De queridinhas a ‘vilãs’: BDRs se afogam em cenário internacional caótico
Faz dois anos que a CVM aprovou as novas regras para investimentos em BDRs (Brazilian Depositary Receipts). De lá para cá, a B3 formou um catálogo de mais de 900 ativos, que representam ações de empresas negociadas fora do país.
Se em 2021 os juros internacionais baixos e o dólar elevado embasaram bons retornos para quem investiu nas BDRs — com as fabricantes BioNTech (B1NT34), Moderna (M1RN34), Pfizer (PFIZ34) e Astrazeneca (A1ZN34) liderando o ranking, com retornos que variaram de 50% até 200% –- o cenário é radicalmente diferente em 2022.
A inflação colou com força nas economias desenvolvidas e, desacostumados, os Bancos Centrais dos EUA e da Europa demoraram demais para responder. Hoje, os banqueiros buscam correr atrás do prejuízo, a saber uma inflação média superior a 8,0%, conduzindo ciclos agressivos de altas de juros e até entendendo que uma recessão possa ser um preço final razoável a ser pago.
A persistência inflacionária e o pivô da política expansionista do Fed e dos demais BCs em direção à contração monetária já causaram uma queda que supera 20% dos índices acionários americanos. Segundo estudo da consultoria financeira Bespoke Investment Group, as liquidações coordenadas das ações e dos títulos soberanos torna 2022 o pior ano para o mercado financeiro dos EUA em 50 anos.
Diante desse turbilhão, é possível pensar em investir nesses ativos? “Apenas como estratégia de diversificação”, diz Ariane Benedito, economista e especialista em mercado de capitais. Na avaliação da economista, investidores precisam ter em mente que o cenário contracionista trará mais pressão de baixa às ações estrangeiras, expondo a classe de BDRs a uma maior volatilidade no médio-prazo.
Mas para o investidor que quer enfrentar a tempestade, a recomendação é que ao menos ele leve um guarda-chuva. No caso das BDRs, a economista avalia que isso pode significar uma priorização de papéis de empresas que estão sendo negociadas com preços abaixo do seu valor intrínseco – o chamado ‘value investing’ de Warren Buffett.
BDRs de ações que pagam dividendos podem enriquecer estratégia defensiva
Entre as empresas que se enquadram na estratégia ‘value investing’ estão aquelas capazes de pagar bons dividendos, em razão de um equilíbrio de caixa bem estabelecido e resiliente à volatilidade dos mercados.
Segundo a análise do grupo bancário Julius Baer, os papéis de altos dividendos estão se mostrando mais baratos que a média, com o P/L avançado (uma variação do P/E da ação que mensura potencial de valorização no futuro) mensurado em 12,2x, patamar inferior aos 15,4x das ações globais.
Ainda assim, eles bateram o desempenho geral dos mercados em 2022 (-8,3% contra -18,5% das ações globais) e assim o fazem historicamente. Desde 1995, os dividendos são responsáveis por 44% do retorno total dos mercados nos EUA e 64% na Europa, completa o levantamento da consultoria.
No Brasil, os investidores podem ter acesso a grandes ações pagadores de dividendos através das BDRs aristocráticas e reis, evocando uma classificação feita nos EUA: enquanto as aristocráticas se referem a empresas que aumentaram o pagamento de dividendos ininterruptamente pelos últimos 25 anos, as ‘BDRs reis’ o fazem por 50 anos, e por isso são muito mais raras.
Mas afinal, quais são esses papéis? 3M (MMMC34), Coca-Cola (COCA34), Colgate-Palmolive (COLG34), Johnson & Johnson (JNJB34), Lowe’s (LOWC34), Procter & Gamble (PGCO34) são algumas das empresas de ‘sangue nobre’ que pagaram os maiores dividendos nos últimos anos.
Em 2022, o ranking da Standard & Poor’s dos EUA das 10 maiores pagadoras de dividendos inclui pesos-pesados do setor de energia como a Exxon Mobil (EXXO34) e Chevron (CHVX34), além de empresas do setor de consumo interno como a Genuine Parts & Co (G1PC34).
BDRs de growth investing ainda são preferidas
Segundo Ariane, quando se trata de BDRs, os investidores brasileiros ainda preferem maior exposição em empresas de ‘growth’, ou seja, àquelas com precificação ajustada, mas com alta expectativa de retorno futuro. Gigantes do setor de tecnologia e fintechs como Nubank (NUBR33), Xp Inc. (XPBR31), Apple (AAPL31) e Tesla (TSLA34) são alguns dos nomes que aparecem entre as mais procuradas.
O que chama atenção é que as referidas empresas, pela característica de um modelo de negócio alavancado e dependente de um custo de capital mais baixo, são as que mais devem sofrer com a contração monetária em curso: “a minha expectativa é muito negativa para essas empresas nesse momento, sujeitas à piora do fluxo financeiro. Seria mais oportuno diminuir a exposição migrando para as empresas de ‘value’”, conclui a especialista.
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