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De olho no boi: Mercado enfrenta ‘banho de sangue’, com margens negativas; há luz no fim do túnel?

25 ago 2023, 16:21 - atualizado em 25 ago 2023, 16:21
Boi Gordo Gado Agropecuária
Ao longo de 2023, o preço do boi gordo apontou desvalorização de 30%, sendo a commodity que mais se desvalorizou; o que fazer? (Imagem: Unsplash/@tumbao1949)

Os preços da arroba do boi gordo seguem em queda nas principais praças do Brasil.

Nesta semana, o destaque do “De olho no boi” fica para o “banho de sangue” no mercado, com os preços da carne recuando em todos os segmentos, com produtores e indústrias convivendo com margens ruins dentro do setor.

Para entender o retrato atual de preços, oferta, demanda e custos, o Agro Times conversou com Felipe Fabbri, analista de mercado e da cadeia de produção animal na Scot Consultoria, e Magno Cavalcante, gestor comercial de carnes, além de Fernando Iglesias, analista de proteína animal na Safras & Mercado.

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Arroba do boi gordo e preços no atacado

De acordo com Fernando Iglesias, os preços da arroba do boi gordo seguem um movimento acentuado de recuo, com baixas nos últimos 40 dias e com os pecuaristas sendo fortemente impactados.

“As margens do confinador são bastante negativas, com cenário complicado e sem perspectivas de uma ‘luz no fim do túnel’. Há um cenário de ‘banho de sangue’ com os preços recuando de maneira intensa,” avalia.

Boi Gordo – R$/@ – Safras & Mercado (a prazo) 25/ago. 17/ago. Variação (%)
SP – Bauru R$ 205,00 R$ 215,00 -4,65
Goias – Goiania R$ 195,00 R$ 205,00 -4,88
MG – Uberaba R$ 205,00 R$ 210,00 -2,38
RO – Vilhena R$ 185,00 R$ 195,00 -5,13
MT – Cuiabá R$ 195,00 R$ 203,00 -3,94

Assim, Iglesias ressalta que o momento também não favorece os frigoríficos, que, com exceção de Minerva (BEEF3), apresentaram prejuízos no segundo trimestre de 2023.

“Quando eles não lucram com os preços, os frigoríficos são obrigados a reduzir os custos. E é isso que as indústrias têm feito, o que resulta nessas quedas para a arroba do boi gordo, um cenário tenebroso para o mercado”, comenta.

O especialista diz ainda que o grande problema fica pela falta de repasses para queda de preços no varejo.

Cortes no atacado Base SP – (Safras & Mercado) 25/ago. 17/ago. Variação (%)
Dianteiro casado R$ 12,30 R$ 13,00 -4,96
Traseiro casado R$ 16,30 R$ 17,15 -5,38

“Enquanto o varejo cai 5-6%, o atacado recua 20% e a arroba do boi gordo cai 30%. Com isso, não há como haver uma melhora na demanda no mercado interno”, diz.

A desvalorização ao longo de 2023 fez com que o preço do boi gordo alcançasse o posto de commodity que mais caiu no período.

Exportações

Pensando no cenário das exportações para China, o panorama atual aponta ainda para novas quedas, com o a arroba do boi-China em R$ 200 nesta semana. “Não há sinal de melhora nos preços internacionais, muito por conta da desaceleração da economia chinesa, com o governo tentando reaquecer a economia por meio de barateamento do crédito, o que não tem resultado em melhoras concretas, com o yuan se desvalorizando ainda mais”, pontua.

Segundo Felipe Fabbri, analista da Scot Consultoria, as notícias sobre uma melhora nos preços pagos pelos asiáticos não procedem.

“Segundo os relatos, a China tem pagado entre US$ 4.900 e US$ 5.000 para os cortes dianteiros e US$ 4,3 mil nos cortes traseiros. Inclusive, os asiáticos têm tentado pressionar para baixo esses preços, pois sabem da situação de oferta de carne vigente em nosso mercado e, do lado da indústria, com o atual patamar de preços, a margem bruta medida pelo equivalente Scot Desossa (que considera a venda da carne desossada, miúdos, couro e sebo e o preço da arroba do boi) atingiu um patamar que nunca antes vimos em nossa história (36-37%), o que permitiria um possível quadro de ajuste pra baixo, se os volumes a serem comprados pelo importador forem interessantes”, explica.

Varejo

Segundo Magno Cavalcante, a semana apontou para novas compras no varejo, aproveitando o momento de queda nos preços da arroba do boi, ainda que sem grandes volumes, mas com necessidades de abastecimento dos estoques.

“Vemos o início de uma especulação para as negociações na primeira quinzena de setembro, onde a tendência dos consumidores é aproveitar a entrada dos salários e vendas promocionais”, explica.

Dessa forma, os frigoríficos negociam contra filé para venda no varejo entre R$ 29 e R$ 33.

“Com os frigoríficos retraídos quanto a compras, isso provoca uma insegurança aos pecuaristas, que, pressionados pelos custos de produção, vendem a níveis baixos de precificação”, pontua.

Qual o fundo do poço para o boi gordo?

O analista da Safras & Mercado explica que é difícil vislumbrar um cenário de melhora no curto prazo, mas o que deve ajudar o setor a ficar por conta do último trimestre do ano, que tradicionalmente implica em maior demanda.

“No último trimestre, podemos ter um momento melhor para o mercado do boi gordo por conta das festas de fim de ano aqui no Brasil e os preparativos para o ano novo lunar da China, o que resulta em maiores compras pelos asiáticos. Mas, para o momento atual, os produtores não enxergam um limite para essas quedas”, analisa.

Fabbri destaca ainda que um relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) aponta para uma queda de 5,1% na demanda chinesa por carne bovina em 2024, o que pode influenciar ainda mais o mercado brasileiro, pensando nas exportações.

Por fim, Iglesias ressalta que o momento é de extrema atenção aos produtores, já que, segundo ele, os pecuaristas não contam com tempo para brincar e precisam encontrar soluções.