate, os 28 anos do PSDB à frente de São Paulo não foram tão explorados quanto teriam sido em outros debates.

A verdade é que quase todos os candidatos presentes no debate poderiam ser facilmente rebatidos caso insistissem em atacar o PSDB pelo longo tempo à frente do estado.

Tarcísio Freitas, por exemplo, pertence ao Republicanos, antigo PRB. O PRB fez parte da coligação que elegeu o PSDB em 2014 e em 2018. O vice de Tarcísio é Felix Ramuth, que está há menos de nove meses no PSD. Seu antigo partido era o PSDB, por onde esteve por 28 anos – o mesmo tempo em que o partido comanda São Paulo.

Haddad também precisaria de um grande malabarismo para atacar o partido rival. Dos 28 anos de PSDB à frente de São Paulo, praticamente 14 foram sob tutela de Geraldo Alckmin, hoje aliado. Seria impossível atacar a extensa gestão tucana e blindar Alckmin.

Tom da campanha

O debate da Band apenas ratificou qual será o tom da campanha paulista para as próximas semanas.

O eleitor pode simular uma cartela de bingo com cada uma das situações apresentadas. Termos como “novo governador”, “Mário Covas”, “nem direita, nem esquerda” provavelmente persistirão no script de Rodrigo Garcia até o fim. Haddad e Garcia continuarão juntos ao questionar a inexistência de vínculo de Tarcísio com o estado de São Paulo. Mas, ao mesmo tempo, Tarcísio e Haddad se aliarão para questionar o governo Doria.

Diferente de outros embates, a eleição deste ano exigirá mais cuidados nas trocas de farpas. O campo minado que a configuração política deste ano formou impede que determinados ataques sejam feitos sem que novos aliados sejam expostos.

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