Debate da Band: Veja a íntegra do confronto entre Lula e Bolsonaro
O debate da Bandeirantes colocou pela primeira vez, frente a frente, neste segundo turno das eleições, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Na maior parte do programa, os presidenciáveis deixaram as propostas de governo de lado, e focaram em ataques contra o adversário.
Bolsonaro tentou ressuscitar o antipetismo que o levou ao Palácio do Planalto em 2018, e insistiu em temas como o escândalo de corrupção investigado pela Operação Lava Jato na Petrobras (PETR4). Já Lula procurou colar a pecha de mentiroso no adversário, além de ressaltar o contraste entre os resultados de seu governo e o do ex-capitão do Exército.
Em diversos momentos do debate, Lula e Bolsonaro bateram boca e interromperam um ao outro. Em um dos poucos instantes produtivos, ambos comprometeram-se a respeitar a Constituição e não aumentar o número de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
Na pesquisa qualitativa da AtlasIntel com eleitores indecisos que assistiram ao debate, Lula foi apontado como o vencedor por 54% dos participantes, contra 32% que deram a vitória a Bolsonaro. Para cientistas políticos ouvidos pelo Money Times, o petista também se saiu melhor, embora o atual presidente tenha tido bons momentos.
Veja, a seguir, a transcrição da íntegra do debate promovido pela Bandeirantes, UOL e TV Cultura, e disponibilizada pelo UOL após o fim do programa.
Primeiro bloco do debate:
[Adriana Araújo]: Olá, boa noite a todos.
[Eduardo Oinegue]: Boa noite! Está no ar a partir de agora o primeiro debate entre os dois candidatos mais votados para a Presidência da República. Assim como aconteceu no primeiro turno, este encontro é promovido por um pool de empresas de comunicação. O Grupo Bandeirantes está ao lado da TV Cultura, do UOL e da Folha de São Paulo.
[Adriana Araújo]: Faltando duas semanas para o segundo turno, o eleitor terá a oportunidade de acompanhar um debate essencial de ideias e propostas entre os dois candidatos. Eu gostaria de agradecer, em nome do pool, a presença aqui no estúdio da Band do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, , do PT, e do Presidente Jair Bolsonaro, do PL.
[Eduardo Oinegue]: Para entender a dinâmica do debate, que será dividido em três blocos, vamos acompanhar agora as regras aprovadas pelas duas campanhas.
[Locutora]: Cada candidato, por ordem de sorteio, tem um minuto e meio para responder a mesma pergunta feita por um dos mediadores. Em seguida, o primeiro confronto direto com banco de tempo. Os candidatos terão 15 minutos cada um para administrar entre perguntas, respostas, réplicas e tréplicas. No segundo bloco, jornalistas de empresas do pool fazem perguntas.
Cada candidato terá um minuto e meio para responder. O terceiro bloco começa com uma pergunta feita por um jornalista do pool. Um minuto e meio de resposta para cada candidato. Na sequência, um novo confronto, seguindo as mesmas regras: cada candidato terá quinze minutos para administrar como achar melhor. Logo depois, também por ordem sorteada previamente, os candidatos terão um minuto e meio para as considerações finais.
[Adriana Araújo]: Como foi acertado previamente com as campanhas, nós não temos público aqui neste estúdio. Mas para receber convidados dos partidos e também jornalistas, a Band montou uma sala digital em parceria com o Google e o YouTube. E eu lembro que este debate é transmitido também no Band Play, no band.com.br e no canal Band Jornalismo do YouTube.
[Eduardo Oinegue]: Vamos pra primeira pergunta, que é feita para os dois candidatos. Existem dois tipos de despesa do Governo: aquelas que são feitas por ordem constitucional, sem que os senhores possam interferir de forma alguma, e aquelas sobre as quais os senhores podem decidir. Nos países avançados, nos países mais civilizados em termos orçamentários, metade do orçamento é controlado desta forma constitucional e metade comandado pelo Presidente.
Aqui, no Brasil, 96% do dinheiro vai direto ao seu destino, sem a mão do Presidente. Sobram 4% na mão do Presidente da República; e para fazer novos projetos, novas ideias, novos programas tem que tirar projeto, tem que tirar ideia, tirar programa. Eu quero saber, para cumprir os projetos e programas que senhores propõem na campanha, os senhores vão cortar de onde? Dos 4% que comandam ou vão propor mudanças constitucionais para mexer nos outros 96%?
Sobre responsabilidade fiscal e orçamento
[Adriana Araújo]: Bom, pela ordem sorteada primeiro responder a essa pergunta é Jair Bolsonaro. Boa noite, candidato. O senhor tem um minuto e meio, por favor.
[Jair Bolsonaro]: Boa noite. Por exemplo, a questão do Auxílio Brasil. A origem desse dinheiro virá de uma proposta que já passou na Câmara, visando a Reforma Tributária, e está no Senado Federal. Vamos manter essa despesa extra de forma permanente e vitalícia. Deixo claro que quando nós criamos o Auxílio Brasil, no final do ano passado, nós renegociamos o parcelamento dos precatórios e criamos o Auxílio Emergencial de R$ 400.
Nesse momento, toda a bancada do PT votou contra na Câmara dos Deputados. Porque eles não têm qualquer preocupação com os mais pobres. Voltando à questão de recursos. Não apenas isso, na Reforma Tributária, bem como o nosso Governo estuda, ao se privatizar alguma coisa, uma parte, obviamente, vai para pagar juros da dívida, e a outra parte irá para irrigar projetos outros que podem acontecer. Porque, realmente, esse restante de 4% do orçamento é muito pequeno.
Mas tudo nós fazemos como já fazemos, como fizemos no passado, dentro da responsabilidade fiscal. Tanto é que em nenhum momento houve qualquer medida no nosso Governo que viesse causar um desconforto, um descontrole junto ao mercado, bem como oscilação no dólar. Então fazemos tudo dentro da responsabilidade.
[Eduardo Oinegue]: Sua vez candidato Lula, por favor, um minuto e meio.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Olha, vou até me aproximar da câmera para dizer que o Partido dos Trabalhadores tinha proposto, antes de votar nos 600 mil reais de Auxílio Emergencial, quando o Presidente propunha 200. A Câmara votou 500, e ele propôs 600. Depois ele reduziu para 400, e agora mandou os 600 só até 31 de dezembro porque não está na LDO.
Na verdade, o que nós fizemos? Nós provamos à sociedade brasileira de que é possível a gente ter capacidade de investimento quando a gente planeja e quando a gente coloca o dinheiro no lugar certo. Quando nós fizemos o PAC, em fevereiro de 2007, nós investimos praticamente um trilhão e quatro bilhões de reais durante todo processo do PAC para construir treze mil obras que foram entregues e mais treze mil que ficaram para terminar, que algumas estão terminando agora.
Um dado importante é que, se você souber trabalhar, planejar, você vai ter o dinheiro para fazer as coisas, e, ao mesmo tempo, nós temos certeza de que o Congresso vai aprovar uma Reforma Tributária para que a gente possa, com a Reforma Tributária, taxar menos os mais pobres, os trabalhadores. Por isso que nós propomos uma isenção de até cinco mil reais de não pagamento de Imposto de Renda, e cobrar dos mais ricos que muitas vezes não pagam sobre o lucro e sobre o dividendo. Aí nós vamos ter dinheiro para fazer as políticas que nós fizemos.
[Adriana Araújo]: Nós vamos começar agora a primeira rodada direta entre os candidatos. Cada um terá 15 minutos para usar da forma que achar melhor. Para não prejudicar a compreensão de quem está assistindo a este debate, o ideal é que um sempre aguarde o outro terminar.
[Eduardo Oinegue]: Se um candidato ainda estiver concluindo o raciocínio, a sua fala não pode ser interrompida pelo adversário. Se acontecer isso, o microfone vai ser desligado.
[Adriana Araújo]: E pela ordem sorteada, quem começa é o candidato Lula. Bom debate aos dois. Por favor.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu até queria começar pedindo desculpa ao telespectador porque eu não o cumprimentei quando comecei falar. Eu quero cumprimentar a direção da Band, a direção da Folha, a direção da TV Cultura e a direção do UOL por fazer esse pool e permitir que a gente pudesse fazer um debate franco e aberto.
Vocês sabem que eu estou candidato na perspectiva de reconstruir esse país, fazer com que esse país volte à normalidade, que as instituições funcionem corretamente, que o Congresso legisle, e não trate do orçamento; que o Governo governe; e que o Poder Judiciário cumpra com seu papel. Mas, sobretudo, é preciso trazer o povo mais pobre à cidadania outra vez.
Quando eu governei, de 2003 a 2010, nós fizemos a maior política de inclusão social que a história desse país conheceu: nós geramos 22 milhões de empregos, nós aumentamos o salário mínimo, nós fomos o governo que mais fez universidade e escola técnica nesse país. E por isso eu até gostaria de fazer uma pergunta para o candidato meu adversário: quantas universidades e quantas escolas técnicas o senhor fez como Presidente da República?
[Jair Bolsonaro]: Primeiramente, o senhor Lula confunde auxílio emergencial com Auxílio Brasil, o auxílio emergencial de 600 reais. E o senhor, que fala tanto de pobre, deixar bem claro: durante o ano de 2020, quando o povo foi obrigado a ficar em casa não por decisão desse presidente, mas por decisão de muitos governadores do seu partido, eles iam morrer de fome. E só de auxílio emergencial em 2020 nós gastamos o equivalente a 15 anos de Bolsa Família. E o Bolsa Família pagava muito pouco.
Eu tinha vergonha de ver as pessoas mais humildes, em especial no Nordeste, do interior do Nordeste, recebendo… algumas famílias começando a receber 42 reais por mês. Se o senhor podia dar algo melhor, como está dizendo agora, por que é que não deu lá atrás? Por que agora, quando chega e passa para 400, contra a sua bancada do PT, e depois passa para 600, o senhor quer se arvorar de grande benfeitor, que vai prometer? O senhor promete o tempo todo. O senhor prometeu levar água para o Nordeste, e agora o senhor está prometendo picanha e cerveja. O senhor não fica vermelho com essas propostas mirabolantes e mentirosas? Creio que, para governar o Brasil? tá?
Nós temos passado. Nós não somos candidatos aqui de primeira viagem. Então o senhor tem seu passado, que é lamentável, é triste, em especial entre os mais humildes, os mais pobres do Brasil. Eu quero falar agora com o pessoal do Nordeste: quanto era o Bolsa Família? Começava com 40 reais. Nós triplicamos, com o Auxílio Brasil, a média do Bolsa Família. Hoje a dona de casa vai ao supermercado e compra realmente algo para levar para casa. No passado, ia com o carrinho vazio. Então promessas estamos cheios, e a grande prova de promessas vazias é esta que o senhor aqui e o seu partido foi contra a criação do Auxílio Brasil.
Bolsa Família, pandemia e Auxílio Brasil
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu perguntei quantas universidades você fez. Perguntei quantas escolas técnicas você fez. E você vem falar do Bolsa Família? O nosso programa de inclusão social não era só o Bolsa Família. O nosso programa de inclusão social foi a maior política de distribuição de renda que esse país já conheceu para o pobre, porque ajuda ao pequeno produtor rural, era um milhão e quatrocentos mil cisternas que nós fizemos para o Nordeste, era o PNAE para levar comida para as crianças mais pobres, e a gente comprava do pequeno produtor. Além do aumento do salário mínimo de 74%. Mas eu queria voltar à pergunta inicial: Quantas universidades e escolas técnicas o seu governo fez?
[Jair Bolsonaro]: Seu Lula, durante a pandemia, dois anos as universidades ficaram fechadas. Não tinha cabimento você abrir universidade para ficar fechada. Agora, o senhor junto ao Fies, o senhor ofereceu crédito a milhões de jovens, milhões de jovens. E mais de um milhão estava endividados sem condição de pagar esse crédito, o Fies. O que meu governo fez? Mandou a proposta para o Parlamento, e nós juntos permitimos a anistia de até 99% da dívida dessa garotada. Nós tiramos essa garotada da inadimplência. Do SPC. Do Serasa. O senhor mais endividou a garotada do que deu ensino de qualidade.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu já percebi que ele não quer dizer que vergonhosamente ele fez uma universidade em Tocantins, que a presidenta Dilma é que tinha aprovado. Porque nós fizemos 18 universidades novas, 178 campus, além do Prouni e do Fies. O Fies a pessoa não tinha que pagar enquanto estava estudando. Eu não vou perguntar de universidade, porque parece que o senhor não sabe.
Parece que não sabe que não fez nenhuma. Mas vou perguntar de pandemia. O Brasil tem 3% da população mundial. E o Brasil teve 11% das mortes da pandemia no mundo. Por que que houve tanta demora para se comprar vacina? O senhor não se sente responsável? O senhor não carrega nas costas um pouco do sofrimento dos brasileiros de ser responsável pelo menos por 400 mil mortes nesse país?
[Jair Bolsonaro]: Primeiramente, sr. Lula, falam que atrasei a vacina em 2020. Não existia vacina à venda em 2020. A primeira vacina no mundo foi aplicada em dezembro de 2020. Em janeiro do ano seguinte, um mês depois, o Brasil começou a vacinar. Nós compramos mais de 500 milhões de doses de vacina. E todos aqueles que quiseram tomar vacina, tomaram. E o Brasil foi um dos países que mais vacinou no mundo e em tempo mais rápido. Então o senhor se informe antes de fazer acusações levianas e mentirosas. Porque, afinal de contas, se o senhor não mentir o senhor deixa de…
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu não faço acusações mentirosas. São dados científicos. O senhor atrasou a vacina, depois tendo um processo inclusive de corrupção definido e denunciado pela CPI. E o fato concreto é que a sua negligência fez com que 680 mil pessoas morressem quando mais da metade poderia ter sido salva.
A verdade é que o senhor não cuidou, debochou, riu, dizia que quem tomava vacina virava jacaré, virava homossexual, que não podia tomar vacina. O senhor gozou das pessoas, imitou as pessoas morrendo afogada por falta de oxigênio em Manaus. Ou seja, não tem na história de nenhum governo do mundo alguém que brincou com a pandemia e com a morte como você brincou. Brincou.
É só mostrar na televisão. Não vai dizer que é fake news, não. Porque você aparece na televisão rindo, imitando pessoas sem ar. Você aparece dizendo que quem tomar vacina vai pegar… virou remédio, você virou vendedor de um remédio que não servia para nada. Você divulgou um remédio que a ciência negou o tempo inteiro. Você não respeitou o Butantan, você não respeitou a Fiocruz que são laboratórios de excelência nesse país que poderia ter lhe ajudado. Se tivesse humildade, você poderia ter resolvido parte do problema. Mas certamente você não quis resolver porque você não quis entender o sofrimento do povo.
[Jair Bolsonaro]: Seu Lula, tem um vídeo do senhor, o senhor dando graças a Deus que a natureza criou o covid. Seu Lula, o que eu fui contra foi o protocolo do seu Mandetta que mandava a pessoa infectada ir para casa até sentir falta de ar. E eu fiquei indignado com isso. A vacina, seu Lula, não é para quem está contaminado, a vacina é para quem ainda não foi contaminado.
A questão do tratamento precoce, tendo ou não comprovação científica, que era algo inédito no mundo todo, tirou-se a autonomia do médico. A tal da receita off label. Isso que foi castrado no Brasil. A história mostrará quem está com razão. Isso que o senhor fala, de vídeo no YouTube, eu zombando, é só ver as imagens, é exatamente ao contrário. Eu falo como uma pessoa insiste em casa, e depois, daquela maneira, ir para o hospital. Agora, deixar bem claro, quando se fala em corrupção, corrupção fez o seu partido na covid.
Quando chegou na CPI a notícia de 50 milhões de reais desviados do Sr. Carlos Gabas, ex-Ministro de Dilma Rousseff, que passeava de bicicleta com ela, a CPI, dos seus amigos Renan Calheiros e Omar Aziz, não quis investigar; 50 milhões torrados em uma casa de maconha, não chegou nenhum respirador, e daí sim irmãos nordestinos morreram por falta de ar, por por corrupção do Sr. Carlos Gabas, deixar bem claro, e, em especial, o seu Governador da Bahia, Rui Costa. Então, o consórcio do Nordeste, ao qual o senhor tinha amplo conhecimento e domínio, praticou corrupção e matou, sim, irmãos nordestinos sufocados em hospitais.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Se você tivesse o mínimo de responsabilidade para cuidar da CPI, você teria primeiro ouvido os governadores dos estados. Eles criaram um consórcio, eles tentaram comprar vacinas. O Ministério da Saúde não permitiu. E quando o Brasil começou a dar vacina, em janeiro de 2007, São Paulo começou a dar vacina, 57 países já tinham dado a vacina.
A verdade, Bolsonaro, é que você colocou um Ministro da Saúde que não entendia. O único que parece que entendia um pouco era o Mandetta, que o senhor tirou logo. Depois colocou outro que não entendia, até chegar no Pazuello. O Pazuello era visível que não entendia nada de Saúde. Era visível que tinha sido montada uma turma lá para comprar vacina. Ou seja, tinha denúncia de que a CPI provou e está no processo, eu espero que o Procurador vá investigar, de que tinha gente reivindicando um dólar por cada dose de vacina vendida. Isso está no relatório da CPI. O Brasil inteiro viu, e obviamente que o povo espera que um dia a Procuradoria-Geral da República investigue para saber o fundo de verdade ou não.
[Jair Bolsonaro]: Segundo a CPI, a Covaxin não vendeu nenhuma vacina no Brasil. Então para de mentir. Não teve corrupção porque não teve vacina no Brasil. Agora, o senhor falou uma coisa importante, eu poderia ter conversado com governadores do consórcio do nordeste.
Então, digo uma coisa, Sr. Lula, eu poderia ter acabado com a CPI da covid rapidamente. Sabe como? Se eu acolhesse uma emenda do Sr. Omar Aziz, teu amigo, Senador lá do Amazonas, e do irmão do Senador Renan Calheiros, Renildo Calheiros. Porque queriam, nessa emenda, a uma Medida Provisória nossa, que qualquer Governador e Prefeito que pese grande maioria serem honestos, pudessem comprar vacina em qualquer lugar sem a certificação da Anvisa e sem a licitação.
Seria a festa, a roubalheira maior. E quem pagaria a conta? O Governo Federal. Então, não aceitamos a continuidade da roubalheira do consórcio do nordeste, depois de 50 milhões, queria continuar comprando vacina em qualquer lugar do mundo sem certificação e sem licitação. Uma vergonha se tivesse sido aprovado. Não aceitei isso ser aprovado, e a CPI foi embora e não achou nada sobre mim ou sobre o senhor Pazuello porque nada nós devemos.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: É uma vergonha, na verdade, você carregar nas costas a morte de 400 pessoas, que poderia ter sido evitada, se tivesse comprado a vacina no tempo certo, no tempo correto. A ciência fala isso todo dia. O senhor recebeu propostas de vacina muito cedo e não quis comprar porque não acreditava. É visível. O povo brasileiro sabe que você começou não acreditando na pandemia.
Era uma gripezinha. Era uma coisa que ia matar um ou outro velhinho. Era assim que você tratava a questão da pandemia. O Mandetta foi mandado embora porque o Mandetta dizia que a pandemia era grave, que era preciso cuidar. Mas você não, você resolveu dizer que era uma gripezinha, brincava de não tomar vacina, colocou em sigilo o seu cartão de vacina para ninguém saber que você tomou ou não tomou.
Ou seja, numa atitude que afrontava a fé do povo brasileiro, que queria um Presidente que cuidasse com carinho, que evitasse a quantidade de mortes que houve. Isso não foi feito pelo Presidente Bolsonaro.
[Jair Bolsonaro]: Em fevereiro de 2020, nós decretamos estado de emergência no Brasil. A TV Globo, com todo o seu conglomerado, o Sr. Drauzio Varella, começaram a falar exatamente o contrário. “O Brasil é um clima quente, não tenham medo da covid”. E quem falou em gripezinha foi lá.
Porque eu sempre disse que as pessoas saudáveis não tinham o que temer ao tocante à covid. Não poderiam abusar, obviamente. E nós recomendamos aos mais idosos e aos com comorbidade que realmente tomassem cuidado. Foi o papel do Governo, que em primeiro lugar talvez no mundo decretou estado de emergência, que foi ignorado por aqueles que queriam o carnaval a qualquer preço.
Então, Sr. Lula, não continue mentindo, pega mal até para a sua idade; pelo seu passado não vou dizer, porque seu passado é lamentável.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Ah, mentindo é você! Mentindo é você, porque os números estão ali na imprensa todo dia. Os números… e você é o rei das fake news, é o rei da estupidez de mentir para a sociedade brasileira, que você mentiu sobre a vacina o tempo inteiro, negligenciou a vacina, e o Brasil hoje carrega a pecha de ser o país, sabe, que tem mais morte pelo covid. É lamentável.
E mais ainda … mais ainda… o senhor não se dignou a visitar uma família que teve alguém que morreu de covid, e depois, para mostrar que é bonzinho, tentou ir no enterro da Rainha da Inglaterra, quando poderia ter visitado centenas de pessoas que morreram do covid aqui… diz que não morreu nenhuma criança; morreu duas mil crianças de covid. Mas diz que não morreu, porque o senhor não queria acreditar na covid.
Era preciso continuar mentindo sobre a covid, era preciso continuar desacreditando, e eu sei o que é que pensa o povo que perdeu algum ente querido. Eu mesmo perdi uma sogra, sabe, por causa do covid.
[Jair Bolsonaro]: Fez discurso em cima do caixão da esposa e está se comovendo pela sogra. Sr. Lula, entenda uma coisa, Sr. Lula? entenda uma coisa, por favor: os enterros eram com caixão lacrado; ninguém podia ir ao enterro, nem familiares. E eu visitei hospitais, sim, e o senhor não tem conhecimento. Só que eu não preciso fazer propaganda do que faço. Me comovi. Me preocupei com cada morte no Brasil. Repito, o Brasil é o país…
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Você se preocupou como?
[Jair Bolsonaro]: Me interrompendo…
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Você ria o tempo inteiro! Agora que você está candidato, você está mostrando uma seriedade que deveria ter mostrado lá. É isso.
[Jair Bolsonaro]: O rio…
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Simples assim. Você não foi num hospital, não foi visitar uma pessoa, não foi visitar um parente.
[Jair Bolsonaro]: O rio é mais uma mentira tua, basta ver o vídeo quando aconteceu a questão da falta de ar. Vocês são especialistas em pegar vídeos, filmes, e cortar o pedaço que interessa para vocês.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Você sabe quem é especialista nisso?
[Eduardo Oinegue]: Candidato Lula?
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Você sabe quem é o rei das fake news.
[Jair Bolsonaro]: Então é o seguinte: se o Haddad…
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Você sabe…
[Eduardo Oinegue]: Candidato Lula, deixa o presidente… candidato Bolsonaro terminar o raciocínio.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Ah, tá bom…
[Jair Bolsonaro]: Repito: nós compramos 500 milhões de doses de vacina, entregamos, com a logística nossa, para Estados e municípios. O Brasil foi um exemplo para o mundo no tocante à vacinação. Menos de um mês depois da primeira dose aplicada no mundo, o Brasil começou a aplicar, e todas vacinas foram compradas pelo Governo Federal. Nos orgulhamos desse trabalho.
Salvamos milhões de vidas. Se fosse com alguém do teu Governo, alguém do Consórcio Nordeste, vocês tinham roubado tudo e teria morrido muita gente cujas mortes poderiam ter sido…
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu vou lhe contar como é que se vacina. Em 2010, teve a gripe H1N1. Em três meses, nós vacinamos 80 milhões de pessoas. Em três meses. Porque o Brasil é um país que tem expertise em vacinação. Aliás, o Brasil é exemplo para o mundo em vacinação.
O Brasil vacilou quando teve um presidente que não cuidou e que não foi responsável, que brincava e que não acreditava na vacina. E a verdade é essa. A verdade é essa, sabe? O senhor carrega nas costas um peso de pelo menos 400 mil pessoas que morreu por conta do negligenciamento e o negacionismo da vacina.
[Jair Bolsonaro]: Chega de mentira, vamos passar para outro assunto aqui. Em 2006, 59 policiais foram executados aqui no Estado de São Paulo. E por que isso? Porque teriam que transferir o Marcola para um presídio de segurança máxima. Ele não podia mais ficar aqui comandando o crime. O seu governo não transferiu o Marcola. Pelo que tudo indica, fez um acordo com o Marcola e com seu Alckmin, que era Governador de São Paulo naquele tempo. Repito: 2006, 59 policiais assassinados em São Paulo.
Teve que eu chegar, em 2009… em 2019, juntamente com o Ministro Sergio Moro, para que nós então tirássemos o Marcola de presídio estadual aqui em São Paulo e mandasse para um presídio federal, em um regime todo especial, sem qualquer comunicação com o mundo exterior. Isso rapidamente começou a cair o número de mortes violentas em nosso país. Por que você não transferiu o Marcola em 2006, já que tinha um pedido do MP estadual para fazer isso? Era simpatia, amizade ou um grande acordo, naquele momento, juntamente com o seu vice, atualmente, Geraldo Alckmin?
[Luiz Inácio Lula da Silva]: O candidato sabe que quem cuida de crime organizado não sou eu. Quem tem relação com miliciano e crime organizado, ele sabe que não sou eu, e sabe quem tem. Sabe inclusive da culpabilidade que foi o crime organizado que matou a Marielle no Rio de Janeiro. Eu se tivesse pedido pra transferir, a gente transferia porque fui eu que fiz prisão de segurança máxima.
Cinco prisões. Cinco. Cinco prisões de segurança máxima feito no meu governo. Se o Alckmin governador não quis transferir, é porque ele tinha razão para não transferir. Quem sabe a segurança dele tinha razão para transferir. Mas o dado concreto é o seguinte: você está falando com o cara que fez cinco presídios de segurança máxima nesse país. Quantos você fez? Nenhum. Nenhum. Então, eu acho que a mentira aqui não é minha. A mentira aqui é de um presidente que não pode mentir, porque o presidente tem que respeitar o cargo, não é possível.
[Jair Bolsonaro]: Seu Lula, amizade com bandido. Eu conheço o Rio de Janeiro, o senhor esteve atualmente no Complexo do Salgueiro. Não tinha nenhum policial ao seu lado. Só traficante. Tanto é verdade, a sua afinidade com traficantes, com bandidos, que nos presídios do Brasil, cada cinco votos, o senhor teve quatro votos.
E quando a gente volta para o Marcola, o Marcola foi flagrado. Teve ligação telefônica grampeado. E ele diz ali, chama o senhor de um palavrão, que eu não vou falar aqui, e diz que prefere o senhor do que a mim. Essa é a verdade. Fazer presídio e deixar os amigos soltos em outro presídio comandando o crime isso é um crime, seu Lula.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Sabe o que eu tenho orgulho? É que eu sou o único candidato à Presidente da República que tenho coragem de entrar numa favela. Sem colete de segurança. E já não é agora, quando eu era Presidente, eu entrava no Rio de Janeiro, as pessoas falavam “vai com cuidado porque o Bolsonaro é amigo dos milicianos. Você vai com cuidado”. Eu ia. Eu ia sabe por quê?
Eu acredito no povo. E eu fui numa comunidade no Complexo do Alemão, povo extraordinário, trabalhador, fizemos uma passeata extraordinária e exuberante, e ali não tinha bandido na passeata. Ali tinha mulheres e homens que trabalham, que levantam cinco horas da manhã para trabalhar. Os bandidos o senhor sabe onde estão. Os bandidos… tinha um vizinho seu que tinha cem armas dentro de casa. O senhor sabe. Esse não era da favela do Complexo do Alemão. Esse morava no apartamento na Avenida Copacabana.
É achar que bandido tá só no lugar dos pobres? Os grandes bandidos estão no lugar dos ricos. Os pobres são trabalhadores, e eu vou voltar no Complexo do Alemão, porque não foram os presos que votaram em mim. Foi o povo brasileiro. Tive seis milhões de votos a mais do que você, com toda essa gastança que você fez. Se pegar todos os presidentes, desde Marechal Deodoro até agora, ninguém colocou 10% do dinheiro que o senhor colocou nessa coisa. Só eu falar uma coisa, o senhor vai lá e faz. Falei do preço da gasolina, vai lá e reduz o preço da gasolina. Ele reduziu, mas vai aumentar outra vez.
Diz que não manda na Petrobras, que é o presidente que aumenta. Então, Bolsonaro, se tem um mentiroso aqui, esse mentiroso chama-se Jair Messias Bolsonaro, que tem mentido diariamente ao povo brasileiro. Inclusive levar água para o Nordeste. Todo mundo sabe que quem fez a transposição do São Francisco foi esse que vos fala, porque sou nordestino, já tive experiência de carregar pau d’água e lata d’água na cabeça. Portanto, não minta.
[Jair Bolsonaro]: Transposição do São Francisco. Era pra ter acabado em 2010, no seu governo. Passou para 2012, Governo Dilma. Só que o Brasil vivia uma explosão de corrupção. O senhor negou água para seus irmãos nordestinos. Eu fui lá, com o Rogério Marinho, que agora se elegeu senador pelo Rio Grande do Norte. O povo reconheceu o trabalho dele.
O senhor fez, na verdade, uma obra que não chegava a lugar nenhum. Pegamos uma obra parada há quase dez anos. É pior do que começar uma obra. O senhor desviou sim foi muito dinheiro para corrupção. Tudo tinha corrupção no seu governo. Tudo. O senhor negou água para nordestino. Eu levei água com a transposição e com Rogério Marinho. E mais ainda, o Exército tem trabalhado muito no Nordeste para cavar poços para essas pessoas que eram longe desses córregos enormes que a água do São Francisco.
Então, o senhor realmente maltratou. Tinha que ser prioridade total sua. Prioridade número um e não zero. E não fez isso. Negou água para o povo nordestino. O senhor realmente é uma pessoa fantástica em falar em vergonha nacional.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Olha, eu vou contar uma coisa para você: se tem uma coisa que é cara de pau é o cara de pau desse cara. Porque eu fiz 88% das obras do São Francisco. Ele fez 3,5%. 3,5%. Da mesma forma que ele fala que fez ferrovia. Da mesma forma que fala que fez a 163.
Tudo feito pelo Governo do PT. Mais de 80% das obras feitas. E ele vai lá, termina. Quando tomei posse em 2003, o Fernando Henrique Cardoso estava fazendo uma ponte lá na divisa Minas com Mato Grosso, eu fui lá inaugurar e fiz justiça ao Fernando Henrique Cardoso, disse que era dele. Você poderia pelo menos ter sensatez de quando inaugurar, falar: gente, quero dizer que essa obra aqui é do Presidente Lula. Ele foi mais competente que eu. Ele fez a obra. Sabe?
Eu só vou aqui dar um empurrãozinho para acabar esse pedacinho que tá faltando. Mas dizer que foi sua? Você acha que alguém acredita? Acha que o nordestino que está vendo a gente na televisão acredita que foi você que levou água? Que você fez ferrovia? Cadê um projeto seu?
[Jair Bolsonaro]: E o senhor fez 86% das obras no seu Governo?
[Luiz Inácio Lula da Silva]: 88.
[Jair Bolsonaro]: Parabéns, 88. Dilma ficou mais meia dúzia/anos. Não terminou os doze que faltavam. Se o senhor mandava no Governo Dilma, quem está mentindo? Por que em seis anos não concluiu já que faltavam apenas 12%? Quando fala em BR-163, não inventa. Faltavam 50 quilômetros, essa BR que passa pelo Pará.
Quando assumimos, o Tarcísio em seis meses, com Exército Brasileiro, fez essa obra, que passou pelo seu Governo, por Dilma, 14 anos, e esses 50 quilômetros foram esquecidos. Ou seja, não fale em infraestrutura e não fale água para o Nordeste sem ter o mínimo de conhecimento. O senhor deve se lembrar muito bem é dos desviados, em dinheiro, e não em água para o Nordeste.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: O Tarcísio aprendeu trabalhando com a Dilma, porque o Tarcísio foi do PAC, com a Dilma, com quem aprendeu a fazer essas obras. Ele trabalhou com a Dilma. Não sei se você sabe. Ele foi do PAC quando Dilma era Presidente da República. O dado concreto, Bolsonaro, é o seguinte: o dado concreto é que, no nosso Governo, nós fizemos a maior política de infraestrutura que esse país já conheceu. Maior. Maior.
Talvez eu tenha perdido do Geisel, quando ele fez o Proálcool, nos anos 75. Porque nós fizemos a maior quantidade de obras de infraestrutura que esse país já conheceu. Geramos muito emprego, muito, mas muito emprego de carteira profissional assinada, coisa que vossa excelência não faz.
[Jair Bolsonaro]: O senhor fala muito. Na verdade, nada fez. O Tarcísio, sim, trabalhou, mas ele não era dono da caneta, não era dono do recurso. Fez o possível. E quando foi trabalhar comigo, ele sentiu-se como a pessoa mais útil do mundo, o que foi verdade. Concluiu obras por todo o Brasil.
Se invés de ter ministros, como o senhor teve no passado, quase todos presos, tivesse pessoas da linha do Tarcísio na frente, muitas obras seriam feitas, sim. Então, a grande verdade, o senhor não fez nada pelo Brasil, a não ser transpor dinheiro público para o seu bolso e dos seus amigos.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Olhe, ainda bem que você está assistindo, e eu quero até parabenizar a Bandeirantes porque o horário do debate é nobre: oito horas. Porque um cidadão ter a cara de pau e desfaçatez que tem, o Presidente, de dizer que nós não fizemos nada para o país? Ele era deputado, ele nunca fez um discurso contra o Governo Lula. Nunca fez um discurso.
Procurei nos anais do Congresso Nacional, esse cara tem raiva do Lula, ele tem feito discurso contra o Lula. Não! Não, ele não fez. Sabe por quê? Porque no fundo, no fundo, ele sabe que eu fui o Presidente que mais investi nesse país, e mais ainda, foi o que mais cuidei das Forças Armadas. A Aeronáutica não tinha avião, não tinha navio, o Exército não tinha nem coturno, e eu dei.
[Jair Bolsonaro]: Na verdade, nas Forças Armadas não tinha ministro. Você botou gente incompetente na frente do Ministério da Defesa. Gente que não tinha conhecimento de nada.
Uma vergonha na frente! Agora falar que não fiz nenhum discurso contra você, Lula, oito anos de Governo? Eu não vou nem rebater isso aí. Pelo menos, dois por semana eu fazia, mostrando as mentiras e inverdades e corrupção do seu Governo.
[Eduardo Oinegue]: Obrigado, candidatos. Você está acompanhando o primeiro debate entre candidatos à Presidência da República, no segundo turno, realizado por um pool que reúne o Grupo Bandeirantes, o jornal Folha de São Paulo, a TV Cultura e o UOL.
[Adriana Araújo]: Logo após o intervalo é a vez dos jornalistas fazerem as perguntas aos candidatos.
[Eduardo Oinegue]: Olho no voto. Eleições 2022.
Segundo bloco do debate:
[Adriana Araújo]: Estamos de volta ao vivo com o primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República neste segundo turno, um encontro realizado por um pool que reúne o Grupo Bandeirantes, a TV Cultura, Folha de S.Paulo e o Portal UOL.
[Eduardo Oinegue]: O programa é exibido também no Bandnews TV e nas rádios Bandeirantes e Bandnews FM. Neste bloco, jornalistas das empresas que integram o pool fazem as perguntas para os candidatos.
[Adriana Araújo]: Cada jornalista faz uma pergunta, que será respondida pelos dois candidatos, e o tempo para resposta é de um minuto e meio.
[Eduardo Oinegue]: Lembro que a ordem de resposta foi definida em sorteio prévio e será intercalada a cada nova pergunta. O primeiro a responder será o candidato Lula, e quem faz a pergunta é a jornalista da TV Cultura Vera Magalhães.
[Vera Magalhães]: Boa noite, candidatos, boa noite a todos. A minha pergunta é sobre a relação entre os poderes. A separação e a independência entre os poderes da República é uma das cláusulas pétreas da Constituição. Ainda assim, tramitam no Congresso uma série de propostas que visam alterar a composição do Supremo Tribunal Federal, aumentando o número de ministros ou estabelecendo mandatos que acabariam com a vitaliciedade desses integrantes do Supremo.
Essas medidas têm sido defendidas por alguns como uma forma de conter supostos abusos do Judiciário, mas são vistas também como ameaças à democracia por juristas e observadores de como essas práticas ocorreram em países como Venezuela ou Hungria. Eu queria saber se os senhores se comprometem, caso eleitos, a respeitar a separação dos poderes e a sua independência e descartar esse tipo de medida.
[Eduardo Oinegue]: Candidato Lula, um minuto e meio.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Ô Vera, você vai ver que eu vou chegar perto da câmera que você falou, não vai ter nenhuma agressão minha a você. Primeiro porque nós já tivemos uma experiência no tempo da ditadura militar de mudar a composição da Suprema Corte. O Castelo Branco mudou. Mudou de 11 para 17, depois ele tirou cinco que ele não gostava e ficou só os que ele queria. Não é prudente, não é democrático um Presidente da República querer ter os ministros da Suprema Corte como amigos.
Você não indica um ministro da Suprema Corte para ele votar favorável a você ou te beneficiar. Os ministros da Suprema Corte têm que ter currículo. As pessoas têm que ter história, têm que ter biografia, e essa gente tem que fazer o que precisa ser feito. E eu tenho orgulho, porque foi os ministros que eu indiquei que votaram célula tronco, votaram Raposa Serra do Sol, votaram a união civil, ou seja, foram pessoas que tiveram uma postura de dignidade.
Eu, sinceramente, eu estou convencido que tentar mexer na Suprema Corte para colocar amigo, para colocar companheiro, para colocar partidário é um atraso, é um retrocesso que a República brasileira já conhece, já conhece muito bem, e eu sou contra. Eu acho que a gente pode discutir no futuro, se tiver uma nova constituinte, sabe, quem sabe ter mandato ou não, quem sabe as pessoas terem uma limitação maior. Mas eu acho que a Suprema Corte tem que ser escolhida por competência, por currículo, e não por amizade.
[Eduardo Oinegue]: Candidato Jair Bolsonaro, por favor, um minuto e meio.
[Jair Bolsonaro]: Prezada jornalista Vera, satisfação revê-la. Só que, para deixar bem claro, a proposta de emenda à Constituição ora em tramitação na Câmara é da Sra. Luiza Erundina. E tem 40 deputados do PT que deram o devido apoiamento. Ou seja, em 2013, a Sra. Dilma Rousseff, que exercia forte influência do Sr. Lula, tentou criar mais quatro vagas para o Supremo Tribunal Federal. Da minha parte, tá feito o compromisso: não terá nenhuma proposta, como nunca estudei isso com profundidade. Mas deixo claro: no momento, o PT tem sete ministros indicados pelo Supremo Tribunal Federal; eu tenho dois.
Caso eu venha a ser reeleito, eu tenho mais dois: eu ficaria com quatro e o PT,com cinco. Está feito o equilíbrio. Agora, quanto a currículo, obviamente isso passa por cada presidente, que é uma indicação do mesmo e passa por uma sabatina no Senado Federal. Faltou só, Sr. Lula, o senhor dizer que o senhor só é candidato a presidente da República por causa de um ministro que foi cabo eleitoral de Dilma Rousseff e depois por ela foi indicado para o Supremo Tribunal Federal, o sr. Fachin. Então, o senhor só está disputando eleição aqui por obra e graça de um amigo indicado pelo PT.
[Adriana Araújo]: Bom, enquanto o candidato Jair Bolsonaro respondia, o Presidente Lula levantou a mão solicitando direito de resposta. Só um minutinho, por favor, candidato. Está sendo encaminhado à comissão, daqui a pouquinho a gente traz essa resposta se será concedido ou não.
Bom, acabo de receber a resposta já, o pedido de direito de resposta não foi concedido. Vamos seguir então com o debate. A próxima pergunta a ser respondida, primeiro pelo candidato Jair Bolsonaro, quem faz é o jornalista do Grupo Bandeirantes, Rodolfo Schneider. Boa noite, Rodolfo.
[Rodolfo Schneider]: Boa noite. Boa noite, candidatos. Os senhores têm sido muito cobrados e até criticados por não entrarem, aprofundarem tanto em alguns setores, colocando mais propostas e ideias. Então, eu queria falar um pouco sobre economia. No primeiro turno, aqui nesse debate, perguntei aos dois sobre os 600 reais. De onde virão 600 reais para o auxílio tão fundamental para milhões e milhões de brasileiros?
De onde viria, já que não está na previsão? Estouraria o teto? Tiraria de outros orçamentos? Isso não foi respondido pelos dois, é uma boa oportunidade. Mas queria pegar outro ponto na questão da economia. Privatização. O presidente Jair Bolsonaro recentemente defendeu, , na questão de preço, a privatização da Petrobras. Queria saber se continua defendendo, qual seria a política de preços. E no caso também do Presidente Lula, o que seria a sua política com a Petrobras e também política de preços com relação aos combustíveis. Boa noite.
[Adriana Araújo]: Obrigada. Candidato Bolsonaro, um minuto e meio.
[Jair Bolsonaro]: Política de preços. A covid, a pandemia, o fica em casa, uma guerra lá fora, explodiu o preço dos combustíveis no mundo todo. No Brasil não foi diferente. Agora nós tínhamos obrigação de buscar uma alternativa. Fomos ao Parlamento, à Câmara e ao Senado. Foi apresentada uma proposta, um projeto muito debatido. No final, o Congresso votou e eu sancionei — A redução do teto do ICMS para 17%, no máximo.
E eu como presidente da República abri mão de todos os impostos federais dos combustíveis. Deixo claro que essa proposta, todos senadores do PT votaram contra. Obviamente, no Senado Federal. Isso puxou o preço das coisas lá para baixo. Estamos no terceiro mês com deflação. Segundo a ABRAS, do mês passado para agora, os produtos da cesta básica no supermercado caíram em média 20%.
Temos hoje uma das gasolinas mais baratas do mundo. Trabalho de quem? Jair Bolsonaro e Congresso Nacional. O mundo todo com alta nos combustíveis, alta de inflação, e o Brasil no caminho certo com Paulo Guedes, orgulho do nosso governo. A economia e o povo em primeiro lugar.
[Adriana Araújo]: Candidato Lula, um minuto e meio.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Quando eu ouço o meu adversário falar, eu fico imaginando que mundo ele está. Primeiro porque esse país hoje só refina 80% da gasolina que usa. A gente refinava 100%. Refinada tudo que a gente consumia. Esse país parou de refinar, portanto, a gente tem hoje, com a privatização da BR, dizendo que a BR tinha monopólio, era preciso ter mais empresa concorrendo que iria baixar o preço.
Vendeu-se a BR, ou seja, vendeu-se a BR e hoje nós temos 392 empresas importando gasolina do Estados Unidos sem pagar imposto e com preço dolarizado. Olha, na verdade, o preço não tem que ser dolarizado porque a gente faz a exploração em real, a gente paga o salário do pessoal em real, e a gente fazia as próprias plataformas e a sonda aqui, coisa que não faz mais. Eu acredito piamente que eu sou contra a privatização.
Acho que privatizar a Petrobras é uma loucura, o governo dele acabou de privatizar os gasodutos e hoje a gente paga três bilhões de reais por ano de aluguel do gasoduto. Ou seja, em dez anos já se consumiu o dinheiro que pegou e mesmo assim a gente vai continuar pagando três milhão. Eu, sinceramente, acho que privatizar não é solução para nada.
[Eduardo Oinegue]: Quem pergunta é a jornalista da Folha de S.Paulo, Patrícia Campos Mello.
[Patrícia Campos Mello]: Boa noite. O tema da minha pergunta é relações entre os poderes. As fake news divulgadas por autoridades eleitas e altos funcionários do Governo têm prejudicado a implementação de políticas públicas, e o debate eleitoral se transformou em uma guerra suja.
Há uma avalanche de mentiras sobre as urnas e o sistema eleitoral, sobre religião, sobre vacinas, sobre Saúde Pública. Candidato Bolsonaro, o senhor já teve inúmeras declarações falsas removidas da internet. Candidato Lula, sua campanha já teve declarações falsas removidas da internet.
Os senhores se comprometem a propor uma lei específica para que o judiciário imponha penas para autoridades eleitas, Presidente inclusive, e servidores que divulguem informações factualmente inverídicas que prejudiquem o bem-estar da população, como informações falsas sobre saúde e violência sexual, por exemplo, sim ou não?
[Eduardo Oinegue]: Candidato Lula, um minuto e meio.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Olha, o meu adversário teve 36 processos, tirando… o programa dele, de mentira; 36 fake news a Suprema Corte tirou… O Superior Tribunal Eleitoral tirou dele, numa demonstração de que faz parte do cotidiano dele. A imprensa publica fartamente que pelo menos seis ou sete mentiras por dia são contadas. Brinca-se de contar mentira. Levanta de madrugada, tem vontade, vai e conta uma mentira, faz uma live e conta uma mentira, sabe? Levanta até uma hora da manhã para fazer live.
Eu sinceramente acho? eu já participei de outras campanhas. Você sabe que eu já participei de campanha contra o Fernando Henrique Cardoso, contra o Collor, contra o Serra, e o nível era outro. Era um nível civilizado. Era um nível em que a verdade sempre prevalecia. A verdade sempre estava na Ordem do Dia. A gente debatia o futuro do país. a gente debatia a economia, debatia trabalho, debatia salário.
Por exemplo, nós temos 36 milhões de pessoas que vivem com salário-mínimo, e faz quatro anos que não se aumenta salário-mínimo no país. Eu acho que a campanha tem que ser regulada, a Justiça tem que tomar decisão e toda vez que houver uma mentira, nós vamos entrar com processo para tirar as coisas que são mentirosas. Porque o povo, se votar num candidato passo que mente, sabe que o candidato não vai governar corretamente.
[Eduardo Oinegue]: Candidato Bolsonaro, um minuto e meio.
[Jair Bolsonaro]: Lula, se você não mentisse, não seria você. Você me chama o tempo todo de genocida, miliciano, canibal… E a última, o seu programa, influenciado por Gleisi Hoffmann, me acusou de pedofilia, tentando me atingir naquilo que tenho mais de sagrado: defesa da família brasileira, defesa das crianças. Ato contínuo o que aconteceu no dia de hoje.
O Sr. Alexandre de Moraes dá uma sentença contrária a essas mentiras. Diz a sentença aqui: “A postagem realizada pela representada Gleisi Hoffmann (representa o PT), em 15 de outubro, agora, se descola da realidade por meio de inverdades, fazendo uso de recortes em encadeamentos inexistentes de falas gravemente descontextualizadas do representante Jair Bolsonaro, com o intuito de induzir o eleitorado negativamente. Tal contexto evidencia a divulgação de fato sabidamente inverídico, notadamente por se tratar de notícia falsa divulgada durante o segundo turno da eleição presidencial”.
Sem mentir. Aqui, de forma concreta, uma sentença do Ministro Alexandre de Moraes. Sem mentir. Você tem que falar do seu passado, que não tem nada que preste no seu passado. Tem que mentir para tentar denegrir a imagem dos outros.
[Adriana Araújo]: O próximo a perguntar é o jornalista do UOL, Josias de Souza. Boa noite, Josias. Por favor.
[Josias de Souza]: Boa noite, senhores candidatos. Eu vou perguntar sobre dois temas numa única pergunta. Os temas são relação entre poderes e governabilidade. O governo Lula comprou o apoio do centrão com o Petrolão. O Governo Bolsonaro comprou o apoio do centrão com o orçamento secreto.
A pergunta é muito singela: quem for eleito, em 30 de outubro, terá que se relacionar com o Congresso, há muitas reformas por aprovar. O que os senhores farão para que esse relacionamento se dê sem a necessidade de comprar apoio Legislativo?
[Adriana Araújo]: O primeiro a responder agora é o candidato Bolsonaro, por favor.
[Jair Bolsonaro]: Prezado Josias, por favor. Eu comprei com orçamento secreto? Eu vetei; derrubaram o veto. Agora, se eu comprei, eu tenho voto. Vamos supor que o senhor seja deputado. Se o senhor recebeu um dinheiro do orçamento secreto, o senhor vai votar comigo. É lógico ou não é? É lógico.
Eu tenho aqui uma lista preliminar. 13 deputados do PT que receberam recurso desse tal orçamento secreto. Eu não tenho nada a ver com esse orçamento secreto. Posso até entender que o Parlamento trabalha melhor na distribuição de renda do que nós para o lado de cá, o meu Ministério da Economia e o Presidente. Agora, por favor, Josias, falar que eu comprei com orçamento secreto? Eu posso te trazer, em uma outra oportunidade, mais nomes que receberam fortunas desse dito orçamento secreto.
Então, se eu tivesse esse poder, primeiro que eu tenho caráter, não faria isso. E só para controle: esse orçamento foi criado por Rodrigo Maia, sabidamente uma pessoa que queria tirar poderes de mim. Eu queria, na verdade, Josias, que fosse verdade, que o orçamento estivesse nas minhas mãos. Eu faria melhor uso dele, pode ter certeza disso, como o Tarcísio tem feito nas suas obras, o Rogério Marinho, entre outros. Agora, por favor, Josias, você é jornalista, você é uma pessoa inteligente: eu jamais daria dinheiro para essa turma toda aqui se não estivessem votando comigo, não é? Se bem que eu nunca comprei voto de ninguém.
[Adriana Araújo]: Por favor, candidato Lula, um minuto e meio.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Ô Josias, a primeira coisa que você tem que aprender é que um presidente da República, quando ele é eleito, ele vai governar e lidar com o Congresso que foi eleito. E quem elegeu o Congresso foi o povo brasileiro. Se os deputados são bons ou não, o povo brasileiro tem responsabilidade porque indicou, e é com quem tem mandato que o governo se relaciona. O suplente não vale, os que ficaram em segundo lugar não valem; é exatamente com as pessoas que foram eleitas.
Isso vale para todos os presidentes da República. Vale para você, se fosse eleito presidente. Vou tentar confrontar essa história do orçamento secreto, eu vou tentar criar um orçamento participativo, que foi uma coisa que nós criamos nos estados brasileiros. Todo mundo se lembra que o sucesso do orçamento secreto nas prefeituras do PT foi— a ONU pediu para que a gente, sabe, fosse para o mundo divulgar o orçamento participativo. Agora, com a internet, nós vamos tentar fazer um orçamento participativo: nós vamos fazer— pegar o orçamento, nós vamos— O orçamento, no ano que vem, já está pronto.
Eu vou ganhar as eleições, vou tomar posse, o orçamento estará pronto. Eu não sei se eu vou mudar o orçamento ou não, mas nós vamos pegar o orçamento e vamos mandar para o povo dar opinião para saber o que ele quer efetivamente que seja feito para ver se a gente consegue diminuir o poder de sequestro que o Centrão fez no Presidente Bolsonaro.
[Adriana Araújo]: Obrigada, candidatos. E assim chegamos ao final de mais este bloco do debate histórico que reúne os dois candidatos à Presidência no segundo turno, realizado aqui nos estúdios da Band em São Paulo, uma parceria do Grupo Bandeirantes com o UOL, TV Cultura e Folha de São Paulo.
E eu aproveito para trazer uma informação para vocês de agora: neste momento, o debate já bateu recorde de maior live jornalística do YouTube da história!
[Eduardo Oinegue]: E depois do intervalo, um novo embate direto entre os candidatos; eu e a Adriana Araújo nos despedimos, porque o próximo bloco terá mediação de Leão Serva, da TV Cultura, e Fabíola Cidral, do UOL.
[Adriana Araújo]: Olho no voto, eleições 2022.
Terceiro bloco do debate:
[Leão Serva]: Boa noite.
[Fabíola Cidral]: Boa noite. Estamos de volta, ao vivo, para todo Brasil com esse debate histórico que reúne pela primeira vez os dois candidatos à Presidência da República no segundo turno das eleições 2022.
[Leão Serva]: Um encontro fundamental para a democracia, promovido por um pool que reúne: TV Cultura, Grupo Bandeirantes, UOL e Folha de S.Paulo. Lembro que o debate está sendo exibido na internet pelos canais digitais de todas as empresas participantes e pelas rádios Cultura FM e Cultura Brasil.
[Fabíola Cidral]: Para abrir este bloco, os dois candidatos terão um minuto e meio para responder a uma mesma pergunta.
[Leão Serva]: Quem faz essa pergunta inicial é o jornalista Tayguara Ribeiro, da Folha de S.Paulo.
[Tayguara Ribeiro]: Candidatos, boa noite. O assunto é educação. Durante a pandemia, alunos de escolas públicas enfrentaram uma média de 287 dias sem escola. Além disso, essa falta de escola causou um prejuízo no aprendizado e também aumentou a desigualdade entre crianças negras e brancas, ricas e pobres. O que de concreto, caso senhores sejam eleitos, vocês farão para recuperar essa defasagem educacional?
[Leão Serva]: Pela ordem sorteada, o primeiro a responder é o candidato Lula. Candidato, um minuto e meio para sua resposta.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Olha, eu tenho dito há três meses que a primeira reunião que eu quero fazer na primeira semana de janeiro são com os governadores eleitos dos 27 estados, e também com os prefeitos das capitais para começar uma discussão de como recuperar esses alunos que estão atrasados. Esses alunos que ficaram mais analfabetos do que já eram, porque não tiveram sequer um auxílio de um computador, da internet para poder estudar.
Ou seja, dois milhões de crianças estão mais atrasadas do que os mais ricos, e nós precisamos recuperar. E o Governo Federal, através do Ministério da Educação, vai compartilhar com os governadores e com os prefeitos da responsabilidade de recuperar essas aulas para que esses meninos possam aprender mais. Nós vamos ter que fazer um verdadeiro mutirão, convidar professores, quem sabe trabalhar de domingo, quem sabe trabalhar de sábado para que a gente possa fazer com que essa meninada consiga aprender aquilo que deixaram de aprender durante a pandemia.
É triste, mas é verdade. Os pobres aprenderam menos, os negros aprenderam menos, porque os ricos têm internet, estudaram em casa, fizeram aula em live, ou seja… e os pobres ficaram sem aula. Isso nós vamos cuidar, pode se preparar os governadores e os prefeitos que o Ministério da Educação, no meu Governo, vai ser parceiro para recuperar.
[Leão Serva]: Candidato Jair Bolsonaro, sua vez de responder, por favor.
[Jair Bolsonaro]: Até que enfim uma verdade, uma sinceridade. Os alunos ficaram mais analfabetos do que já eram. O “já eram” foi no teu governo, Lula. E Dilma. A garotada ficou dois anos em casa. Eu fui contra isso. Mas vamos aos fatos. Nós já estamos fazendo. O nosso Ministro da Educação tem um aplicativo que foi aperfeiçoado e já está há um ano em vigor, chama-se Grapho Game. Ou seja, num telefone celular se baixa o programa e a garotada fica ali. Letra A, ela aperta o A e aparece o som de A. Vai para sílabas. C e A: Ca.
No passado, no tempo do Lula, a garotada levava três anos para ser alfabetizada. Agora, em nosso governo, leva seis meses. Ou seja, a grande diferença está aí.A gente não fala que vai fazer, a gente mostra o que está fazendo. O seu Paulo Freire, Lula, não deu certo. E mais do que isso, nós vamos começar agora com o Fies técnico para garotada do ensino médio ter uma profissão… auxiliar de enfermagem, marceneiro, entre tantos outros. Essa diferença do nosso governo e do teu. Tu nunca se preocupou em educar ninguém do Brasil. Nós educamos e alfabetizamos.
[Fabíola Cidral]: Agora mais uma rodada direta, com banco de tempo entre os candidatos. Seguindo as mesmas regras do primeiro bloco, cada um terá 15 minutos para administrar como preferir.
[Leão Serva]: A ordem é invertida em relação ao primeiro bloco. Portanto, quem começa com a palavra é o candidato Jair Bolsonaro. Bom debate, candidatos.
[Jair Bolsonaro]: Lula, você não respondeu à pergunta do Josias de Souza sobre o Petrolão. O Petrolão foi o maior esquema de corrupção da história da humanidade. O endividamento da Petrobras, com desvio de recursos, com compra de refinarias, como Pasadena, começo da construção de três refinarias, uma no Maranhão, outra no Pernambuco, outra no Rio de Janeiro. Não concluiu nenhuma.
Só ali se enterrou 90 bilhões de reais. Dinheiro, Lula, que você enfiou no ralo, e grande parte dividiu com os seus amigos. Muitos devolveram centenas de milhões de reais. Lula, a Petrobras se endividou em 900 bilhões de reais. Isso equivale a você fazer 60 vezes a transposição do São Francisco. Lula, responda sobre o Petrolão.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu vou responder sobre a Petrobras e vou dizer uma coisa para você. A Petrobras tinha uma dívida de 300 milhões, e essa dívida foi feita porque a Petrobras precisava tirar o pré-sal de sete mil metros de profundidade, que vocês não acreditavam, e muita gente nesse país dizia que era impossível tirar o petróleo de sete mil metros de profundidade, e nós conseguimos tirar; e, hoje, o barril de petróleo colocado em terra é quase que o mesmo preço do barril de petróleo da Arábia Saudita.
A segunda coisa é que eu fiz a capitalização da Petrobras de 70 bilhões. Foi a maior capitalização da história do capitalismo, em dezembro de 2010, e transformei a Petrobras na segunda maior empresa de energia do mundo. Isso permitiu que a gente ficasse autossuficiente. O que acontece é que nós decidimos fazer refinarias, sim. O polo petroquímico de Itaboraí, no Rio de Janeiro, que foi parado; nós decidimos fazer a refinaria no Maranhão, uma refinaria no Ceará, fizemos refinaria de querosene, no Rio Grande do Norte, porque esse país queria ser exportador de produtos derivados e não de óleo cru como está sendo agora.
O Brasil tem um potencial extraordinário, e se houve corrupção na Petrobras, olha, prendeu-se o ladrão que roubou, acabou. E prendeu porque houve investigação. Porque no nosso governo nada era escondido. A gente não tinha sigilo. Não tinha sigilo do filho, da filha, não tinha sigilo do? Sabe? Do? do cartão de crédito. A gente não tinha sigilo das casas? Nada. Tudo era ali. Era o portal da transparência e era a lei de informação, lei de acesso à informação, que foram duas obras primas que o PT criou para que o povo acompanhasse, em tempo real, as coisas que foram feitas nesse país.
O dado concreto é o seguinte, é que se houve corrupção na Petrobras, não precisava ter quebrado as empresas, como foram quebradas as empresas. Você prendesse quem roubou e deixasse as empresas trabalhando, porque foram quatro milhões e quatro mil empregos que se foram para casa do chapéu. Quatro milhões e 400 mil empregos. E, além disso, 270 bilhões que se deixou de arrecadar, deixou-se de investir, e 58 bilhões que se deixou de arrecadar. Esse foi o desastre do Brasil.
Esse foi o desastre de uma empresa que poderia estar exportando derivado nesse momento, ganhando muito mais dinheiro do que está ganhando agora. Por isso, meu caro, eu não tenho nenhum problema de explicar o Petrolão ou o petrolinho. Eu quero ver você explicar a forma sigilosa que você colocou tantas coisas na sua vida. Tudo é motivo de sigilo. Tudo é motivo de sigilo. Você sabe que isso tem perna curta, porque vai acabar. Porque eu vou ganhar as eleições, e quando chegar dia primeiro de janeiro, eu vou pegar seu sigilo e vou botar o povo brasileiro para saber por que você esconde tanta coisa. Afinal de contas, se é bom, não precisa esconder. É isso. Estou à sua disposição.
[Jair Bolsonaro]: Fica aqui, Lula, fica aqui.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Aliás, deixa eu lhe falar uma coisa?
[Jair Bolsonaro]: Fica aqui, fica aqui.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Você sabe o que eu fiquei sabendo agora?
[Leão Serva]: Candidatos?
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Que todos os discursos seus no Congresso Nacional eram falando bem de mim, quando era deputado e eu era Presidente.
[Jair Bolsonaro]: Lula?
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Me ligaram, disseram que você era um puxa-saco meu que não tinha precedente na história.
[Jair Bolsonaro]: Lula?
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Porque você sabe que eu cuidei do Exército, que, quando eu cheguei, não tinha sequer coturno, o soldado era liberado às 11 horas porque não tinha dinheiro para o rancho, você sabe que a Marinha não tinha quase mais navio, você sabe que a Aeronáutica não tinha avião, e você sabe que eu cuidei das Forças Armadas com um carinho que nenhum… que nem você cuidou das Forças Armadas como eu cuidei, porque eu quero as Forças Armadas preparadas, competentemente armadas para defender a soberania brasileira contra possíveis inimigos externos. É isso que eu quero para esse país.
[Jair Bolsonaro]: Fica aí, Lula. Lula, se respeitasse as Forças Armadas, você botaria gente competente para ser Ministro da Defesa, e não companheiros lá para dentro. Petrobras, Lula. O endividamento foi 900 bilhões. Você começou a fazer três refinarias, não concluiu nenhuma.
Vocês compraram uma Pasadena lá fora, uma sucata. Você entregou para Evo Morales, da Bolívia, duas refinarias nossas, Lula. Pare de mentir!
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Mas por que você mente descaradamente?
[Jair Bolsonaro]: Eu estou falando. Estou falando?
[Luiz Inácio Lula da Silva]: É mentira sua!
[Jair Bolsonaro]: Ah, é mentira?
[Luiz Inácio Lula da Silva]: É mentira sua. Mentira.
[Jair Bolsonaro]: Mentira minha?
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Mentira.
[Jair Bolsonaro]: Você não entregou para o Evo Morales…
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Olha ali para aquela câmera, que você deve estar com os seus filhos ouvindo você, e repita.
[Jair Bolsonaro]: Os meus filhos me acompanham?
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Porque é mentira.
[Jair Bolsonaro]: Os seus, não.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Sabe? Você… aliás?
[Jair Bolsonaro]: Os meus filhos me acompanham.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Você não sabe fazer outra coisa a não ser mentir, Bolsonaro.
[Leão Serva]: Candidatos, quando os dois falam, o espectador não consegue entender o que se fala.
[Jair Bolsonaro]: Itaboraí virou uma cidade fantasma lá no Rio de Janeiro. Estamos começando a recuperar tudo isso aí. Um escândalo sem tamanho! Olha aqui, Lula: os delatores devolveram seis bilhões de reais, um bi de dólares foi para os Estados Unidos para a Bolsa, que foi prejudicada pela interferência nos preços.
Olha aqui, Lula, as empresas que roubaram a Petrobras: Odebrecht devolveu 2.7 bi; SBN, 1.3; Andrade Gutierrez, 1,4; Braskem, 1.8 bilhões; Camargo Corrêa, 1.4 bilhão; OAS, 1.9 bilhão, e assim vai. 16 bilhões de reais que as empresas devolveram, somados com os seis bi dos delatores, mais outros quase seis bi para os Estados Unidos.
Só o que foi contabilizado e achado, esses ladrões devolveram 30 bilhões de reais, fora o que não foi achado. Você vem falar que não houve roubalheira? Que você trabalhou para o bem da Petrobras? Não dá nem para discutir.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu não disse que não houve roubalheira?
[Jair Bolsonaro]: Não dá nem para discutir esse assunto aqui.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Porque as pessoas se confessaram. Quando o cara confessa o crime, é porque ele cometeu um crime. As pessoas foram lá e delataram que houve roubo na Petrobras; pode ter havido. O que eu quero dizer é que, para você combater a corrupção, você não precisava quebrar as empresas, você não precisava fechar as empresas!
Na Coreia, não fecharam a Samsung; na Alemanha, não fecharam a Volkswagen; na França, não fecharam a Alstom. Ou seja, prendeu-se o dono da empresa e os trabalhadores continuaram trabalhando, a empresa continuou produzindo e as coisas aconteceram. Você sabe que o Polo Petroquímico de Itaboraí estava 85% pronto? Estava 85% pronto. O maior polo petroquímico que esse país podia ter. Está parado.
Está parado porque se levantou muita denúncia, não se provou metade das denúncias e está lá o polo petroquímico enferrujando, quem sabe para ser privatizado a troco de banana, como foi feito com o gasoduto brasileiro, que serve para quê?
[Jair Bolsonaro]: Lula, sabe por que, você sabe por que houve roubalheira na Petrobras, Lula? Porque você entregou para partidos políticos, diretorias da Petrobras, você fez um leilão, em troca de apoio dentro do Parlamento.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Não minta. Não minta que é feio.
[Fabíola Cidral]: Candidato Lula, respeita, ele está falando.
[Jair Bolsonaro]: Você botava grupos partidários, e o pessoal entrava para saquear, e você com os votos caindo para aprovar sua proposta lá dentro, você se refestelava. Olha o BNDES, Lula. Fala do BNDES. Por que a Venezuela tem metrô, e Belo Horizonte não tem metrô? Você entregou um bilhão e 60 milhões de dólares para o seu amigo Chávez e Maduro, fizeram o metrô lá fora, deram um cano no Brasil, e não tem metrô aqui no Brasil. E parte dessa grana teria voltado para cá ou foi tudo para a obra? Não foi tudo para a obra. Lula, você tem muito a falar sobre corrupção, não culpe os procuradores da lava jato, os juízes; a responsabilidade pela corrupção no Brasil foi tua, os números estão aí.
[Leão Serva]: Candidato Lula pediu direito de resposta, a comissão vai analisar.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: O direito de resposta é fazer o seguinte. O Bolsonaro continua sendo um mentiroso contumaz. Ele sabe que os diretores da Petrobras, inclusive um dos seus chefes da Casa Civil é do partido que era o diretor da Petrobras, e esse diretor tinha 33 anos de Petrobras. Não era um dia, eram 33 anos da Petrobras. Ele foi indicado por competência. Ele foi indicado por competência.
Ele já está morto, não dá nem para ficar falando muito dele. Então o que é importante dizer claramente é o seguinte, as pessoas que foram indicadas pela Petrobras, foram indicadas pelo conselho, porque você sabe que você indica um diretor da Petrobras para o conselho da Petrobras, a Petrobras é quem indica o conselho. Eu, na verdade, Bolsonaro, eu gostaria de que você quando viesse olhar na Câmera, você explicasse por que faz quatro anos que você não aumenta, não dá um aumento real para o salário mínimo.
São 36 milhões de aposentados, 36 milhões que ganham salário mínimo, dos quais 22 milhões de aposentados que estão há quatro anos sem receber aumento real. No meu governo, receberam 74% de aumento real. É por isso que a economia cresceu. Você sabe quanto a economia cresceu no meu governo? Crescia em média 4%. Sabe quanto está crescendo no seu? Menos do que dois. Ou seja, crescia.
E o Brasil, quando eu deixei a presidência, estava crescendo 7,5%. Vou lhe dar um dado para você pesquisar, um dado para você pesquisar. Quando eu deixei a Presidência, a indústria automobilística produzia três milhões e 700 mil carros. Hoje ela produz menos do que dois milhões de carros, menos do que dois milhões, metade da produção de carro. Quando eu era presidente, a estimativa da indústria automobilística era chegar a seis milhões de carros. Veja, nós estamos com a economia atrofiada, uma economia que você fala que está bombando, só se for no seu orçamento, porque para o povo não aparece esse crescimento da economia.
[Jair Bolsonaro]: Lula, quando você fala em Petrolão, não se esqueça, o ministro Joaquim Barbosa quando proferiu seu voto mandando para cadeia vários de seus colegas, ele foi bem claro, o único que não pegou o dinheiro na Petrobras foi o senhor Jair Bolsonaro. Dá até uma gaguejada.
Ou seja, não me compare com seus amigos corruptos, Lula. Longe disso. Quando você fala em crescimento, você mente o tempo todo. Dá um Google você em casa. Vê quanto foi o crescimento do Brasil em 2015, 2016, governo do PT. O Brasil caiu na ordem de 7%. Tinha pandemia naquele tempo? Tinha guerra lá fora? Não, mas tinha corrupção em abundância no Brasil. Em 2020, o mundo todo sofreu com a economia, falavam lá fora que o Brasil ia cair 10%. Caiu 10. No ano seguinte recuperamos.
Ou seja, com pandemia, com uma guerra lá fora, e com uma crise hidrológica, nós ficamos no zero a zero em dois anos. Em dois anos você perdeu 7%, sem pandemia, sem falta d’água e sem guerra lá fora. Há uma diferença enorme entre cuidar da economia com uma pessoa como eu e o Paulo Guedes, e você. E por falar em economia, prezado Lula, quem vai ser seu ministro da economia? Já decidiu? Ou está barganhando ainda com algum partido político? Quem vai ser seu ministro da economia, Lula? Fala para a gente aqui.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Uma coisa, uma coisa? Eu falei do meu governo. O governo mais exitoso da história do Brasil. Um governo que tirou 36 milhões de pessoas da miséria absoluta, um governo que colocou 42 milhões do povo brasileiro a um padrão de consumo de classe média, o governo que faz mais universidades na história do Brasil, o governo que mais colocou jovens.
Nós pegamos o Brasil com 3 milhões e meio de jovens na universidade, deixamos com 8 milhões de jovens na universidade. O Brasil tinha 140 escolas técnicas; nós fizemos 422 escolas técnicas. Ou seja, nós aprimoramos, porque nós tínhamos o melhor Ministro da Educação do Brasil, que era o companheiro Fernando Haddad, o melhor Ministro da Educação, que fez o Fundeb. O orçamento da Educação subiu 160% no nosso governo. A gente criou o piso salarial dos professores, porque esse país estava dando um salto de qualidade.
O Brasil era a 12ª economia do mundo, chegou à 6ª economia do mundo. Eu não sei se o adversário meu se lembra, eu era o único Presidente do Brasil, da história do Brasil, convidado para todas as reuniões do G8, e convidado para as reuniões do G20. Por que a gente era convidado? Porque tinha uma coisa que a gente cuidava que você não cuida, que era a questão do clima. Foi no nosso governo o menor desmatamento da Amazônia. Foi no nosso governo. E o seu é o maior todo ano.
Vocês estão brincando de desmatar, vocês estão brincando de abrir cerca, vocês estão brincando de derrubar árvore, vocês vão ver o que vai acontecer com o comércio brasileiro, porque o brasileiro do agronegócio que é sério, aquele que quer ganhar dinheiro, aquele que quer exportar, sabe que não pode invadir a Amazônia. Então, nós vamos ganhar as eleições para poder cuidar da Amazônia, e não permitir que haja invasão em terra indígena, em garimpo ilegal, e muito menos alguém querer plantar milho, soja ou algum outro produto no lugar que não se pode plantar.
Nós temos 30 milhões de alqueires de terras degradadas que podem ser recuperadas para plantar o que quiser no país. Então eu queria que você explicasse um pouco o desmatamento da Amazônia da forma irresponsável que está acontecendo agora no seu governo.
[Jair Bolsonaro]: Fica aqui que eu explico. Pode ficar aqui?
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Pode.
[Jair Bolsonaro]: Dá um Google em casa aí: “Desmatamento 2003 a 2006”, quatro anos do governo Lula. Depois dá um Google: “Desmatamento, Jair Bolsonaro, 2019 a 22”. No seu governo foi desmatado mais do que o dobro do que o meu. Dá um Google em casa.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Deixa eu lhe falar uma coisa.
[Jair Bolsonaro]: Deixa eu terminar, Lula. Dá um Google em casa. Você desmatou duas vezes e meio mais do que no meu governo, Lula. Você fala em Economia. Eu peguei o Brasil endividado, quebrado contigo. Roubalheira. Agora, este ano, o Brasil passou da décima terceira para a décima economia do mundo. E mais ainda, quando você fala em Educação, quem foi que deu o maior reajuste aos professores do Brasil? Você está olhando para ele: Jair Bolsonaro; 33%. Isso é tratar com dignidade os professores.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Acabou?
[Jair Bolsonaro]: Acabou.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu vou lhe falar uma coisa. Pode dar o Google, pode dar o que você quiser, você vai perceber que quando eu ganhei as eleições tinha um desmatamento de 27 mil quilômetros. Caiu para quatro mil quilômetros. O Brasil participou da COP 15, em Copenhagen, participou do encontro de Paris, em que o Brasil era elogiado porque o Brasil era o país que menos desmatava e que mais cuidava da questão ambiental. Não existiu nenhum governo que fizesse o que a gente fez na questão ambiental.
E agora nós vamos fazer mais, porque nós vamos fazer com que a agricultura de baixo carbono possa fazer com que o Brasil receba, sabe, quem sabe muito dinheiro da União Europeia e de outros países, por conta do sequestro de gás de efeito estufa que nós vamos fazer preservando a Amazônia, coisa que você não sabe. Nós vamos tentar fazer da biodiversidade da Amazônia uma forma de enriquecimento daquele povo da Amazônia, de quase 30 milhões de pessoas que moram lá, e não desmatar, e não desmontar como vocês estão fazendo.
Destruição. Essa é a palavra: destruição, invasão de terra indígena, garimpo ilegal, coisa que nós vamos proibir. No nosso governo não vai ter… aliás, eu vou te dar uma novidade. eu vou criar o Ministério dos Povos Originários. Esse país vai ter o Ministério dos Povos Originários. Os indígenas vão indicar um ministro nesse país.
[Jair Bolsonaro]: Quanto mais ministério, melhor, não é? Lula, tu acabou de dizer, há poucas semanas, que ia dividir a biodiversidade da Amazônia com o mundo. Você já está se curvando ao mundo. Em vez de você falar que a Amazônia é nossa, você quer dividir a nossa biodiversidade.
Você só consegue manter em pé as suas mentiras se você botar um plano de governo teu que todo mundo já sabe: controle da mídia! Você fala o tempo todo que quer controlar a mídia, que vai controlar a mídia! Ou seja, somente assim, Lula, para as suas mentiras permanecerem em pé. Você quer ou não controlar?
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Mentiroso é você. Você mente todo dia. Você mente e desmente, mente e desmente. Você foi obrigado a acordar uma hora da manhã hoje para fazer uma live por causa da mentira que você ia contar ao povo brasileiro. Você sabe disso. Você devia ter deitado com a consciência muito pesada com o que você fez. Muito pesada, porque levantar uma hora da manhã para fazer uma live: “Eu não disse aquilo, eu não fiz aquilo”.
Quem te conhece, sabe que você fez. Quem te conhece, sabe que você fez. Então deixa eu lhe falar uma coisa, Bolsonaro: esse país precisa de gente com muita seriedade para governar. Esse país tem que ter alguém que tenha credibilidade da sociedade brasileira. Esse país tem que ter alguém que garanta estabilidade nesse país. E esse país precisa ter alguém que tenha previsibilidade. Esse país não pode ter um governo que parece um biruta, que todo dia fala uma coisa, todo dia diz uma coisa, todo dia desdiz a coisa que disse.
Esse país precisa de gente séria. E é por isso que nós vamos trazer o que você não conseguiu trazer. Nenhum país te convida para ir lá e ninguém quer vir aqui. Pois eu vou voltar a abrir esse país para o mundo! O que nós vamos fazer é fazer da Amazônia, nós vamos fazer acordos para pesquisar a riqueza da biodiversidade da Amazônia em bem do povo brasileiro e em bem da humanidade, porque nós precisamos compartilhar o conhecimento científico com outros países para que a gente possa explorar corretamente a Amazônia.
Então, Bolsonaro, você sabe o que nós fizemos. Você sinceramente sabe que você colocou um ministro que desmatava tudo e dizia que era para abrir a cancela para entrar a boiada. Você não teve o menor respeito pela Amazônia. O menor respeito. Ou seja, para você, o que vale é os caras quebrar, desmatar, invadir para plantar, sabe? O homem de negócio sério não invade. Eu digo para vocês: o verdadeiro, o homem do agronegócio, não invade. Quem invade é bandido. Quem invade está transgredindo a lei, e isso vai acabar. Isso vai acabar. Não tem conversa mole.
[Jair Bolsonaro]: Em 14 anos?
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Esse aqui é você?
[Jair Bolsonaro]: Você não fez nada, Lula. Em 14 anos, você não fez nada. Está prometendo que vai fazer pela Amazônia agora? Você não fez nada! Você passeou por aí, nas suas viagens, mas nada além disso. Você não fez nada para o Brasil. Vamos falar um pouquinho sobre… já que falou que vai trazer amigo para cá?
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Você sentiu? Você era deputado e você sentia orgulho de ter o Lula como presidente. Fala a verdade.
[Jair Bolsonaro]: Meu tempo? Vamos falar dos seus amigos.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Vamos.
[Jair Bolsonaro]: Daniel Ortega. Ortega é seu amigo ou não é?
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Vamos falar.
[Jair Bolsonaro]: É Ortega seu amigo?
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Vamos falar.
[Jair Bolsonaro]: É seu amigo Ortega?
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Faça a pergunta.
[Jair Bolsonaro]: É! Ele te cumprimentou quando tu foi para o segundo turno aqui.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Faça a pergunta.
[Jair Bolsonaro]: Ele lá está prendendo padres e expulsando freiras, fechando canais de TV como a CNN, de TV e rádio católica. Ele acabou de proibir a comemoração do Dia da Bíblia, proibiu procissões, fechou o país, um desrespeito com as religiões, e você o trata como amigo? Diz que isso compete a ele e nós não podemos fazer nada? Outro amigo teu, Lula: quando eu falei na ONU que estava de portas abertas para receber freiras e padres da Nicarágua, o teu outro amigo, Petro, da Colômbia, ocupou a tribuna e pediu a descriminalização da maconha! Ou melhor, da cocaína, o que é mais grave ainda!
Lula, esses são seus amigos? Aqui no Brasil são os chefões da comunidade; não é o povo do Complexo do Alemão, não, o povo ali é decente, é ordeiro, é trabalhador, você é amigo da minoria: pessoal do CPX e dos traficantes, e você agora é amigo também de Ortega e Petro, que pede a descriminalização da cocaína, e que prende padres e freiras. É isso mesmo, Lula? Fala sobre teu amigo aqui.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu senti muito orgulho de no dia 19 de julho de 1980, em participar da comemoração do aniversário da Revolução Sandinista, que derrubaram um ditador chamado Somoza, de 30 anos. Agora, o regime político da Nicarágua é uma coisa que depende deles, e o Daniel Ortega sabe, você sabe, o Chávez sabe, todo mundo sabe, que se eu quisesse acreditar em mandato perpétuo, eu teria feito o terceiro mandato quando me propuseram.
Quem acha que é imprescindível, insubstituível começa a nascer um ditador. Então se o Daniel Ortega está errando, o povo da Nicarágua que puna o Daniel Ortega, se o Maduro está errando, o povo que puna; porque você quem vai punir é é o povo brasileiro, dia 30 de outubro, se prepare. Eu faço aniversário dia 27, e o povo vai me dar de presente a sua volta para casa. É isso que vai acontecer, porque o povo está precisando de alguém que cuide dele. Alguém que cuide do povo, alguém que cuide da mulher, do trabalhador, alguém que cuide, que tenha…
[Leão Serva]: Candidato Lula, o seu tempo acabou.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu fico empolgado.
[Jair Bolsonaro]: Muito obrigado. Quem cuida do povo sou eu, do mais pobre. Olha o Auxílio Brasil. Você que é pobre, tem dificuldade. Multipliquei por três o valor médio do Bolsa Família. Agora vamos falar de fé, de religião, de liberdade, ele assinou a carta da democracia e é apaixonado por Ortega, por Maduro, pelo falecido Fidel Castro, entre outros ditadores.
O círculo de amizade dele aqui nas comunidades não é o povo trabalhador, são os traficantes. Olha a preocupação que nós temos, o que é que tem de comum entre Lula, Ortega, Chávez, falecido, Maduro, Evo Morales, Fernández da Argentina, Petro da Colômbia? São do foro de São Paulo. São todos amigos. Olhem para onde está indo… estão indo esses países. A Venezuela, o Lula fez campanha para o Chávez lá atrás e para o Maduro também. Até chegou a falar certa vez “pode faltar tudo na Venezuela, menos democracia”.
Olhe como é que está o povo da Venezuela, o país mais rico do mundo em petróleo, cujo povo vive numa pobreza abaixo dos nossos irmãos do Haiti. Olha para onde está indo a nossa Argentina. Deixo claro, Fernández, ainda candidato, foi visitar o Lula na cadeia, em Curitiba. Se elegeu presidente. Olha como é que está a economia da Argentina, 40% do povo da Argentina está na linha da pobreza. Já reviram lixões para sobreviver. É isso que nós queremos para o Brasil?
Botar umas pessoas como essas, sem qualquer qualificação, intelectual ou moral, para administrar o nosso país? Ele quer voltar à cena do crime com o seu Geraldo Alckmin. O povo não vai deixar isso acontecer. Esse nosso povo respira liberdade. Lula durante a pandemia fecharam igrejas, muitos governadores do teu partido, você não falou nada. E igreja não se fecha nem em tempo de guerra. E você permitiu que os seus governadores fechassem igrejas, Lula. Que respeito que você tem para com as religiões?
Nenhum. Lula, vai lá para Roraima ver o povo venezuelano fugindo para cá, homens e mulheres chegando pesando 15 quilos abaixo. Não chega nenhum cão ou gato com essas 600 pessoas, todo dia. Sabe por quê, Lula? Porque os animais foram comidos na Venezuela. Pobreza, miséria. O único que vive muito bem lá, um dos raros, é o próprio Maduro. Mais ninguém. Vejam vocês relatos de venezuelanos, por que chegaram a esse ponto? Acreditaram nas mentiras, nas propostas mirabolantes.
Vou te dar carne e cerveja. Se você estava tão preocupado com o pobre assim, como disse que está, Lula, por que o Bolsa Família começava com 42 reais por mês para uma família? Média de 190 reais. Se o Brasil estava tão bem na economia como você disse que estava, por que tu não pagou com o Bolsa Família melhor, digno do povo brasileiro? Eu tripliquei esse valor, achando recursos no orçamento. Mesmo sendo o primeiro presidente que pegou o teto de gastos, negociando com o Parlamento. Contra o PT. Se dependesse do PT, você aí de casa, você que hoje recebe Auxílio Brasil de 600 reais, estaria ganhando Bolsa Família de 40 a 190 reais.
Uma vergonha. Uma pessoa que se gaba da sua economia, pagar isso para você? Meu irmão pobre, sabemos da sua dificuldade. Sabemos do seu sofrimento. Sei que você levanta de madrugada para ir trabalhar. E repito aqui, por que só poucas cidades brasileiras, capitais, têm metrô? E na Venezuela tem com o dinheiro nosso? Por que nas outras capitais não têm? Esse cara manda dinheiro para fora porque parte volta para o bolso deles, da turma deles. Lá fora, Cuba, Venezuela, não tem TCU, não tem CGU, não tem fiscalização de nada.
Vivíamos, como disse Gilmar Mendes há pouco tempos atrás, numa cleptocracia. Um país governado por ladrões. Quem disse foi Gilmar Mendes, e também Barroso disse semelhante. Roubaram tudo o que quiseram, diz Barroso. Tem prova, contraprova, dinheiro, conta bancária. Lula, você devia ficar em casa, Lula. Ficar em casa curtindo a vida e não querendo voltar à cena do crime. Lula, tu é uma vergonha nacional.
[Adriana Araújo]: Os pedidos de direito de respostas foram analisados pela comissão, um deles foi aceito, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva tem direito a um minuto a mais a partir de agora.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Na verdade, eu deveria ter direito a dois direitos de resposta, porque eu fui agredido várias vezes, com mentiras. Então é importante que o juiz julgador do tempo de resposta? Vou entrar com recurso no Supremo Tribunal? Deixa eu dizer uma coisa para você, Bolsonaro, você continua descaradamente mentindo. Descaradamente.
Porque efetivamente eu vou voltar a governar o país porque o povo precisa de alguém que cuida deles, porque o povo não quer alguém que compre 51 imóveis com dinheiro vivo, o povo não quer alguém que gaste 36 milhões de reais no cartão para comprar coisa para o palácio, o povo não quer mais rachadinha. O Queiroz está até hoje escondido, ou seja, voltar à cena do crime, o Lula? O Lula vai voltar à cena de cuidar do povo brasileiro, porque o povo precisa, precisa de alguém que cuide dele, e você sabe que eu sei cuidar do povo.
[Adriana Araújo]: A partir de agora, vamos às considerações finais. Antes, o presidente Jair Bolsonaro pediu o direito de resposta, a comissão julgadora está analisando, daqui a pouco a gente traz a resposta da comissão. Não foi concedido. Acabou de vir o resultado, não foi concedido o direito de resposta. Vamos às considerações finais então, a partir de agora.
[Leão Serva]: Pela ordem de sorteio, quem começa é o candidato Jair Bolsonaro, o senhor tem um minuto e meio, candidato.
[Jair Bolsonaro]: O que eu quero para o meu país? Primeiro eu quero um país livre, um país onde seja respeitada a liberdade de expressão. Um país onde você possa ir com segurança para casa, possa trabalhar, possa ter a certeza que teu filho vai para a escola e não vai ser cooptado, ensinado para eles coisas que os pais não querem em casa, a tal da ideologia de gênero.
Não queremos que os nossos filhos, ao irem para a escola, frequentem o mesmo banheiro. Essa é a política do lado de lá. Nós queremos um país sem drogas. O lado de lá quer liberar as drogas. Somente uma pessoa que não sabe a dor de um pai, ou de uma mãe, ter um filho no mundo das drogas. Não, nós não queremos liberar as drogas. Nós somos cristãos, em 90%. Nós respeitamos a vida desde a sua concepção. Não ao aborto!
Sim à propriedade privada. Não ao MST invadindo terras. Respeito ao homem do campo. Pelo direito à legítima defesa. Esse é o país que nós queremos, e não um país do retrocesso, da corrupção, da roubalheira e do desrespeito para com as religiões.
[Adriana Araújo]: Agora quem tem um minuto e meio para as suas considerações finais é o candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Por favor, candidato.
[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu queria primeiro agradecer o povo brasileiro mais uma vez e dizer para vocês que não deu para se discutir tudo o que se tinha para discutir aqui, mas eu queria dizer para vocês o seguinte, o meu adversário é efetivamente o cara que tem a maior cara de pau para contar inverdades aqui. Primeiro, quem aprovou a lei, em 2003, de liberdade religiosa foi esse que vos fala.
Quem defende a democracia e liberdade sou eu. Muito mais do que ele, que é um pequeno ditadorzinho que quer ocupar a Suprema Corte, que quer ocupar a Suprema Corte. Diz todo santo dia que quer colocar os dele na Suprema Corte. Eu não! Eu quero governar esse país democraticamente, como já governei duas vezes, dando prioridade aos problemas do povo brasileiro.
Dando prioridade a cuidar do povo, porque tem 33 milhões de pessoas passando fome. Esse país, que é o maior produtor de alimentos do Planeta Terra. Esse país tem 31 milhões de pessoas passando fome. Esse país que é o maior produtor animal do mundo, as pessoas estão na fila do osso, e quando eu falo do churrasco é porque nós vamos voltar a consertar esse país e vamos voltar no final de semana a comer um churrasquinho e tomar uma cerveja. Ele fica doido, porque só ele pensa que ele pode. Nós podemos e vamos querer comer um churrasquinho.
[Leão Serva]: Durante a fala do ex-presidente Lula o candidato Bolsonaro pediu direito de resposta, a comissão analisou e foi negado. Termina aqui este primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República nas eleições de 2022. Uma parceria entre o Grupo Bandeirantes, TV Cultura?
Peço que a plateia faça silêncio, por favor. Parceria entre a TV Cultura, UOL, Folha de São Paulo e Bandeirantes. Com o apoio do YouTube e do Google. Aproveito para lembrar que esse debate bateu recorde de maior live jornalística do YouTube em toda a sua história.
[Adriana Araújo]: Agradeço a todos e a todas que nos acompanharam pela TV, pelas rádios, pelas mídias digitais, e em nome das empresas do pool, agradeço novamente a presença aqui dos dois candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, na sede da Band, em São Paulo. Uma boa noite para você.
[Leão Serva]: Boa noite e boa semana a todos.
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